Confissões de uma mulher de 30

Não te queria perder.
Não te quero perder.

Mas dei por mim perdida. Nessa perdição, já não sabia sequer se te queria, por todo o desassossego que aos poucos sentia em mim. E nada do que sentia, fazia sentido e já nem me fazia sentir-te. Ou já não te queria sentir.
Abandonei-te.
Perdoa-me.
Mas posso viver sem ti.
Vivi toda a vida sem ti.
Viverei toda a vida sem ti.
Mas não me posso permitir viver sem mim. E eu, tu sabes, sou intensa e urgente.
Sinto muito. Mas não quero sentir nada. Mesmo sabendo que o vazio ocupa demasiado espaço. É que um dia eu disse o quanto era importante e tu não te importaste.
A marca que deixaste em mim, não é bonita de ver... achava eu que quando entraste a valer na minha vida e eu na tua, que seria simples, bom e fácil. Estava errada. Quis salvar-te, vê tu. E olha para mim agora... não posso continuar a remar pelos dois.
É por sobrevivência, sabes? Não me queiras mal por isso...
Fui percebendo que aos poucos despertavas os fantasmas e demónios que dormiam em mim e que não pretendo acordar.
E mesmo querendo que fiques, preciso soltar as mãos e voltar para mim. Na minha timidez, derrubei muitos muros para te acolher. Hoje, parece que foi em vão.

O lugar onde sou é profundo. E nem todos se arriscam à profundidade. É preciso coragem.  E loucura.
É que, sabes?, não basta perder o pé. Também é preciso perder o medo. E ir por inteiro, completamente, ao fundo.
Mergulhar.

Às vezes o fundo é escuro e esse lugar solitário traz muitas vezes a paz que não se abala, a solidão que consola. Que é reconfortante, segura e viciante.
É lá no fundo, onde faz eco, na profundidade de mim, que eu estou. É lá que eu sou. Que me permito ser.
Talvez um dia, cansado de água rasa, mergulhes para perceberes.
Talvez percas o medo e te agarres a uma coragem insana que te nascerá por dentro e te faça tentar.
Trapézio sem rede.

Quem sabe então assim, nesse lugar onde poucos vão, me olhes. E me consigas realmente ver.