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Tudo aquilo que sou...
Tu ouves mas não sabes...
Não sabes o que é gritar sem ninguem te ouvir. Quando te nasce por dentro a revolta que te mói devagar até te amarrar como ferros de fogo.
Quando não pedes uma segunda oportunidade, quando apenas queres poder viver esta que já tens e o mundo te vira as costas.
Quando já escolheste e não te deixam seguir caminho.
Quando todos os dias são iguais e te sentes, repetidamente a cometer um erro igual ao de ontem e tão parecido ao que vais cometer amanhã.
Quando cometeram injustiças contigo e agora o injusto és tu.
Nesa luta que se trava no teu peito, enquanto és presa ou depois predador, quando ganhas ou és perdedor. E a vida inteira a chamar por ti e toda ela contra ti.
E a perceberes qual foi o momento em que fizeste tudo errado, quando desesperadamente querias fazer o certo...
E envelheces assim. Nessa luta ainda e sempre dentro de ti. Luta dos espiritos rebeldes sem perceberes que toda a vida se resume aos erros repetidos que cometemos. Aqueles com que aprendemos e os outros. Aos momentos em que rimos dos erros ou chorámos por eles.
Os que se transformaram em coisas boas e os que nos deixaram as feridas no peito.
Mas no fim, não são sequer os erros que cometeste que importam. Mas sim tudo o que fizeste depois disso. Porque não deixaste de lutar, nem contra ti nem contra ao mundo. Mesmo quando te revoltaste contra a vida e lhe respondes-te: fo**-te. Como se fosses desistir...
Pelo amor. Amor à vida. Por esse amor que carregas nesse coração enorme que talvez te transborde do peito. Pela coragem. Por saberes que inevitavelmente deixar de errar é perder todo o sentido que a vida incerta pode conter.
Como confissão: nem te dês ao trabalho de perceber o que te disse. Nesta confusão em que hoje estou cá por dentro, nem eu consigo entender-me.
- Rasga-me a roupa.
_________________»silêncio«_____________
- Prefiro rasgar-te a pele para te chegar à alma...
A música preenche o silêncio.
E sabe tão bem, do nada, preenchê-lo assim.
Deixo-me levar
e se fechar os olhos, quase sinto na pele esse leve beijo. Mesmo que triste.
E de repente alguém que do nada, me dá a mão e me embala docemente a alma.
Alguém que sem saber me faz recuar no tempo. Voltar a uma época muito mais despreocupada. A uma época em que me via no topo a ver o meu pequeno mundo dormir.
Como se do nada, abrisse o baú de memórias, escondido por um véu lilás e descesse sobre mim, manso e macio roçando delicadamente a pele da saudade, como anjo.
E ouvir uma música que um dia sentia a embalar o meu destino como se tivesse dedos finos. Quando ainda não sabia que não existia destino. Ou que se existe, melhor não pensar para nunca deixar de lutar.
Re-pensar todas as voltas que dei sem nunca sair do lugar. Re-sentir todas as coisas que de grandes, não cabem em palavras. Re-viver tudo o que houve de mais fundo.
Viver de novo, por instantes, essa vida que vivi e sentir todas as mudanças que sofreu. E que sofri.
Ouvi-la de novo, tranquilamente, renovada. A música e eu...
Sabe tão bem...
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