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A vida alem da vidraça...

Confessado por Mulherde30, em 24.12.06

pedro moreira.jpg
Fotografia: Pedro Moreira

Fui para o Porto, ontem à tardinha… perder-me no meio de estranhos para me sentir um pouco igual, ou perder-me no meio de iguais que se sentem tão estranhos quanto eu.
As pessoas que passavam ao meu lado, apressadas, os casais de sorrisos largos e mãos juntinhas... e eu ali, de olhar vazio a sentir todas as faltas dentro de mim.

Fiz o caminho de regresso a casa ouvindo musicas que me lembram um momento, uma pessoa, uma época. A lua em quarto crescente, espreitando-me de quando em vez, para comprovar uma ou outra lágrima que teimou em cair.

Talvez a minha vida tenha que ser mesmo assim. Talvez exista isso a que alguns chamam destino, não sei. Talvez tenha que sentir sempre esta saudade do que talvez ainda nem vivi.
O que sei é que há um vazio que custa preencher, o que sei é que os anos vão dando lugar aos dias e vejo todas as lutas travadas sem vitórias.
Trago esta tranquilidade no olhar quando já não sinto a tranquilidade no peito. Trago a paz colada no rosto, quando por dentro de mim, se trava uma guerra, constante, eterna, entre o dever e o querer.
Talvez seja hora de olhar para mim, por mim.
Deixar de lado todos os medos que senti e que sempre me fizeram seguir em frente e perder. Sempre batalhas pelas quais paguei um preço demasiado elevado. E o que restou? Nada… nem uma medalha, nem um troféu, nem a memória. Sempre perdi.
E mesmo assim, mesmo assim, sinto-me uma vencedora. Lutei sempre que senti que precisava lutar... e das outras vezes, em que senti que era hora de desistir. E desistir custa sempre muito mais.
Mas mesmo assim, vencedora... talvez porque sempre me levantei a cada queda. Quase sempre mais magoada do que na vez anterior nesta ânsia louca de acreditar que talvez também eu mereça algo bom.
Mas hoje duvidei…

Fiz um caminho lembrando das palavras que não pude dizer, dos beijos que guardei, dos sorrisos que tive medo de oferecer, dos amores que tive que travar dentro do coração para que não me rasgassem o peito. E para quê?
Sempre a sentir este abismo aos meus pés, sabendo que basta um passo, apenas um passo para que quem sabe, possa voar. Com esta dor que mói devagarinho a alma e o peito, como se tivesse caído de um céu onde já não existiam estrelas que fizessem brilhar o meu olhar. Como se observasse todas as luzes do mundo pelo vidro da janela sem poder embrenhar-me por lá, e a vida, incessantemente lá fora a chamar por mim...
Como sendo sempre a hora de partir, sem nunca poder ficar. Como se não me fosse permitido viver sentindo que o mágico da vida é isso mesmo: a magia que a vida contém.
Se pudesse… se pudesse ser como nos sonhos que me sobrevoam a cada instante os pensamentos. E a vida outra vez. Toda diferente. Regressar lá atrás e fazer tudo de novo, refazer com coragem para ser, talvez, um pouco menos dolorosa… deixar sair livremente todos as palavras, os beijos, os sorrisos, todos os amores…
Quem sabe então assim…

Mas é Natal outra vez…
E recordei o lugar que ficou vago, um dia… e um nó na garganta a crescer. Não pude escolher, não me foi permitido lutar sequer. E não era suposto ser assim. Se a nossa morte pode ser um novo inicio de vida, a morte de quem amamos pode tornar-se uma espécie de fim para a vida que ainda podemos conter presa por um fio nas nossas mãos. Perdi antes mesmo da corrida começar. Tudo saiu do lugar. E precisei aprender a viver outra vez, deixando muitas vezes o que sentia escondido, para que pudesse seguir em frente. Inevitavelmente teria de ser assim, caminhar em passos vagarosos por mais terivel que tivesse sido a minha dor. E depois nada voltou a ser como era. Aprender de novo, queda após queda, mágoa após mágoa, desilusão após desilusão.
E a vida nunca mais foi assim, fácil.
Ficam as marcas da vida gravadas na pele, tatuadas na alma…

Mas é Natal outra vez…
E recordei outra espécie de amor… recordei que já não existem uns olhos que olham dentro dos meus e mergulham no meu olhar. Nem uma boca que me diz “amo-te”, sorrindo. Já não existem mãos que apertam as minhas com ternura. Já não existe um abraço apertado que me faz acreditar nas palavras, que me faz sentir mesmo muito importante e especial na vida de alguém. E já não me sinto assim, protegida por braços entrelaçados nos meus braços… em horas em que afinal tudo vale a pena. Em horas em que a vida faz todo o sentido.


Cheguei à minha cidade… as ruas iluminadas.
E senti-me terrivelmente só.


“ Sofremos muitas vezes bastante,
Para termos o direito de nunca dizer:
Sou demasiadamente feliz…”
Alexandre Dumas

publicado às 18:45


Confessionário

De mulherde30 a 27.12.2006 às 19:55

P/ TAMBOR: agradecida...b'jinhos

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