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Tudo aquilo que sou...
Fotografia: Sophie Thouvenin
Os anos passam, não sei se sabes. Como era, já não é. Tudo mudou à tua volta e não te deste conta. Ou até sim.
Foste tão esquisita nas escolhas que agora, já pouco importa se acertas ou não. Queres apenas alguém. Mesmo com todos os defeitos. Porque talvez, aí por dentro, penses que um dia os vais transformar em virtudes.
Tanto fizeste, que agora, já tanto faz...
Nunca pensaste que os anos assim, mais tarde, te doessem tanto. E doem.
E em cada nova paixão, esperança redobrada. E começar tudo outra vez. Acreditares. Que era agora aquele com que sonhaste. E eram só sapos. Não te deste nem deste um pouco do teu tempo para veres se podiam vir a ser o teu príncipe.
Deixa lá...
Ver-te dói. Dói pensar que estás sozinha porque quiseste esperar pela perfeição. Dói porque eu te dizia que a perfeição não existe. E quiseste esperar mesmo assim.
E aos poucos vais guardando nas gavetas sem fundo os planos que tinhas para a tua vida.
Não casaste, não tiveste filhos. E finges que isso não te incomoda.
Aos 30, ainda é fácil encontrar um rapaz decente. Os que encontras aos 40, nem sempre é assim.
Os que estão finalmente livres, querem aproveitar a liberdade que não tiveram enquanto estiveram enclausurados. E para eles, és mais uma.
Os que procuraram como tu, tal como tu já desistiram.
Outros procuram nas de 25 porque acham que o tempo e a lei da gravidade não as vai atingir.
E outros, são felizes junto de alguém.
Meio mundo procura meio mundo, sempre desencontrados.
Porque não expõem sentimentos e deixam-se ficar na berma da estrada. Porque o medo os congela. Porque procuram sinceridade sem saberem sê-lo.
Eu ainda espero que um dia me telefones feliz. Com um rumo na vida. Ou com um filho no ventre. Mesmo que seja só isso e nada mais.
Não te falo da solidão que sentes nas noites dos teus dias agitados que prolongas para andares dormente e não te doer tanto. Não te falo porque a tua dor magoa-me.
Queria apenas aliviar o peso do teu peito. E lembrar-te que num momento, tudo muda. E desejo que tenhas o teu coração leve e aberto para que sempre consigas deixar entrar aquilo que te aquece. O que vale a pena.
Sem procurares também consegues encontrar, sabias?
Da necessidade surgem pessoas que testam a sua capacidade e habilidade.
Num país empobrecido, desempregado, precário em todos os sectores, de escravatura laboral e mão de obra barata, percebo que surgem novas profissões. Pedinte e assaltante.
Os pedintes ganham mais por conta própria que os outros que trabalham para outrem.
Os assaltantes usam técnicas avançadas e equipamento de protecção para evitar acidentes de trabalho. Com sorte, são apanhados em flagrante. E se assim for, estão safos.O que pode resultar daí é ser praticada a legislação em vigor e irem parar a uma cadeia qualquer.
E durante algum tempo, já não precisam preocupar-se com renda por pagar, água, luz e comida.
Devia eu chamar-me Alice.
Fotografia: Alain Daussin
Era uma vez uma vez. Uma vez como qualquer outra vez. São tantas vezes. Todos os dias são uma vez.
Uma vez que começava como todas as outras vezes, só que desta vez, havia a hipótese de fazer tudo de forma diferente das outras vezes.
Ou re-fazer. Com fórmula melhorada.
Em cada inicio, tudo o que está pela frente é apenas um espaço em branco. Em cada inicio, uma vez. Uma oportunidade de se colocar em prática o que trazemos de aprendizagem e aprender um pouco mais.
Vamos escrevendo a nossa história na história de outros. Da mesma forma que os outros também escrevem a sua. Algumas vezes na nossa. E é apenas porque cada um de nós escreve individualmente a sua história, mesmo que nessa história estejam outras pessoas englobadas, que por vezes, no final, há virgulas desalinhadas e pontos finais. E reticências...
E a sociedade vive cada vez mais só. Porque cada um escreve a sua história, na impossibilidade de escrever a dos outros, em simultâneo.
E haverá sempre uma vez em que desejamos não saber escrever. Ou que alguém escreva por nós. Por cansaço, por um quase desistir. Por uma vez.
Principalmente nos momentos em que na escuridão vimos uma luz ao fundo do túnel. E é um comboio.
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