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Por um malmequer...

Confessado por Mulherde30, em 14.09.05

delicias-e-delirios48.jpg


Chego a casa, tomo um banho apressado, seco os cabelos, passo o creme no rosto, a loção no corpo...

Pele macia. Óptimo.
Visto a saia estampada, colorida com todas as cores da vida, camisolinha branca, sandália que aperta no tornozelo... as amigas dizem que fico sensual. Não vou duvidar agora porque nem tenho tempo.
Maquilhagem...Perfume...Colar...Brincos....Mala. OK.
Olho-me ao espelho. Gosto.


Cheguei primeiro mas sei que não vais tardar. és pontual. Fica sempre bem.
Sento-me numa mesa junto às janelas imensas para que o sol me aqueça. Fico ali a ver as gaivotas num céu que se espelha nestas salinas a perder de vista.

Vejo-te, ao longe, a chegar. Trazes os óculos escuros que gosto de te ver, a camisa preta que te salienta os ombros tentadores. Olhas para o relógio enquanto caminhas apressado. Usas relógio, agrada-me. Dá-te charme.
Quando entras, tiras os óculos e os teus olhos procuram-me. Vês-me e sorris com uma boca de lábios que apetece descobrir os sabores...e morder.
Levanto-me e tu envolves-me a cintura com o teu braço direito, com determinação. Dás-me um beijo. Só um.

Sinto-te esse perfume que entontece. Intenso, forte...perfume que fica mesmo quando já não estás.
E dizes-me:
- Esse teu cheiro...
Fechas os olhos por um instante como se quisesses guardar e eu sorrio. Sem te dizer que pensava o mesmo.
Os perfumes...as pessoas partem e ficamos-lhes com os odores.

Vais ao balcão e vejo o teu rabo que essas calças de ganga um pouco justas salientam. Rabo que apetece apertar e apalpar.

Sentados, damos largas à imaginação e rimos de nós. Fazemos filmes que inventamos só por prazer. Tens humor. Gosto.
Ris-te como quem sabe que é assim que se deve levar a vida. Tu sabes viver. Falas do que sentes sem medo e sem a minima vontade de te esconderes...e isso tambem me faz libertar.
Tens o dom da coragem e do encanto, o dom de te recusares a desistir, simplesmente.
Eu sou a prova viva de que és um lutador.

Nas nossas saídas juntos, ensinaste-me que não podemos esperar...como se soubesses que, naquele tempo, eu ainda esperava. Que no amor, se ele hoje não é retribuido, há que continuar a procura...se hoje que amamos nada temos em troca, poderá ser sempre assim. Eu não sei se será assim...

E tu aí, a lutar. Por nós dois...

Aos poucos fui-te vendo. Aqui, hoje, começo a ver-te como homem.
O sol lá fora pincela o céu em mil tons de vermelho...e aqui dentro ouvem-se musicas que nos fazem sonhar...e cá no fundo, deixo-me fascinar.
Só porque sim.

E tu deves ter notado que o meu olhar mudou. Notaste sim...olhas-me com uma ternura que ainda não te conhecia. Ou talvez tenha estado sempre aí, e eu, distraída, nem vi.
Percebo-te detalhes que encantam, que gosto de observar...e vejo os pormenores que atraem: as ruguinhas em torno dos olhos quando ris, que te amadurecem. Um ar de quem já não quer brincar às casinhas nem ao faz-de-conta. De quem sabe o que quer e mo quer dizer.
Quem sabe o digas?

Talvez hoje eu te veja realmente pela primeira vez. E tu sabes. Eu sei que sabes.
Vejo-te hoje como homem porque ontem não podia ser assim, não era o momento. Hoje é. Porque hoje já não quero resolver histórias que ontem ainda estavam por contar. Hoje já não preciso das respostas que ontem tanto desesperei por ouvir. É por isso... porque hoje já não espero. Porque fechei uma porta que tinha entreaberta há tempo demais sem saber se alguem entrava ou partia para sempre. E guardei tudo na gaveta para lembrança quando me apetecer recordar.
Hoje o meu peito, na meiguice, deixa que o teu lhe fale.

- Podíamos ir jantar à praia. Tenho fome. - dizes-me tu com um sorriso malicioso nos lábios.
(Não sei se tens fome fome, ou fome)
- Podemos fazer isso... ficamos só mais um pouco.

A luz vai deixando que as sombras se tornem quase nada...naquele momento em que não é dia nem noite...em que não é uma coisa nem outra (tantas vezes eu!)
Surgem conversas em tons sérios. Vou divagando e deixo de te ouvir. Perco-me em pensamentos satânicos.

Podíamos estar aqui só os dois, com esta luz mágica que trespassa os vidros...podia desapertar um a um os botões da tua camisa preta, mergulhar os dedos nos teus cabelos e despentear-te....cravar as unhas na pele morena, aqui, em cima desta mesa.

Ouvir-te dizer o meu nome traz-me de volta.
- Estás bem?- perguntas enquanto deslizas com a tua mão no meu braço...mãos lindas, deixa que te diga...
Aceno que sim. Acho que estou corada e não quero responder com medo que a voz falhe.
O teu toque desperta-me, faz-me arrepiar a pele, provoca efeitos secundários, faz-me sorrir.

Entrelaças os teus dedos nos meus e dizes-me:
- Vamos?
- Vamos...

Saimos dali e abraças-me.
O que me queres dizer com este abraço? Não pergunto, não quero respostas, não hoje.
A algum sitio este caminho nos irá levar...

Na viagem cantamos e embalamos o corpo (ou será a alma?)...aproveitamos a musica e colocamos umas letras bem mais divertidas e atrevidas. A musica alta faz com que a adrenalina se liberte. Excita.

Vais-me olhando de soslaio e sorris.
Procuras-me a mão, beijas, apertas contra o teu peito. Sinto o bater do teu coração.
- Sabes que te desejo?
E enquanto dizes isto, encostas o carro na berma da estrada.
- Sei...soube-o hoje.
- Sabes que não quero perder nem mais um momento?

Beijo-te...mesmo sem saber de onde me surgiu esta atitude. Onde busquei coragem? Pouco importa...
O desejo tem urgência. O tesão nem sempre pode esperar.
Há carros que passam e buzinam mas nós, nós estamos no nosso momento, pouco importa o resto do mundo. O resto do mundo é apenas isso: resto. O mundo terminou há instantes, no segundo que antecedeu a esta eternidade.

Mordo-te os lábios ao de leve, finalmente. Finalmente desaperto a tua camisa, apalpo finalmente o teu corpo duro, o teu rabo, toco os teus ombros. Finalmente despenteio os teus cabelos.
E as tuas mãos, mil, que deslizam em cada pedaço de mim.
Numa sofreguidão, no prazer, na luxuria, no êxtase, rimos.
Os perfumes tocam-se, as almas abraçam-se, os corpos entrelaçam-se.
Quero agarrar-te a pele que me escorrega dos dedos.
As luzes dos carros que passam, deixam-me ver, de quando em vez os teus olhos. E surpreende-me ver com que intensidade me olhas. Ou talvez me vejas.
Tocas-me como querendo que fique presa a ti para sempre. Beijas-me. E tu sabes...
Abocanhas-me o sexo com uma lingua mágica, como as mãos. Mil.
Puxas-me com força para ti...encaixas tão bem em mim!
A musica alta deixa que os gemidos contidos se libertem sem pudor, que o prazer nos faça contorcer o corpo.
Gosto do teu sabor.
Estar assim, de corpos suados, que sobem aos céus, descem aos infernos...que aos poucos voltam à terra. Não sei se sou eu em ti ou tu em mim...
E continuamos a rir.


Não recordo de nada assim, nada que me proibisse de esperar, de ter que ser tão na hora, tão já, tão agora... de uma loucura tão saudável ou tão insane.
Ou talvez tenha sido sempre assim e agora não sei, não lembro.

Vestimos as peças de roupa que arrancámos ao corpo...
E eu de sorriso em mim.
Olhas-me e ris-te de vontade enquanto me dizes:
- Estou cheio de fome...
- Tambem eu!
- Vamos comer?
- Vamos...mas desta vez ao restaurante.

E a Mafalda Veiga a cantar para nós...

" Vai caminhando desamarrado
dos nós e laços que o mundo faz
vai abraçando desenleado
de outros abraças que a vida dá.

Vai-te encontrando na água e no lume
na terra quente até perder
o medo, o medo levanta muros
e ergue bandeiras para nos deter...

Não percas tempo
o tempo corre
só quando dói é devagar
e dá-te ao vento
como um veleiro
solto no mais alto mar.

Liberta o grito que trazes dentro
e a coragem e o amor
mesmo que seja só um momento
mesmo que traga alguma dor.

Só isso faz brilhar o lume
que hás-de levar até ao fim
e esse lume já ninguem pode
nunca apagar dentro de ti...."

E nós ali, a escutar com atenção, para guardar tudo em nós.

Beijas-me o pescoço e dizes-me baixinho:
- Ainda bem que trouxeste saia...

E eu, ali a pensar que tudo isto foi por um malmequer... digo-te:
- Ainda bem que trouxeste um carro mais espaçoso.... e o outro, é vistoso demais!

Às vezes as cumplicidades surgem assim. Por um tudo. Por um nada.

Por um malmequer...

publicado às 23:37


Confessionário

De KARINA OLIVEIRA a 15.09.2005 às 12:30

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