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Tudo aquilo que sou...
Houve um tempo em que me sentia quase pronta a voar, mesmo tendo as asas feridas.
Alguem me encontra de mansinho, me dá a mão, caminha comigo.
Somos dois a seguir um caminho que não sabemos onde nos vai levar, onde não se pergunta quem é o outro que chegou, chegou apenas. Somos dois com medo, mas arriscamos.
Eu vou porque sou capaz de acreditar outra vez. Não perco o receio de voltar a dar-me e perder, mas mesmo assim, vou de mão dada com quem acredito.
Dou-me devagar, para não pisar os corações já tão feridos.
E perdi. Outra vez.
Abri a porta de uma vida já tão mutilada, com medo que ao fazê-lo viesse mais dor. E quando quiz escancarar o coração já a vida estava de novo vazia, já alguem tinha ido embora sem fechar a porta.
Mas a vida é isto: perder.
Agora, aquele pedaço que dei faz-me falta. Para ocupar o espaço vazio da alma, a dor que mata devagar, para enchugar os olhos rasos de água.
Inevitavelmente chegaria o dia de baixar os braços, de deixar de lutar. Já nada há que possa ser feito. Já não depende de mim.
Esperei minutos que viraram horas, horas que viraram dias, dias que viraram semanas. Pensei que fosse aguentar mas não. Já não aguento mais. Estou no limite.
Só pedi uma oprotunidade para ser ouvida. Sinto-me ridicula e estranha por finalmente querer dizer as palavras....mas ganhei essa coragem....talvez tarde demais. Ganhei a coragem quando as palavras já não faziam a menor diferença, não mudariam nada, eram tardias. Mas rebentei-me por dentro para chegar a esse momento, à hora de dizer tudo. Mas o momento nunca chegou...
De nada vale fazer balanços, pensar que podia ter feito desta ou daquela maneira, de nada valem os arrependimentos ou agradecimentos. Estes balanços são faceis porque já não adianta, já nada muda.
Precisei de respostas para arrumar esta história. Um quase desespero por uma razão, uma. Arrumar a história e poder partir; deixar partir. Pedi demais.
E bastava-me um resto de carinho que ainda podesse existir, esquecido, num peito imenso, um carinho que me ajudasse.
Quiz falar o que ninguem quiz ouvir; quiz ouvir o que ninguem me falou. Como se a vida dependesse dos segredos que certas palavras encerram...
Como este caminho podia ser agora tão mais fácil, como tudo podia ser tão mais simples.
Os nosos pensamentos, os nossos sentimentos pouco importam num mundo que não pára para pensar se será justo.
É esta espera que me mata, me deixa numa ânsia que não me permite respirar, esta duvida que me tortura a alma carregada.
A medo arrisquei trilhar aquele caminho e mais que perder, perdi-me.
Queria de novo a sensação da plenitude de quem se dá por amor, ou por uma forma de amor. Pensar num inicio de uma história tão bonita quando afinal já tinha acabado. Pensar no fim sem saber que o era.
Acreditar no acaso.
E não sei... já não sei. Invento respostas, mil respostas e continuo sem saber a verdade.
Sento-me num banco de jardim, fumo um cigarro e vejo aquele cão vadio que se chega a mim abanando a cauda. É como eu: vagueia em busca de um carinho, de uma ternura que seja.
É sempre mais fácil virar as costas e partir que ter a coragem de ficar para enfrentar as palavras. Para entender e fazer entender. Falar. Para que a história não fique mal contada nem mal acabada.
As histórias podem ser enterradas num sitio qualquer... mas há sempre um melhor lugar para enterrar um amor que podia ter sido e não foi.
Chegou o momento de escolher: continuar esta espera ou esquecer. Luto pela segunda, estou cansada. Vou habituar-me à ausência...
Haverá uma noite em que o sono chegará tranquilo, no dia em que a esperança já tão pequena se tenha finalmente extinguido.
Sinto que a vida estagnou. São os homens que conheço e com quem não consigo estar por sentir que traio o meu coração. E sou o ser mais pequenino, mais insignificante por me sentir assim.
É por isso que escrevo, para de uma forma ou outra aliviar a dor. A impotência que nos destrói. As palavras que nos ferem...e as outras, as que vivem dentro de mim tristes e sem repouso por nunca as poder dizer.
O saber aos poucos que em certas vidas não há lugar para nós.
Vidas de pessoas que se querem primeiro encontrar... ou que se afastam para se protegerem.
E certas verdades, mesmo as mais crueis, começam a aceitar-se para tornar a vida menos ingrata, menos cruel.
Eu só precisava clarificar sentimentos. E é sempre tão dificil falar deles!
Mas está tudo aqui dentro, tudo!
Pensei que éramos o melhor par, afinal éramos ímpar.
À beira do abismo acreditei que quem me apertava a mão ia saltar comigo. Mas na hora da verdade saltei sozinha e ao cair senti-me terrivelmente só.
E mais uma vez...mais uma vez, as asas da minha vida tão frágeis, tão cristal.
Quero seguir, levantar o rosto com o orgulho de quem sabe que fez o que lhe foi permitido. E foi pouco...
É hora de lamber feridas, sacudir poeiras, enchugar as lágrimas e seguir sorrindo fingindo ser feliz.
Já perdoei o que nunca entendi. Agora falta o mais dificil: perdoar a mim mesma.
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