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Tudo aquilo que sou...
Sempre pensei que ainda tinha tempo. Tempo para tudo.
Inevitavelmente, mesmo que se viva a vida sem pensar muito no amanhã, deixar as coisas correrem e seguirem o seu caminho, cá dentro, no fundo onde faz eco, sentimo-nos um pouco imortais. Como se ainda a vida estivesse todinha à nossa espera.
Mas não está.
Perguntam-me numa forma delicada quando vou abrandar de vida. Que esta é desgastante, sempre numa correria louca para aproveitar cada pedaço de cada um. Não ficar simplesmente a dormir, a descansar, mas querer sempre sair, conversar, viver.
Respondo-lhes que prefiro o mundo onde tudo é real. Mesmo a dor. Que não fico em casa, sentada em frente a um ecrã que não me dá mais nada a não ser dores de cabeça. Onde nada é palpavel, onde nada tem cheiro nem sabor...
Ser espectadora da solidão, do vazio, do silêncio pesado? Não creio...(Mas como segredo, sei que tem este cantinho onde venho escrever um pouco deste emaranhado de confusões que sou. Mas eles não sabem...)
- E filhos Raquel? Não pensas nisso?
Não respondo. Fico a pensar. Sempre senti que não podia planear filhos. Se o fizesse, possivelmente decidia não os ter ainda antes da concepção. Talvez por ver um filho como algo grandioso demais. Talvez por desejar tê-los numa relação daquelas quase perfeitas. Talvez por medo de não ser uma boa mãe. E isto, é uma grande confissão.
Mas hoje, de repente, vi que talvez queira. Muito. Possivelmente só tenho adiado as vontades. Possivelmente tenho vivido a vida a adiar a vida. E dei-me conta... hoje, numa esplanada de praia, que afinal já não tenho tanto tempo assim.
É pesado concluir que podemos viver a vida, ter as rédeas presas nas nossas mãos. E mesmo assim, mesmo assim, ela não nos deixa vencer esta batalha. Perdemos sempre.
A vida passa por nós...
Creio que seja a isto que se chama destino por cumprir.
E eu, talvez já não tenha tempo...
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