Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Tudo aquilo que sou...
"Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
e que nele posso navegar sem rumo,
não respondas
às urgentes perguntas
que te fiz.
Deixa-me ser feliz
assim,
já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer enquanto
o nosso amor
durou.
Mas o tempo passou,
há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
matar a sede com água salgada..."
Miguel Torga
Hoje as palavras abandonaram-me. Não encontro nenhuma que possa exlicar ou dar sentido ao que sinto... ficou tudo tão vago, tão vazio. Logo eu que vejo as palavras como puzzles que juntas dizem tudo quando sozinhas nada valem. E hoje, num dia assim, nenhuma me diz nada.
Logo hoje que precisava delas...que os pensamentos teimam em voar para dias e noites já tão distantes e tão ontem...
Aproveito o sol e sento-me na beira do rio...e vejo que ele parece correr para um lado, quando afinal o seu percurso é para o outro, para o mar. Talvez eu seja assim tambem, teimo em contrariar as correntes que me querem levar, resisto lutando, não quero ir...deixem-me aqui a esperar.
Mesmo que saiba que a espera não tem razão nem sentido. Quero apenas ficar aqui. Porque acredito. Ainda.
Embrenho-me num livro, em histórias que não são minhas, entro em personagens para que por instantes possa viver outra vida qualquer.
E a noite chega, anunciada pela brisa que arrepia, que despenteia... e eu assim, sentada a dizer até amanhã ao sol, esperando a noite, a madrugada e a aurora...para ver outra vez o dia começar. Sem ninguem. Sem o corpo que habita o outro lado da cama, que partilha o toque, o gosto do beijo, o mundo. Apenas mais um dia. Só. Toda eu.
Talvez à noitinha, o peito se encha de estrelas e de astros, quem sabe brilhe por um momento que seja... por uma voz.
Hoje não quero as amigas nem as conversas que entram pela noite, mansas...hoje não tenho as palavras que sempre esperam ouvir de mim.
Hoje quero o silêncio...e suplicar uma e outra vez ao peito que te arranque daqui. Já não te quero cá dentro, quero tirar os teus restos ...o teu cheiro que ficou na pele, o teu riso, a voz que teimas em sussurrar ao meu ouvido.
E mesmo assim, nos meus recantos, tenho medo que tudo isso desapareça e fique nada...porque as coisas que aqui deixaste ainda são as mais bonitas de uma história que nunca chegou a começar.
Queria apenas que as imagens deixassem de estar aqui a vaguear, que não irrompessem pelos sonhos, que torturassem as madrugadas quando o sono não vem. Queria que chegassem sem magoar, devagarinho ...agora que sei que não quero reviver nenhum passado...nem sequer remexer em sentimentos já tão remexidos e revirados.
A vontade que tenho de esquecer é quase tão grande como a que tenho de nos lembrar... é que se esquecer, já somos dois. E depois quem contará os retalhos dos momentos em que o coração batia mais forte e dava aquele aperto no peito? Ninguem...
Como confissão: quero deitar nos lençóis sem cores, ouvir a musica que toca baixinho, ver a luz que entra pelos estores trazida pela lua, não me deixar embalar em pensamentos que nestes dias não me abandonam e nos quais não quero pensar, não assim...
Quero adormecer...e pensar que os toque do cetim são os teus dedos que deslizam na minha pele, devagar...
Ainda me dóis...custas-me tanto!
Porque desgasta tanto arrancar do peito a ausência, a falta e a saudade?
Nestas horas de crepúsculo, quando não é bem de dia nem de noite...quando o sol se despede devagar nesta praia quase deserta...e eu sinto a brisa fria que me arrepia a pele, tenho saudades do Verão...
Fico sentada na esplanada a saborear um gelado e a distrai-me em filmes que a imaginação faz...
Caminho pelo paredão em direcção ao mar, e não resito a olhar para trás e ver o farol, tão imponente. Quantas vezes é o alivio de corações desesperados em alto mar, quantas vezes é a esperança a renascer...como se esta luz fosse tudo o quanto lhes resta para verem de novo quem amam. Porque nas horas em que se sente o fim, só nos recordamos do amor.
Fico quieta, só a ver.
O mar que traz uma onda e outra como se fossem os dias que passam por mim (ou eu por eles), um mar solitário e triste que embala a dor numa areia morta, que lança espuma como se fossem más recordações que quer arrancar de si, que aparenta ser calmo quando lá dentro contém tantos segredos!
E vejo-o assim, num vai e vem....vai e vem....como as lembranças que trago aqui dentro de mim...
E sinto tambem todas as forças recuperadas, uma liberdade, uma paz...
Não quero que fiques assim deitado no escuro do teu quarto, fixando o vazio...não te deixes embalar por musicas que passam na rádio e que te fazem lembrar momentos que não voltarão a acontecer...não deixes que a luz da lua trespasse os estores e te faça sentir só...
E se eu, devagar, me chegasse a ti e te beijasse, ao de leve, essa boca que ainda murmura o meu nome no silêncio e no vazio das madrugadas que te parecem eternas?
E se te seduzisse devagar, na timidez dos sentidos?
E se te sentasses na cama, meio perdido nos lençóis que poderíamos mais tarde amarrotar, e me visses, assim, a despir-me lentamente para ti?
E se te olhasse com olhares de desejos carnais enquanto me chegava mais perto?
E se te tocasse no peito por baixo da t-shirt com que dormes, te arranhasse ao de leve a pele que quero rasgar?
E se, no teu tronco nu, passeasse a lingua descendo até ao teu umbigo....e subisse outra vez, até à curva do teu pescoço, saboreando o cheiro da tua pele que queima...e numa respiração ofegante, ao teu ouvido te dissesse: possui-me?
E se tocasse o teu corpo com uma ânsia cada vez maior, descobrindo cada pedacinho teu, te sugasse o sexo, te endurecesse a alma?
E se ficasse assim, perante ti... quase nua?
Que me dizes? Apeteço-te?
Quem foi que hoje pintou no céu uma lua enorme? Quem a quiz precisamente ali, num lugar tão perfeito? Quem foi?
Quem lhe escolheu a cor banca fingindo inocência? Quem lhe desenhou em tons cinza, a traços leves, o rosto de uma mulher?
E ela sempre ali...espreitando, curiosa.
A ser confidente de noites longas...
E quem aqueceu esta noite? Quem trouxe este vento quente que faz apetecer vestir roupas finas antes de sair? Para me sentir leve. Como se não quizesse arrastar comigo os pesos que carrego.
E quem colocou aqui dentro esta liberdade? Este desejo de desapertar os nós, de sentir na pele as palavras, de olhar para o céu, e ver...que alguem pincelou uma lua lá em cima?
Hoje sou livre... é por isso que vou voar.
Quem inventou uma noite assim?
Talvez tenha sido eu, nas horas em que sonho com noites quase perfeitas. Talvez tenha sido eu...
E se estiver a sonhar, por favor não me acordem...
Hoje, em jeito de confissão, quero apenas dizer que a felicidade não precisa de palavras.
Precisa apenas ser vivida.
Estou feliz.
Ponto.
Isso diz tudo...simplesmente porque sim, não é preciso razão... e se for, é só porque tenho asas para poder voar... a cada beijo, a cada toque.
E dou-me conta que alguem, muito antes de mim, descreveu o que sinto.
Deixo aqui o meu sorriso e o meu riso... só para partilhar. Só para confessar que a vida fica muito mais leve quando alguem nos dá a mão e nos faz acreditar que sim.
Outra vez... mais uma vez.
"Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu.
Tento entender o rumo que a vida nos faz tomar,
tento esquecer a mágoa...
guardar só o que é bom de guardar.
Pensa em mim, protege o que eu te dou.
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou...
sem ter defesas que me façam falhar,
...nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar.
Fica em mim, que hoje o tempo dói...
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei...
Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só...
Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado a cada lugar meu
e hoje, apenas isso, me faça acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega...
...quem não tem medo de naufragar...."
Mafalda Veiga
Chego a casa, tomo um banho apressado, seco os cabelos, passo o creme no rosto, a loção no corpo...
Pele macia. Óptimo.
Visto a saia estampada, colorida com todas as cores da vida, camisolinha branca, sandália que aperta no tornozelo... as amigas dizem que fico sensual. Não vou duvidar agora porque nem tenho tempo.
Maquilhagem...Perfume...Colar...Brincos.
Olho-me ao espelho. Gosto.
Cheguei primeiro mas sei que não vais tardar. és pontual. Fica sempre bem.
Sento-me numa mesa junto às janelas imensas para que o sol me aqueça. Fico ali a ver as gaivotas num céu que se espelha nestas salinas a perder de vista.
Vejo-te, ao longe, a chegar. Trazes os óculos escuros que gosto de te ver, a camisa preta que te salienta os ombros tentadores. Olhas para o relógio enquanto caminhas apressado. Usas relógio, agrada-me. Dá-te charme.
Quando entras, tiras os óculos e os teus olhos procuram-me. Vês-me e sorris com uma boca de lábios que apetece descobrir os sabores...e morder.
Levanto-me e tu envolves-me a cintura com o teu braço direito, com determinação. Dás-me um beijo. Só um.
Sinto-te esse perfume que entontece. Intenso, forte...perfume que fica mesmo quando já não estás.
E dizes-me:
- Esse teu cheiro...
Fechas os olhos por um instante como se quisesses guardar e eu sorrio. Sem te dizer que pensava o mesmo.
Os perfumes...as pessoas partem e ficamos-lhes com os odores.
Vais ao balcão e vejo o teu rabo que essas calças de ganga um pouco justas salientam. Rabo que apetece apertar e apalpar.
Sentados, damos largas à imaginação e rimos de nós. Fazemos filmes que inventamos só por prazer. Tens humor. Gosto.
Ris-te como quem sabe que é assim que se deve levar a vida. Tu sabes viver. Falas do que sentes sem medo e sem a minima vontade de te esconderes...e isso tambem me faz libertar.
Tens o dom da coragem e do encanto, o dom de te recusares a desistir, simplesmente.
Eu sou a prova viva de que és um lutador.
Nas nossas saídas juntos, ensinaste-me que não podemos esperar...como se soubesses que, naquele tempo, eu ainda esperava. Que no amor, se ele hoje não é retribuido, há que continuar a procura...se hoje que amamos nada temos em troca, poderá ser sempre assim. Eu não sei se será assim...
E tu aí, a lutar. Por nós dois...
Aos poucos fui-te vendo. Aqui, hoje, começo a ver-te como homem.
O sol lá fora pincela o céu em mil tons de vermelho...e aqui dentro ouvem-se musicas que nos fazem sonhar...e cá no fundo, deixo-me fascinar.
Só porque sim.
E tu deves ter notado que o meu olhar mudou. Notaste sim...olhas-me com uma ternura que ainda não te conhecia. Ou talvez tenha estado sempre aí, e eu, distraída, nem vi.
Percebo-te detalhes que encantam, que gosto de observar...e vejo os pormenores que atraem: as ruguinhas em torno dos olhos quando ris, que te amadurecem. Um ar de quem já não quer brincar às casinhas nem ao faz-de-conta. De quem sabe o que quer e mo quer dizer.
Quem sabe o digas?
Talvez hoje eu te veja realmente pela primeira vez. E tu sabes. Eu sei que sabes.
Vejo-te hoje como homem porque ontem não podia ser assim, não era o momento. Hoje é. Porque hoje já não quero resolver histórias que ontem ainda estavam por contar. Hoje já não preciso das respostas que ontem tanto desesperei por ouvir. É por isso... porque hoje já não espero. Porque fechei uma porta que tinha entreaberta há tempo demais sem saber se alguem entrava ou partia para sempre. E guardei tudo na gaveta para lembrança quando me apetecer recordar.
Hoje o meu peito, na meiguice, deixa que o teu lhe fale.
- Podíamos ir jantar à praia. Tenho fome. - dizes-me tu com um sorriso malicioso nos lábios.
(Não sei se tens fome fome, ou fome)
- Podemos fazer isso... ficamos só mais um pouco.
A luz vai deixando que as sombras se tornem quase nada...naquele momento em que não é dia nem noite...em que não é uma coisa nem outra (tantas vezes eu!)
Surgem conversas em tons sérios. Vou divagando e deixo de te ouvir. Perco-me em pensamentos satânicos.
Podíamos estar aqui só os dois, com esta luz mágica que trespassa os vidros...podia desapertar um a um os botões da tua camisa preta, mergulhar os dedos nos teus cabelos e despentear-te....cravar as unhas na pele morena, aqui, em cima desta mesa.
Ouvir-te dizer o meu nome traz-me de volta.
- Estás bem?- perguntas enquanto deslizas com a tua mão no meu braço...mãos lindas, deixa que te diga...
Aceno que sim. Acho que estou corada e não quero responder com medo que a voz falhe.
O teu toque desperta-me, faz-me arrepiar a pele, provoca efeitos secundários, faz-me sorrir.
Entrelaças os teus dedos nos meus e dizes-me:
- Vamos?
- Vamos...
Saimos dali e abraças-me.
O que me queres dizer com este abraço? Não pergunto, não quero respostas, não hoje.
A algum sitio este caminho nos irá levar...
Na viagem cantamos e embalamos o corpo (ou será a alma?)...aproveitamos a musica e colocamos umas letras bem mais divertidas e atrevidas. A musica alta faz com que a adrenalina se liberte. Excita.
Vais-me olhando de soslaio e sorris.
Procuras-me a mão, beijas, apertas contra o teu peito. Sinto o bater do teu coração.
- Sabes que te desejo?
E enquanto dizes isto, encostas o carro na berma da estrada.
- Sei...soube-o hoje.
- Sabes que não quero perder nem mais um momento?
Beijo-te...mesmo sem saber de onde me surgiu esta atitude. Onde busquei coragem? Pouco importa...
O desejo tem urgência. O tesão nem sempre pode esperar.
Há carros que passam e buzinam mas nós, nós estamos no nosso momento, pouco importa o resto do mundo. O resto do mundo é apenas isso: resto. O mundo terminou há instantes, no segundo que antecedeu a esta eternidade.
Mordo-te os lábios ao de leve, finalmente. Finalmente desaperto a tua camisa, apalpo finalmente o teu corpo duro, o teu rabo, toco os teus ombros. Finalmente despenteio os teus cabelos.
E as tuas mãos, mil, que deslizam em cada pedaço de mim.
Numa sofreguidão, no prazer, na luxuria, no êxtase, rimos.
Os perfumes tocam-se, as almas abraçam-se, os corpos entrelaçam-se.
Quero agarrar-te a pele que me escorrega dos dedos.
As luzes dos carros que passam, deixam-me ver, de quando em vez os teus olhos. E surpreende-me ver com que intensidade me olhas. Ou talvez me vejas.
Tocas-me como querendo que fique presa a ti para sempre. Beijas-me. E tu sabes...
Abocanhas-me o sexo com uma lingua mágica, como as mãos. Mil.
Puxas-me com força para ti...encaixas tão bem em mim!
A musica alta deixa que os gemidos contidos se libertem sem pudor, que o prazer nos faça contorcer o corpo.
Gosto do teu sabor.
Estar assim, de corpos suados, que sobem aos céus, descem aos infernos...que aos poucos voltam à terra. Não sei se sou eu em ti ou tu em mim...
E continuamos a rir.
Não recordo de nada assim, nada que me proibisse de esperar, de ter que ser tão na hora, tão já, tão agora... de uma loucura tão saudável ou tão insane.
Ou talvez tenha sido sempre assim e agora não sei, não lembro.
Vestimos as peças de roupa que arrancámos ao corpo...
E eu de sorriso em mim.
Olhas-me e ris-te de vontade enquanto me dizes:
- Estou cheio de fome...
- Tambem eu!
- Vamos comer?
- Vamos...mas desta vez ao restaurante.
E a Mafalda Veiga a cantar para nós...
" Vai caminhando desamarrado
dos nós e laços que o mundo faz
vai abraçando desenleado
de outros abraças que a vida dá.
Vai-te encontrando na água e no lume
na terra quente até perder
o medo, o medo levanta muros
e ergue bandeiras para nos deter...
Não percas tempo
o tempo corre
só quando dói é devagar
e dá-te ao vento
como um veleiro
solto no mais alto mar.
Liberta o grito que trazes dentro
e a coragem e o amor
mesmo que seja só um momento
mesmo que traga alguma dor.
Só isso faz brilhar o lume
que hás-de levar até ao fim
e esse lume já ninguem pode
nunca apagar dentro de ti...."
E nós ali, a escutar com atenção, para guardar tudo em nós.
Beijas-me o pescoço e dizes-me baixinho:
- Ainda bem que trouxeste saia...
E eu, ali a pensar que tudo isto foi por um malmequer... digo-te:
- Ainda bem que trouxeste um carro mais espaçoso.... e o outro, é vistoso demais!
Às vezes as cumplicidades surgem assim. Por um tudo. Por um nada.
Por um malmequer...
Soube hoje que já esqueci... vê lá tu. Só hoje.
O sol brincou à timidez...e eu, para lavar a alma, brinquei tambem. Olhei para ontem, foi ontem não foi? E recordei o que já não lembro.
Pensei em ti.
E já esqueci tudo.
Esqueci que me encantei por ti quando te vi, quando os olhos se cruzaram.
E revivi esse momento que esqueci. De como apareceste na minha vida, num momento em que o coração já estava mais ao largo...que o peito já não doía. E esqueci que acreditei em ti, quando já nem em mim acreditava. Talvez por isso não tinhas o direito...
Esqueci de quando me tocaste ao de leve no meu braço com o teu, como se quizesses comprovar que a pele arrepiava.
Esqueci de quando me deitei ao teu lado, devagar...só para não magoar os corações, talvez num instante em que as almas se abraçaram. Ou já se tinham abraçado há mais tempo e agora já não sei porque já esqueci.
Esqueci que me deitei contigo e que te dei um pedacinho de mim...e esse pedaço, faz-me agora tanta falta! Como tu...
Esqueci as palavras que me fizeram sentir que eu era o pedaço que te fazia falta para seres feliz... vê tu, logo eu!
E hoje, num caminho que percorri contigo, vejo que esqueci tudo...
Sempre tu...que me surpreendias nas tuas perguntas, que me deixavas no silencio por não saber o que responder. Por medo de rasgar conscientemente o coração.
Naquela altura, parecia-me que só tentávamos em conjunto, sermos capazes. Eu de derrubar os meus muros e tu os teus, os dois. Só queria dar-te a mão e ser capaz de saltar. Mas tu não saltaste, pois não?
Já esqueci...
Serão assim tão intranponiveis as muralhas que criamos ao nosso redor?
Tu partiste num dia em que a chuva caía teimosa...e o meu peito apertou-se porque tu não viste que ficou quase tudo por dizer. Por medo, sempre o medo. E quiz refazer todas as horas contigo, só para que as palavras que o coração falou e a boca calou, podessem, quem sabe, ser libertas. Só para que soubesses.
Vê tu.... até disso esqueci.
Esqueci das conversas de travesseiro, dos sorrisos e dos risos...dos beijos que me deste sem eu esperar.
Esqueci que me sentei no teu sofá a fumar um cigarro e a sentir a plenitude de quem se dá por um quase amor.
Esqueci que houve um tempo em que quiz apenas apertar as tuas mãos, sentir o teu abraço... saber que afinal não há acaso.
E o silencio que veio depois... até hoje. Por palavras que ficaram escondidas e guardadas como se fossem tudo. E eram...tudo o que eu precisava. Logo as palavras que te trouxeram ao meu caminho.
Só precisava da verdade, para não ter que passar horas sem conseguir dormir. Com medo que telefonasses, com medo de adormecer e esquecer tudo.
Pensei que fosse mais fácil...
Vê tu...tiraste a toalha da mesa, com um puxão esperando que todos os objectos ficassem no lugar. E adivinha? Os objectos viraram cacos, nada ficou no lugar...e tu sabias que eu tinha medo. Tu sabias...
Mas até disso me esqueci.
Esqueci que me disseste um dia para eu esperar, que nada tinha sido em vão...
Esperar o quê? Como se naquele tempo eu conseguisse fazer outra coisa a não ser esperar... sempre a esperar que talvez hoje. Talvez. Hoje. E nunca foi.
E o que é que não foi em vão? Aquilo que eu pensava que estava a começar no exacto momento do fim? Aquela cumplicidade que eu pensei existir entre nós?
Naquela altura só queria ouvir, saber porquê, resolver histórias para que pudesse fechar a gaveta e seguir em frente. Deixar de lado as amarras que sentia prenderem-me a ti.
Passei naquele hotel perdido no meio de uma floresta. Imponente. Retalhado ao pormenor pelas mãos dos homens. Mãos como as tuas, que retalhaste o meu coração.
Já não estás aqui, já não estás em lugar algum. É este meu coração palerma que pensa que andas aqui perto e chama sem cessar por ti.
Há quanto tempo! Há tanto que já esqueci...
Esqueci. Vês? Esqueci tudo... já não lembro de nada, como vês.
Esqueci que me quiz encontrar naquilo que pensei que eras tu. E no final, perdi-me. Perdi-te até a ti.
Esqueci que acreditei em tudo como sendo a maior das verdades. E o tempo provou-me que foi apenas uma grande mentira.
Hoje já posso dizer porque já não me escutas.
Hoje que já dei todas as respostas que me recusaste. E eu que só quiz ouvir.
Que é dos nossos braços? Dos abraços?
De onde surgiu este silencio-deserto entre nós? Não sei, já não lembro....
Quiz apenas clarificar sentimentos...falar do fim, quando ainda não sabia que o era.
Hoje andei pelo vale e ouço passos solitários: os meus. Já não começa a cair uma chuva miudinha que nos faz correr para o carro onde o beijo acontece, a medo. Com timidez. Caminhei sozinha no local perfeito para que a tua boca e a minha se sussurrassem...e hoje pergunto: porque seria este o local perfeito? Porque tinha que existir um primeiro beijo? Quem disse? Onde estava escrito que não li?
E beijei-te a medo...depois de ter perdido tantos outros medos que tinha em mim, que perdi por ti...depois de abrir portas, de escancarar o coração. Por acreditar, vê tu. Por necessidade de acreditar nas palavras...por querer demais acreditar em ti. E acreditei. Logo em ti...
Mas até disso já não lembro. Já esqueci...
Já não lembro que naquele tempo pensei que estávamos juntos... hoje sei que estávamos separados. E mesmo assim tenho medo de adormecer e ao acordar já nada reste.
E será tarde para te dizer o tanto que não disse.
Enrosca o teu corpo ao meu, abraça-me.
Hoje deitei a manta na relva, numa terra molhada e pensei que afinal, nunca foste tu em nada. Talvez só eu te vi assim.
Tive tanto medo de esquecer tudo...e esqueci.
De tudo o quanto senti um dia.
Foi por isso que chorei... porque me lembrei que já não me lembro de ti.
Sim...sofrem. Eu sei...
Os homens tambem sofrem. Alguns.
A duvida é muito maior do que aparenta. Como sofrem os homens?
Como exteriorizam a sua dor? Será uma dor de igual medida?
Era tão simples se pudessemos entrar nos outros, perceber-lhes os recantos que escondem do mundo, aqueles pedaços que guardam só para si... aqueles que não nos é permitido descodificar.
Há homens que dizem que sofrem. Dizem...
Aparentemente fazem sofrer sem nunca olharem para trás, surgem com um ar imponente como se isso lhes valesse o perdão do mundo.
Faz-me confusão perceber como certas atitudes não lhes pesam nem um pouco quando se olham ao espelho ou quando adormecem... (talvez porque não adormecem sozinhos, o que não lhes dá muito tempo para pensarem nas merdas que andam a fazer...)
Será que não olham para mais ninguem alem de si mesmos? Que nada mais lhes importa que aquilo que eles desejam?
E os outros? Sim, os outros...aqueles que têm sentimentos. Aqueles que sofrem por algo que nem nunca terão oportunidade de perceber...por relações que morrem à nascença sem uma explicação, sem uma palavra, apenas com uma distância fria, com ausência de palavras, de tudo. E os outros? Aqueles que deixaram crescer um sentimento só porque cometeram o erro de acreditar... aqueles, os outros, que lhes deram o carinho, carinho que agora lhes faz falta.
Olho ao redor e cada vez mais me dizem que para sobreviver ao meio temos que nos adaptar. E adaptar significa o quê? Pergunto eu.
Adaptar significa ser fria em igual medida, indiferente aos sentimentos que outros possam ter por mim, egoista ao ponto de simplesmente não querer saber, de pouco me importar que sofram...de simplesmente desaparecer? Fugir, quase sempre é o mais fácil...é isso que devo fazer?
Não creio. Sou daquelas que paga para ver...mesmo sabendo que o que vai ver a fará sofrer. Sou desse tipo, teimosa e com mau feitio. Mas preciso ver. Por isso as atitudes dizem muito mais que palavras e que olhares....e que todas essas tretas que eles ensaiam antes de sair de casa.
Incomodam-me estas atitudes... assisto desde o incio ao começo de relações que surgem ao meu redor. Ou melhor, assisto ao fim...porque afinal, nada era assim, afinal a atenção, o carinho, o sentimento, não era bem atenção, nem carinho...muito menos sentimento.
Afinal foi apenas um que sentiu...que arriscou por um despertar de emoções. Mas afinal, no final, era nada. Afinal o outro não estava lá.
Só mais um troféu. Talvez porque aquele homem era carente, sem um amor que tanto ansiava. Não esquecendo que era fiel, sensivel...e claro, acima de tudo, detestava mentiras e era muito sincero. Estes homens que dizem que sofrem...que falam de coisas grandes demais, logo eles, que são tão pequeninos...
Homens que nem por um instante têm tomates para ficar, chocar com as coisas de frente, dizer como elas são. Para pelo menos, os outros, os reconhecerem pela sinceridade. Mas não, nem isso.
Onde há os homens coragem? Aqueles que acredito que possam sofrer?
Os homens sofrem?
E nasce uma história, estranha. Em que tudo podia ter sido e nada foi...
E o que resta? Lágrimas.
A facilidade com que se gosta tanto de alguem... hoje. Amanhã já será outra qualquer. Mas a conversa será sempre igual...
Bom era que, como nos livros e nos filmes, pudessemos assistir aos dois lados... mas mesmo os homens que vou conhecendo, não os vejo sofrer assim.
Raios partam os homens que dizem que sofrem.
Mas a verdade verdadeira é que se teimar a encontrar um homem que seja realmente sincero, acabo sozinha. E as probabilidades de me cruzar com ele começam a ser a cada dia menores...
Todos dizem que esse homem existe (os homens quando estão a falar de si mesmos), mas para mim, são como gambuzinos: eu cá nunca vi nenhum.
Como confissão: os amores de Verão estão a terminar. Agora, que o Outono está quase aí, preciso emprestar o ombro às amigas que soluçam baixinho, que com uma lagrimita que teima em cair, me dizem num sorriso forçado: não te preocupes miga, eu estou bem.
Não sei se os homens sofrem, não sei como sofrem... mas tenho pena daqueles que sentem prazer em fazer sofrer.
É que agora, que tudo terminou excepto a dor, aquela dor que fará ter em cada relação que possa nascer muito mais medo de apostar, percebe-se muitas coisas que antes não faziam sentido. O tempo, mesmo que ainda curto, prova que desde o inicio fomos marionetas. Só há um problema: é que todas as respostas que o tempo traz, chegam tarde demais...já nada se pode mudar.
"Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do sol não me constranja.
Numa taça de sombras estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja...
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso..."
David Mourão-Ferreira
Hoje a chuva teimou em cair... miudinha. Tão lentamente quanto eu voltei no tempo.
Parece que o Outono está a chegar...vem aquela melancolia, aquela vontade do aconchego, do carinho, da cumplicidade.
Por isso precisei caminhar um pouco e sentir a água, devagar, que deslizava pelo rosto.
Bem que podiam ser as tuas mãos, mas não são.
Bem que os raios de sol que de quando em vez cruzavam a barreira das nuvens podiam ser os teus olhos... mas tambem não eram.
Bem que a brisa podia ser a tua voz...
Bem que o arco iris podia ser a esperança.
(E depois pensei que bem me posso deixar dessas merdas...mas esperança de quê, do quê?
Que realmente Raquel.... é que já nem tens idade para isso.)
OK....Depois do Verão vem o Outono....mas isso era no meu tempo! eheheheheh...agora já não há estações. Há tempo. Apenas. Ou sol, ou chuva, ou frio, ou calor. Mais nada.
As noites arrefecem...o que quer dizer que vai custar cada vez mais tirar a roupa. Fuck. No Verão, que apetecia, não aproveitei....agora com o frio, fica muito mais complicado.
Quer dizer.... nem posso dizer que não aproveitei. Ainda fui uns dias com coragem para a praia ventosa, toda poderosa vestida com o meu bikini ( esta palavra "vestida" é quase uma ofensa)...pronto, quase despida com o meu fio dental branco com lacinhos dos lados, teimando em me esquecer da parte de cima, o que quer dizer que usei monokini e não bikini.... magricela, linda e...digamos...apetitosa.
Pelo menos choquei as criancinhas que logo por sorte (delas) e azar (o meu) resolveram fazer uma excursão. Claro, foram mais cedo para casa...as professoras acharam que eu não estava adequadamente vestida para os olhos delas.... pois sim....se fossem professores, aposto que ficavam lá até ao pôr do sol....e o mais certo era esquecerem-se dos putos.
Mas eu não tenho culpa...até sou timida e tudo! As crianças é que não paravam de olhar para mim nem de cochicar... (espero que não estivessem a rir-se das minhas micro mini mamas)
Mas eu perdoo-lhes, coitadas... é natural que com tanta celulite, pneus e afins, não se sentissem muito bem perto de mim!
Hoje deu-me para isto....mas é só hoje, para ver se a chuva não me traz recordações de um dia assim melancólico e chuvoso, no Vale dos Fetos... em que uma paixão teimava em crescer.
Mas isso já foi há muito tempo e não me apetece lembrar, portanto, o melhor foi mesmo essa paixão ter ficado anã e não se fala mais nisso.
É que não me apetece mesmo nada....e devo dizer que ser trintona tem o seu lado positivo: já me sinto no direito de pensar apenas no que me apetece.
Mas hoje.... hoje...como me sabia bem uns carinhitos. Assim uns amassos do tipo geniais...ou quem sabe um chamego caloroso. Pronto, na loucura, uma queca...mas bem dada. Daquelas espécies de queca era mesmo uma chatice e não vinha nada a calhar.
Se está calor apetece....vem a chuva e o apetite não desce. Que se há-de fazer?
Bem que podia ter entrado no quarto....(sim, agora já escrevo no meu quarto...já tenho MEU computador....já não preciso que o mano me faça o favor... e como castigo, quando for actuar aos 3 Pinheiros lá com o DJ Peter G, como vingança, não vou. Ai não não vou, ia lá perder uma coisa dessas!....heeheheheheh)....mas como estava a dizer, bem que podia entrar no quarto, no escuro, sentir umas mãos que não me assustassem (porque agora depois dos trinta há que ter cuidado com os enfartes e nunca se sabe...), me tocassem em toque de pólen, arrepiassem a pele, sussurrassem ao ouvido umas palavras sem sentido algum... me despissem, me deitassem na cama e.... uma massagem ia bem. Posso dizer que ia muito bem....e depois, bem, depois adormecia. Cansada como ando não podia ser mais nada.
Mas para a imaginação ser quase perfeita, e se não fosse pedir muito, que fosse um daqueles da William Lawson's...mas não é aquele de cabelos compridos que ocupa quase todo o ecrã, não! É um giraço que se vê lá escondidinho atrás.... que merda, até na publicidade teimo em não ligar pêva ao actor principal.
Mas isso era bom demais...portanto, o melhor mesmo, é ir para o msn falar com as amigas.... pois é pois é pois é.... não ligaram ao que eu disse, agora, que o Verão acabou, acabou o amor. E andam as duas a chorar pelos cantos. Mas pelo menos paroveitaram...e isso sim, é o mais importante..
Como amiga que sou, lá vou emprestar o ombro, apesar do cansaço. Neste caso os olhos para as ouvir e os dedos para falar.
E como alguem me diz: desde que não boceje...
Amiga tambem é para isto, não é só para as moitas....e por falar nisso, nunca mais chega o final de semana.
Como confissão: Os dias assim deixam-me completamente fora de mim.... era nestas alturas que sabia bem ter aquele alguem a quem dar o ultimo telefonema do dia. Ou aquele alguem que ocupasse o outro lado da cama...
Esta chuva!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.