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Obrigada... de coração.

Confessado por Mulherde30, em 20.03.07

LANY COSTA.jpg
Fotografia: Lany Costa


Estou quase pronta. Fechei a mala e percebi que preciso de tão pouco, afinal.
Levo tudinho dentro de mim. Tudo.
Ainda bem que não pesam o coração no aeroporto... odiaria ter que deixar bagagem. Deixar memórias... sem memória, sou nada.
Agora, resta-me esperar a hora de partir.
Não sei se demorarei uma semana, um mês, um ano. Não sei se voltarei.

Queria dizer-vos que ao longo de todo este tempo, foram importantes para mim.
O que sempre pretendi com tudo o que fui escrevendo, era saber como outros viam e sentiam. Ver o mundo por outros olhos... e agradeço-vos. Porque muitas vezes, talvez sem saberem, me aliviaram o peito.
Não quero atravessar mares e desertos sem vos dizer que mesmo nem vos conhecendo, levo-vos a todos comigo e o quanto são importantes para mim.
Que me ajudaram nas horas em que a vontade de chorar me apertava o peito, riram comigo sempre que na boca se rasgava um sorriso.
Obrigada.

Eu vou... mas volto. Se for loucura, poderei sempre regressar. Mas tenho a certeza que me fará crescer.
Até lá, tenham coragem. A vida, não é tão ruim assim... algures, há sempre os braços de um anjo onde podemos repousar. Mesmo que seja longe daqui...


ANGEL - Sarah McLachlan

publicado às 20:07

Viagem ao centro de mim...

Confessado por Mulherde30, em 18.03.07

mulher.jpg

A vida é apenas uma viagem. Solitária…

Futuro trabalho: desempregada.
Primeira ideia: estou fo****.
Segunda ideia: que se fo**.
Terceira ideia: vou embora.

Primeira pergunta: para onde?
Primeira sensação: aqui sou nada. Posso ser nada em qualquer outro lugar.
Primeiro pensamento: vou incendiar-me para depois renascer das cinzas, procurar abrigo onde todos os anjos dormem.

Segunda pergunta: Porquê?
- Porque sim. Porque quero. Porque preciso.
- Já não há nada de novo aqui.
- Sei que na distância terei outro discernimento.
- Talvez na saudade encontre um caminho.
- Talvez consiga abandonar o amor que não quero sentir.
- Olhando de longe, talvez perceba onde estou a errar.
- Tentar. Mais não seja para descobrir que o meu lugar, afinal, é aqui.
- Porque não quero morrer só porque estou viva, isso é comum. Quero morrer enquanto vivo.
- Porque, acima de tudo, só se vive uma vez, mas se for da melhor maneira possivel, uma vez basta.

Vou sozinha. Procurar por mim lá longe. Quem sabe me encontro? Talvez na distância perceba quem realmente está perto de mim.
Não sei… não sei porque vou. Sei que não posso continuar aqui a assistir a vida a desabar sem nada poder fazer. Mas posso, afinal posso. Posso partir, sempre. Posso ser livre dentro de todas as prisões que tenho dentro de mim. Mesmo que nem saiba bem o que fazer com esse ser livre que existe em mim.
Talvez por tudo, por nada. Recomeçar como sempre fiz afinal.
Preciso domar este coração selvagem. Mesmo que não credite que isso é possível. Ou pelo menos ensiná-lo a não dar tanto de si, a não me bater acelerado no peito, revoltado. A não ficar triste por tudo o que dá sem receber.

Sei que sentirei saudade. E tenho a mesma certeza que essa saudade me fará bem. Para saber. Para aceitar todos os fins que me impõem. Todas as causas pelas quais não me deixam lutar. Conformar-me com o que decidem por mim. Aceitar, abandonar numa qualquer berma de estrada e seguir.
Porque sou pássaro que voa para lugar algum, porque tenho asa ferida e mesmo com apenas uma asa, atrevo-me a voar. Se cair, será ao tentar levantar-me.

Sei que nem sequer tenho idade para me deixar guiar pelo sonho, pela aventura. Apostar as fichas que tenho e partir, abandonando o que conheço e o que tenho. Sei que supostamente devia ficar e encontrar um trabalho. Mas o que faço, é ir embora sem pouco me importar com isso. Invisto o que tenho numa partida que nem sei se terá regresso. Preciso ir para ver, sentir, cheirar, conhecer.
Vou, depois logo vejo.
Encontrar respostas, talvez, que aqui, perto de tudo o que quero, embalada em sentimentos, não consigo.
Vou. Apenas. Deixo-me ir numa viagem tão só quanto aquilo que sou, carregando tudo aquilo que amo. Talvez seja loucura… mas sinto que preciso ir.
Tenho medo, mas esse medo só me faz seguir em frente.
Todos os passos que damos, sozinhos, sempre são mais penosos. Acompanhados, tudo fica mais fácil. Mas nada que vale realmente a pena é fácil, por isso preciso fazer isto assim, sozinha. Vou comigo. Aliás… os meus últimos anos têm sido assim.
Caem as lágrimas porque preciso ir e nem sei se quero. E ao mesmo tempo quero tanto mas não sei se será isso que preciso. E parece-me ver toda a minha vida resumida a um simples "não sei". Mas um “não sei”, é tão imenso, contem em si tantas respostas que possivelmente até sou eu que não as quero aceitar. Mas nem isso sei…
Mas já nada me move. Decidi e não volto atrás. Porque algo cá por dentro me diz para partir. Atravessar oceanos e continentes para perceber, no outro lado do mundo, que tudo fez sentido, que nenhuma luta minha foi em vão. Partir de coração pesado e voltar depois renovado, renascido da cinza, leve e livre. Com espaço para que entrem em mim novos amores, para me permitir sentir o que já não lembro, ou pelo menos, viver as histórias, dar-lhes uma continuidade. Por uma vez que seja, que não fiquem apenas histórias suspensas.


Inicia-se uma nova época. Uma outra etapa. Da mesma forma que me começou um novo caderninho, na mesma forma que se inicia a Primavera.
Março, sempre foi mês de mudança na minha vida. Este, não podia ser diferente.
Pago para ver. Porque sou crente, porque sempre acredito que é possível.
Sinto-me perdida, confusa, sem norte. Sinto-me perdedora de todas as lutas que travei. Sinto-me desorientada e não percebo o rumo que sigo, sempre que olho para os caminhos que decidi seguir. Sou um elefante numa fila indiana… sigo atrás de quem tem as costas voltadas para mim, em vez de olhar para trás, ver quem me segue, fielmente, quem vem no meu encalço.
Um dia, inevitavelmente, seria assim. Num quase desespero, numa vontade que nos rebenta os muros do peito e nos faz arriscar, sorrindo e chorando. Saltar, criar asas e tentar voar.
Talvez seja fugir… mas sei que todos os amores grandes, um dia, nos fazem voltar. Sei que mesmo que fuja, levo comigo todos os momentos felizes para sempre os recordar com ternura. Só não quero fugir de mim… do que sou.
E se for apenas uma fugitiva, que nunca parta pensando que de longe, não vou lembrar.
E se chorar, que todo o céu se cubra de astros e estrelas, para ter a certeza que algures, quem sabe, alguém pense em mim, com carinho…

Como confissão: A todos que estão e estiveram desse lado… Aos que conheço e a todos os que se mantêm no silêncio das sombras, quero dizer-vos que no meio de todo o meu “não sei”, tenho a certeza que vos vou sentir a falta.
Na minha ausência, falem-me sempre, como se eu estivesse aqui. Orem por mim…
E mantenham-me a casa limpa, perfumada e arrumada, para me receberem um qualquer dia destes, talvez quando já nem lembrarem quem sou. Que se conseguir, vos dou noticias. Se não, quando voltar, falarei de tudo o que vi, o que senti. Se um dia voltar…

E perdoem-me a loucura, se poderem... mas "metade de mim é amor, e a outra metade, tambem."


O porquê deste video... pela musica e pelas imagens de um filme que um dia vi, que me fez gastar uma caixa de kleenex por tanta lágrima que chorei como Madalena arrependida. Pela coragem que precisamos ter para saltar e começar a viver. E pela força que nos vem de dentro, que nos obriga a seguir lembrando tudo o que se sentiu, por mais terrivel que tenha sido a nossa dor.

publicado às 23:07

Metade daquilo que sou...

Confessado por Mulherde30, em 15.03.07

point of view.jpg
Fotografia: Point of View

___________________________METADE__________________________


"... E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a musica que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que triste.
Que o homem que amo seja para sempre amado mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a unica coisa que resta a uma mulher munida de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convivio comigo mesma, se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflicta em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais que uma simples alegria para me fazer aquietar o espirito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a vida nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguem a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é plateia, e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada...
Porque metade de mim é amor. E a outra metade... tambem."

(Autor: ?)

publicado às 20:47

Encontra-me...

Confessado por Mulherde30, em 11.03.07

ponte de rio.JPG
Fotografia: Raquel

Daqui a nada, é Primavera outra vez...
Procura-me, enquanto não chega a Primavera. Procura-me nas palavras, nos livros, na corrente de um rio, na água do mar, nas areias da praia.
Procura-me na distância, na saudade, no que nunca chegou a ser.
Procura-me em ti, talvez esteja lá.
Procura-me nas coisas simples que se sentem, nas cores, nos odores, nos risos.
Procura-me nos sons de musica, num dar de mãos.
Procura-me no céu negro, nas estrelas, numa lua redondinha, de tão cheia.
Procura-me num olhar que te consegue ver.
Procura-me no azul do céu, num voo de gaivota, nos raios do sol.
Procura-me... talvez assim, um de nós, me consiga encontrar.

Agora, que daqui a nada é Primavera outra vez, já só espero que brotem as flores, da árvore que plantei. Só para não sentir que tudo o que foi cuidado com carinho, tenha sido em vão.
Enquanto isso, resta-me viver a vida, o melhor que sei...



publicado às 19:23

Um dia comum...

Confessado por Mulherde30, em 11.03.07

johannes barthelmes.jpg
Fotografia; Johannes Barthelmes

10.00 – Toca o despertador. Juro que um dia, ainda o mando pela janela.
Um duche, o pequeno-almoço. Estou sozinha em casa, hoje.
Um sol de plena Primavera brilha lá fora. Calças de ganga, ténis, camisola em tons alaranjados, brincos. Nada de maquilhagem. Não me apetece e a noite foi longa. Um creme de rosto e estou perfeita. Mala de tiracolo, óculos de sol, entro no carro, ligo o rádio e sigo caminho.

11.00 - Esplanada, café, cigarro, jornal.
Uma ida à feira. Alface, tomate, cenouras, pimento vermelho.

12.00 – Almoço: creme de cenoura. Tostas com patê de delicias do mar. Uma maçã Fuji, uvas Red Globe.
Lava-se a louça. Começo nas limpezas. Detergentes, panos e esfregões. Mistolin da loja dos 300 é milagroso nas gorduras.
Troco de roupa. Fato de treino, a maratona vai ser longa.

14.00 – Tiro cortinados, lençóis, toalhas. Máquina de lavar. Sacudo tapetes, deixo-os estendidos ao sol, como cobras. Arrasto móveis, troco tudo de sítio. Queria mais luz neste quarto. Tiro o colchão. Mudo capa de edredão para laranja forte, alegre. Limpo paredes, vidros e candeeiros. Aspiro, limpo o pó, esfrego o chão, de joelhos.
Casa de banho… óptimo. Cif com lixívia. Aqui vou esfregar cada azulejo, um a um.
Gavetas… as das roupas dificilmente estão em desarrumo. Gaveta das meias de algodão. Gaveta das meias de Lycra, de ligas e de fantasia (gosto desta gaveta, da fantasia). Gaveta das asa delta coloridas. Gaveta das tangas rendadas, arrumadas por cores. Gaveta dos soutiens para qualquer apetite. Tudo arrumado. É pena… se estivessem desorganizadas, ocupava-me um pouco mais. Seguinte.
Chego àquela onde guardo tudo o que não é preciso mas que tem valor e é importante. Não me decido a pôr nada fora. Continua tudo lá. Bilhetes de cinema, caixas de fósforos, pacotes de açúcar, números anotados em papel que nem sei de quem são, os bilhetes que me deixam no pára brisas do carro, canetas, isqueiros, pensamentos soltos, porta chaves, velas de aniversário, convites de casamento, um relógio, uma pilha, lâmpada, preservativos, cornetas, línguas da sogra, apitos, flores secas, cartas, a minha aliança de casamento, uma bíblia pequena, uma foto onde estou de sorriso preso no tempo e uma boca que me beija a cabeça que não sei de quem é.
Tudo coisas que não fazem sentido e que guardo mesmo assim.
Estendo a roupa, passo outra a ferro, guardo-a.
Faço a cama de lençóis lavados, às bolinhas de várias cores.
Ordeno os CD’s e os livros como sempre quero que estejam e que nunca mantenho.
Toca o mesmo CD repetidamente.

18.00 – Vou lanchar. Cerelac. Com leite.
Respondo a algumas cartinhas que tenho pendentes na caixa de correio.
19.00 – Supermercado. Cera depilatória. Bolbos de tulipas. Um vaso. Uma fila só para pagar isto. Tortura. As crianças nas birras atiram-se para o chão. Um homem atrás de mim pergunta à mulher que o acompanha: mas para que é que levas isso?
Gosto de tulipas. Têm uma beleza que dura pouco, mas existe, fica depois para sempre na memória. As cores. O formato simples e delicado. Frágil até. Enquanto espero leio as indicações. Para florir na Primavera, plantar no Outono. Mas tenho a certeza que as vou fazer brotar antes do Verão. Como em tudo o que se semeia, sempre depende da fertilidade da terra. Num mau coração, dificilmente nascem bons sentimentos. Distraio-me a pensar nisso enquanto não chega a minha vez.
Encontro um amigo. Um café expresso ao balcão, põe-se a conversa em dia e lá vem a pergunta:
- E tu? Continuas sozinha?
- Nem sempre. Há dias em que estou mais sozinha que outros.
- Parece impossível…
Deixo a conversa por aí. Motivos há mais que muitos. E nem sequer quero entrar em detalhes.
Regresso a casa.
20.00 - Água a ferver. Corto tomate, pimento, cenoura, cebola, alho e com azeite coloco ao lume. Misturo o miolo de camarão, cogumelos, atum, ananás. Tempero. Junto natas. A água já ferve, junto o fusilli. Vou barrando pedaços de pão com manteiga enquanto apura o jantar. Aqueço um pouco do creme de cenoura do almoço. Faço salada.
Preparo a mesa. Uma vela, copo de cristal. Uma garrafa de vinho verde que me custa a abrir. Está pronto. Misturo a massa com uma mistela que cheira bem numa travessa que combina com os pratos.
Como a sopa, ouço os Finger Tips e delicio-me com a massa. Bebo um pouco de vinho.
Arrumo tudo. Outra vez.
Uma mensagem: Olá mulher linda. É hoje que tomas um café comigo ou já tens compromisso?
Respondo: já tenho compromisso.
22.00 - Depilo a caniche. Estilo brasileiro. Dizem. Eu digo que é ao estilo Raquel e que dói como o caraças.

23.00 - Encho a banheira de água quente. Mergulho e deixo-me ficar. Fumo um cigarro e envolvo-me no nevoeiro que se acumula. Abraço-me e finco as unhas na pele. Toco os seios, em jeito de pólen, os mamilos endurecem. O percorrer das gotas de água, num deslize suave sobre a pele que provoca um arrepio e o torpor dos sentidos.
Deixo de pensar, de sentir, de existir…
Fica em mim o cheiro a Dove de noz de macadâmia. Passo um creme no corpo, visto roupa interior em rosa choque, um pijaminha de algodão. Podia vestir uma dessas camisinhas que não resisto a comprar, transparentes e sensuais. Mas depois vou sentir frio. Opto pelo pijama cor de laranja. Cor da coragem. Seco os cabelos. O que resta deles…
Esforço-me e dou um jeito às mãos tão massacradas hoje.
Vou à varanda. Olho o céu. As estrelas tão perto.
A noite está deliciosa. Noites assim, sempre fazem despertar em mim desejos de pele, de encontro, de ternura. Ou selvagens e urgentes. Tentações da carne, da pele e da alma.
Acendo a lareira. Não está frio, pelo contrário. Mas apesar da noite amena, preciso de um aconchego. E sempre me sinto assim, à lareira. A ouvir o crepitar da lenha, as cores do fogo, as sombras nas paredes.
Não quero televisão. Não me sinto inspirada. Duas pinceladas no quadro e desisto. Não me apetece. Sinto-me num embalar doce e embriagado que me faz desejar fazer nada. Fico a ler “Kafka à beira mar” de Haruki Murakami.

00.30 – Sento-me ao computador. Estou estourada. Não é fácil o caminho por onde me obrigo a seguir. A disciplinar o coração e a boca. Estou a aprender, pelo menos. A esconder os pensamentos e a deixar de falar dos sentimentos. Principalmente dos que vão alem do que conheço. Daqueles que não consigo explicar, que não lhe sei o nome. Por isso os calo em mim. Silencio-os. Ou são eles que já são silêncio porque alguém os calou. Aceito-os, mesmo sem saber o que são, sem entender o que fazem cá dentro de mim.

Em menos de nada, mergulho no cheiro a coisas limpas. A minha alma também podia ter ido à máquina de lavar.
Vou deitar-me e tentar dormir. Fechar os olhos para que, quem sabe, veja tudo melhor. Num vale tranquilo de lençóis, onde os pensamentos são livres e o coração deixa de ser meu. E tudo fica muito maior e muito alem do horizonte que posso alcançar.

Cansei o corpo… e vês como não pensei em ti?


publicado às 00:42

Dia Internacional da Mulher...

Confessado por Mulherde30, em 08.03.07

mulheres.jpg
Fotografia: ?


Dia Internacional da Mulher.
Nem todas as mulheres são Mulher. Mas hoje, o meu pensamento vai ter com todas aquelas que o são.


Às mulheres que choram enquanto cantam aos seus filhos canções de embalar.
Às mulheres que colocam quilos de ternura em tudo o que fazem e gramas de carinho em tudo o que dizem.
Às mulheres que sorriem ao mundo quando o mundo já as abandonou.
Às mulheres que não baixam os braços e nem sequer deixam de lutar.
Às mulheres de coragem que abraçam o amor.
Às mulheres que esperam de peito apertadinho e seguem a vida num desgaste de quem luta constantemente contra a maré.
Às mulheres que são maiores que o significado que a própria palavra pode conter.
Às mulheres que acreditam no futuro de todos os sentimentos bons.
Às mulheres que arriscam seguir o coração, mesmo sabendo que o preço a pagar será sempre maior.
Às mulheres descriminadas. Às que lhes silenciam as palavras, lhes calam a verdade.
Às mulheres que nem sabem o que significa liberdade.
Às mulheres que, apesar de tudo, se sentem felizes por viver, sempre que sentem um pôr-do-sol, um abraço, uma gota de orvalho, um sorriso, um rumor de rio sem corrente, um amigo.
Às mulheres de fé, que sabem que tudo vai melhorar.
Às mulheres que amam em silêncio ou que gritam o seu amor.
Às mulheres que riem por tudo, que choram por nada.
Às mulheres que carregam em si, um universo de mistérios.
Às mulheres que trazem consigo o sentimento de gratidão por tudo o que têm, mesmo quando a vida não lhes sorri.
Às mulheres que partilham a vida sem nunca se arrependerem.

Às mulheres que são, simplesmente, Mulher.


“A todas as mulheres que amam e sabem esperar. Para todos os homens que querem, mas não as sabem guardar.”
Margarida Rebelo Pinto


publicado às 20:02

Queria falar-te...

Confessado por Mulherde30, em 01.03.07

distancia.jpg
Fotografia: Gonçalves


Apago a luz. Deixo-me envolver pelo luar que me chega pelo vidro da janela. Fico sossegada, a ver pontos brilhantes no céu. Estrelas… tantas. Tão distantes e mesmo assim, mesmo assim, parece que basta colocar-me nas pontas dos pés para roubar uma que dê brilho ao meu olhar.

Assim no escuro, só quero deixar de sentir. Adormecer como que embalada nas asas de anjo e ao acordar, que tudo fosse diferente. Conseguir perder-me em corpos estranhos nas noites perdidas que sucedem os dias, sem sentir depois, um travo amargo na boca, a errado. Abrir de vez as portas que mantenho entreabertas há tempo demais. Pelo medo de tentar e perder, pelo medo de arriscar, ao mesmo tempo que vem cá de dentro algo inexplicável que me diz para ir, para não ter medo de perder o pé, para saltar e deixar-me cair. Escancarar o peito e gritar o que sou. Sem pensar que fico exposta, delicada ou carente.


Esta noite não quero uma música que toca baixinho, que põe à prova os meus sentidos. Desligo o telefone porque não quero ouvir a voz dos outros. Não quero água quente em banhos demorados, nem luz de velas, nem desejos satânicos a povoarem-me os pensamentos. Não quero um café nem livros no regaço. Não quero nada mais além de mim, não quero outras histórias, outras vozes nem outras vidas.
E deixo-me ficar assim, ouvindo de quando em vez os sons dos bichos nocturnos. Quieta. Também eu animal da noite.
Quero silêncio. Para me ouvir. Para assimilar os dias intensos e perceber o que sinto. Para entender, ou simplesmente aceitar. Talvez, quem sabe assim, no silêncio, possa escutar o que o coração me grita desalmadamente, sem sossego…

Queria dizer talvez, que tenho a vida presa nas mãos vazias. Que amanhã não estarei aqui e tudo ficará num lugar escuro, como se nunca nada tivesse existido antes. Tudo o que sonhei, o que desejei e o que vivi. Resumido a nada.
E nesta vida à qual me agarro, há horas em que nada posso fazer. Como se nenhum gesto houvesse para mudar o rumo das coisas, percorrendo o mundo fingindo que navego. E de repente sou vagabundo, rei num palácio de cristal. Uma vida tão cheia, sentindo-me eu tão cheia de nada. Aceitando quando os outros decidem essa vida por mim. A revoltar-me quando me dizem que o que tiver que ser, será. Como se existisse um destino cruel que me obrigasse, de um lugar que não alcanço, a viver em função da sua vontade. E cá dentro, não aceito. Não quero isso para mim. Eu posso escolher… mesmo que muitas vezes as minhas escolhas passem pelas escolhas dos outros. Falar de quando me sinto me errada e perdedora, quando nada bate certo.
E as horas em que aceito a vida assim, conformada, quando só me apetece gritar-lhe, contrariar o mundo, revoltada, e dizer-lhe que não, que não é bem assim. Dizer-lhe que eu sou capaz, que a vontade faz metade do caminho, que é possível. Mas olho ao redor. E afinal, estou sozinha. Já nada fica tão simples …

Queria falar das horas em que amarro a vontade de chorar. Que sinto um nó na garganta, um aperto no estômago que sufoca, como uma angustia que mói devagar. Ou falar de quando me rendo às lágrimas, vencida. Dizer que muitas vezes choro por me sentir feliz e outras rio com uma vontade que me rebenta por dentro, de chorar.

Queria falar do que sou. Daquilo que vai alem do que os olhos do mundo conseguem alcançar. Que sou mar revolto em dias de tempestade, mar calmo que apazigua o peito, que sou palavras e imensidão. Que estou viva e envolvo as mãos na terra onde planto girassóis para depois pintar na janela o sorriso da alma.

Queria falar das crianças que não tive, desse amor que não dei, que não conheço, que não sei como é. Desse amor maior, que nada espera. Dizer que não construí um lar recheado de cumplicidade porque não me foi permitido. Que sou anjo ferido na asa, que não posso voar.

Queria falar da coragem que carrego algures e por vezes não sei onde está. Ou das horas de fraqueza, quando dou por mim a seguir caminhos por onde quero, mas não devo ir.
Queria falar das coisas grandes que trago em mim. Das boas e das outras… de tudo aquilo que por ser maior não se pode quantificar. As coisas que sinto, apenas porque sim. Sem motivo, sem razão.

Queria falar da religião que não tenho, ou da fé que não me abandona. Que sempre me faz acreditar na possibilidade do impossível. Que me faz lutar por causas perdidas apenas porque acredito, outras vezes desistir quando já não tenho força ou percebo que certas lutas, afinal, não valem a pena.

Queria falar da solidão que carrego, por sentir que me faz falta a outra metade de mim. Ou apenas dizer que há momentos em que o tempo me prova que não volta atrás e que eu já nem sequer quero seguir em frente. Porque me vejo em encruzilhadas sem saídas que não me deixam escolher. Das horas em que não é tanto assim, que não estou só, que se estou, me habituei. E deixo de pensar nisso.

Queria falar das oportunidades que me recusaram, que eu recusei, e das outras, que neguei. Falar dos momentos em que só desejo outra chance da vida para voltar atrás e quem sabe, fazer tudo outra vez. Re-fazer. Re-sentir. Re-viver. Mas na plenitude, no melhor daquilo que posso ser.

Queria falar de todos os amores que carrego no peito. Dos que senti sem viver, dos que podiam ter sido e não foram, das esperas onde me vi esquecida. Dos amores grandes e dos encantos. Dos arrebatadores que nos levam a alma e dos envoltos em algodão doce. Das saudades que sinto de todos os amores que ainda não vivi. Dos que não vivi porque não me permitiram, dos que desisti por me obrigarem a deixá-los partir. Dos amores que morreram à nascença, dos amores com um fim determinado, antes ainda de existirem. Dos que não se tentaram, dos que ficaram no escuro de quartos de hotel que nunca viveram a luz, que ficaram nas sombras. E na memória. Dos homens que nunca consegui amar, dos que nunca consegui que me amassem. Dos que amei e perdi. Dizer baixinho, no silêncio, que a linha que separa o querer bem do querer demais, é ténue.

Queria falar que sou pássaro que voa solto para lugar nenhum. Que o meu coração é triste, mas livre e que o meu olhar não pertence a ninguém. Da liberdade que sinto e não sei o que quer dizer, nem o que fazer com ela. Das horas que estendo as asas ao vento e plano lá no alto do mundo, misturada no azul altivo do céu, mergulhando no profundo azul do mar. E falar das outras horas em que sou apenas uma alga sozinha e esquecida, perdida na orla da praia depois que baixa a maré.

Queria falar da vontade de partir. De fugir. De continuar a ser nada em qualquer outro lugar. Ir embora sem olhar para trás. Desprender-me da vida como a conheço e deixar-me levar, para longe. Abandonar-me numa qualquer berma de estrada, esquecer-me e seguir sem nunca me arrepender. Sentir que não devia, mas fiz. E renascer, depois.

Queria falar de quando sou frágil, quando preciso do abraço apertado que não tenho, quando sinto o desejo do amor não existente. Da angustia que corrói o peito, devagar. Como se começasse a morrer muito antes da vida terminar.

Queria falar de quando sou jangada à deriva no alto mar, quando o céu é negro de nuvens carregadas. Quando as ondas me ameaçam derrubar e eu, sem bússola nem porto seguro, me deixo ir. Agarrando-me àquilo que sou, cá por dentro, acreditando que a vida não pode ser só isto. Que a tempestade, irá passar.

Queria falar dos muros que o medo constrói em torno de mim, das amarras indeléveis que me prendem. E das muralhas em torno dos outros, das quais me sinto refém, mesmo estando do lado livre da barreira intransponível. Falar dos nós e dos laços que nem sempre nos deixam voar, que vivemos entrelaçados como braços que nos agarram e não nos deixam soltar. Os nós do medo… que nos aprisionam e sem darmos conta, prendem os outros que já se sentem prontos a voar.

Queria falar das coisas grandes que não me cabem no peito. Falar que estou confusa e triste… que faço mantas de retalhos de memórias numa forma vã de não chorar.
Queria falar de coisas que não se dizem, mesmo querendo. Do que é imenso e não existem as palavras certas para explicar. Porque as coisas grandes exigem palavras ainda maiores, e são pequenas, as que conheço.

Queria falar mas não o faço. Fico no silêncio a ouvir o que tenho a dizer, a escutar-me. A procurar-me. A tentar perceber onde me perdi.
Queria falar mas nada tenho a dizer. Não tenho voz nem vontade. Não encontro as palavras que perdi. E cansada, acabo por desistir.

Juro que queria falar… de amor e de tudo que é sublime… mas não sou capaz.

publicado às 20:30


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