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Daqui a nada...

Confessado por Mulherde30, em 06.08.06

alexandre costa1.jpg
Fotografia: Alexandre Costa

Daqui a nada o Outono está aí. Daqui a nada volta aquela melancolia dos dias que não são quentes nem frios.

A esta hora em que o sol ainda inunda o quarto de luz alaranjada, numa forma meia triste de dizer até amanhã, em que já vejo estrelas e lua e o céu ainda não é negro... a esta hora que não é dia nem noite, que já não é uma coisa e ainda não é outra, sinto cá dentro, no fundo onde faz eco, que ainda não vivi o Verão.
Como se o estivesse a adiar.

Mas já não quero mais deixar para outro dia qualquer. Adiar para quando? Para quando já não o puder viver?

Falta agarrar estes dias quentes com voracidade.
Falta-me aproveitar todos os entardeceres e todas as noites com garra.
Falta-me uma paixão, quem sabe um grande amor.
Falta-me adormecer com o corpo agarrado e colado a outro corpo. Corpos suados por pingos de mel.
Faltam-me os beijos melados em cada milimetro de pele.
Falta-me caminhar de mão dada, à tardinha, na beira da praia com as ondas a brincarem nos meus pés. Ficar sentada num qualquer banco a ver as gaivotas que voam em rodopio, girando em torno de um barco que entra no porto.
Falta-me um passeio àquela hora em que o sol está quase a nascer, em que a neblina traz consigo o ar misterioso de mulher, de braços dados, no areal da Barra. Ou no paredão que se estende pelo mar.
Faltam-me todos os sorrisos, os risos e as conversas.
Faltam-me os olhares de desejo que me fazem desprender de mim e entregar-me ao prazer.
Faltam-me os abraços apertados.
Faltam-me os beijos salgados.
Falta-me libertar todos os medos, cansar o corpo para dar descanso à alma...
Faltam-me os olhares tímidos e cumplices.
Faltam todos os brindes em noites mornas celebrados no segredo.

As mãos.
Sinto a falta das mãos, agora que anoitece mais cedo e que daqui a nada é Outono outra vez.
Falta-me a entrega, o toque de pólen, o sentir todo o torpor de sentimentos à flor da pele.
Faz-me falta um chegar de mansinho que me arrebate.
Faz-me falta voar na prisão de braços que se enlaçam e entrelaçam em mim, de mãos que me puxam e me querem prender.
Faz-me falta o acordar vagaroso quando mãos inquietas tocam a apele e causam arrepio, que devagar serpenteiam na curva dos rins, nos cabelos, no pescoço. Que descem pelas costas, apertam as nádegas, que sobem pelas coxas procurando o sexo húmido. Mãos que têm na ponta dos dedos o desejo e nas unhas a furia de rasgar a pele (ou a alma?) para um gemer baixinho, para a união dos corpos que se querem de-va-gar ou na violência do tesão urgente, numa pressa de quem não quer acabar.
Corpos que libertam os beijos que tardaram e deixam voar a luxuria reprimida.


Faz-me falta saber que me queres. Mais que isso: faz-me falta olhar-te no fundo dos olhos e deixar que os meus lá mergulhem para te dizer que te quero.
Faz-me falta, sabes? Faz-me falta viver realizando as vontades que carrego em mim para onde quer que vá.
Faz-me falta o carinho e entregar-me aos pensamentos satânicos.
Faz-me falta a ternura e a loucura da paixão.
Faz-me falta...tu.
Tu fazes-me falta. Simplesmente. Sinto-te a falta sem nunca te ter tido presente. É possivel?
Como se tudo o que sinto fosse ausência de ti, uma ausência que antes de o ser era nada. E sinto-te a falta mesmo assim.


Mas daqui a nada, é Outono outra vez e como te disse, antes que termine o Verão, quero viver sem pressa e sem atraso todas as paixões.
Fazes-me falta, sim. Mas eu e tu... não somos as personagens do mesmo filme.
Eu quero uma paixão contigo. Um amor contigo. Fazer amor contigo (ou construi-lo?)...sonhos que deposito em folhas brancas de papel, como se os sonhos fossem os nossos corpos e as folhas de papel, os lençóis.
Mas nem todos os sonhos se podem realizar...

É que daqui a nada termina o Verão, daqui a nada começa o Outono. Verás que a cumplicidade se vai manter até ao dia em que já pouco importa se é Primavera ou Inverno. Verás que o maior que criámos, o nosso maior projecto, não será abalado.

Quero-te mas não te quero mais... consegues entender-me? Não posso e nem devo querer-te. Porque em ti não há lugar para mim e eu fico a esperar de longe, de coração apertadinho num egoísmo de ter os teus olhos dentro dos meus, as tuas mãos misturadas nas minhas, o teu corpo dentro e em torno do meu.
Lembras-te quando te disse que talvez os maiores amores não sejam para viver mas apenas para sentir?
Talvez este quase amor encantado seja assim.

Guarda-me dentro de ti, num cantinho onde a vida não tenha permissão de destruir, para não se desfazerem os laços nem os nós que criámos em torno de nós.
Mas é que daqui a nada é Outono outra vez e o Verão começa a despedir-se... (como eu)
E verás que daqui a nada, se doer, será baixinho.

E se alguem perguntar por mim, diz que não sabes. Ou então que fui aprender a existir sem ti, lambendo as mágoas e voando de asas feridas. Agarrando todas as horas dos dias que faltam antes do Verão terminar.

Ou diz apenas que fui viver...

publicado às 21:27


Confessionário

De karina oliveira a 07.08.2006 às 13:53

Faz-me falta saber que me queres. Mais que isso: faz-me falta olhar-te no fundo dos olhos e deixar que os meus lá mergulhem para te dizer que te quero.
Faz-me falta, sabes? Faz-me falta viver realizando as vontades que carrego em mim para onde quer que vá.
Faz-me falta o carinho e entregar-me aos pensamentos satânicos.
Faz-me falta a ternura e a loucura da paixão.
Faz-me falta...tu.
Tu fazes-me falta. Simplesmente. Sinto-te a falta sem nunca te ter tido presente. É possivel?
Como se tudo o que sinto fosse ausência de ti, uma ausência que antes de o ser era nada. E sinto-te a falta mesmo assim..."
Ai Raquel, nem tenho palavras para descrever o que realmente transmites neste post.
Tu tens tudo mulher, as tuas palavras têm um valor que nem sei quanto vale, apenas te posso dizer que valem tudo. Pelo menos para mim valem e muito.
Serei sempre das tuas maiores fãs, quer pelas palavras, quer por seres a mulher que és, quer por escreveres com o coração, com a garra de quem vive um dia de cada vez, mas que jamais consegue viver sem o amor.
E nisso minha amiga sou igual a ti. E um dos meus sonhos é apenas poder passear de mão dada, assim como descreves, à tardinha enquanto as ondas me tocam os pés...

Grande beijo e... está perfeito.

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