Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Tudo aquilo que sou...
Fotografia: ?
Uma gaja não pode sair e deixar os amigos em casa que quando regressa é só vestigios de festança. Isto é que foram moitas na minha ausência....hehehehhe. Gostei de ver.
E hoje, de volta.
Domingo. Três da tarde...
Ando numa cidade estranha. Elas vão comigo a falarem de coisas a que perdi a meada porque me deixo levar pela musica que toca baixinho, que vou escutando entre um riso e outro.
Páro no semáforo e deixo o pensamento voar para um sitio que agora já nem lembro...
Buzinam-me porque o semáforo passou a verde. Verde como o amor...hoje em dia os amores já não têm o vermelho como cor porque já nunca amadurecem... são verdes, amores verdes.
Odeio que me buzinem. E numa tarde de preguiça, sinceramente, não apetece nada levar com um apressadinho. Teimosa, continuo parada.
Buzina outra vez.
Saio do carro. Calmíssima.
Só queria mesmo paz, de tão cansada que ando das guerras. Das minhas e das que os outros inventam. E até daquelas onde estou sem saber como. E das outras onde me sinto de arma apontada ao peito sem saber porquê.
Às vezes sinto falta de sentir a sério...de ter uma daquelas paixões outra vez. Mas tambem sei que o resultado de uma paixão são as lágrimas ou o amor eterno. No meu caso, é mais a primeira...
Caminho em direcção do condutor.
- Qual é o problema?
Ele sai tambem...a barafustar. Fala alto de tão nervoso. Que tal, que sou cega, que se vê logo que sou mulher, que me saiu a carta no Juá, que com certeza não chega a tempo ao encontro...
E eu a perguntar porquê tanta pressa, hoje é Domingo...falo calmamente o que o deve deixar ainda mais irritado.
Tira os óculos de sol e vejo-lhe os olhos. Lindos.
Atira-os para dentro do carro num gesto rápido com uma mão quase perfeita. Sem aliança.
Continua a discutir comigo. Charmoso. Lábios com contornos divinais.
E eu calada, a olhá-lo. Alto.
Caminho para junto dele, num impulso, deslizo os dedos nos cabelos negros dele, puxo o seu rosto ao meu, dou-lhe um beijo na boca e digo-lhe:
- Tem calma... hoje é Domingo.
Viro as costas, vou embora. Já não ouço a sua voz rouca que lembra o pecado.
Entro no meu carro, devagar...a musica ainda toca baixinho e não se ouvem palavras nem risos, nada. Silêncio.
Elas três que não tiram os olhos esbugalhados de cima de mim, caladas.
Pelo retrovisor, vejo-o encostado à porta do carro, ainda aberta, parado.
Já não gesticula, já não diz nada.
Abre o sinal e eu arranco, numa calmia de quem conduz num Domingo calmo, às três da tarde. De quem só quer viver devagar na velocidade louca de uma vida alucinante.
Ouço uma buzina...deve ser para ele.
Quem sabe não retribui o beijo a alguem que, como ele, vem apressado e só precisa de algo assim, diferente, para ver uma cidade linda, pacata, com olhos melancólicos e frios como estes dias de inverno que por aqui se fazem sentir?
Dias em que apetece entrar numa casinha de pedra qualquer e sentarmo-nos à lareira a comer presunto com broa e a beber vinho tinto... a sentir o tempo, calmo...a ouvir os minutos a deslizarem na preguiça das horas.
Passado um grande bocado, só ouço a Ana a dizer:
- Eu não acredito nisto!
E desatamos todas a rir...é que nem eu acredito no que fiz!
Apeteceu-me.
Pois é...sou aprendiz de mulher, sim. Mas uma aprendiz muito aplicada!
E tambem tenho horas destas, que deixo sair aquele outro lado de mim...o lado do escurinho, o lado dos segredos, da luxuria.
Mas as atitudes, essas, convem que sejam inesqueciveis...
Como confissão: recordo aquele rosto a olhar-me, incrédulo. Talvez à espera que a qualquer minuto saisse alguem de trás de um arbusto, de câmera na mão, a mijar-se a rir e a dizer: apanhado!
E aqui entre nós, que ninguém ouve, apetece-me rir só por pensar nisso outra vez...
Raquel, Raquel...isso não se faz!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.