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Tudo aquilo que sou...
Fotografia: Raquel
Não sei se te acontece o mesmo... alturas em que de tudo estar tão bem, que não tens a certeza que é real. Ou nas outras em que te sentes tão errada na vida que te parece, tambem, irreal.
Horas de duvida. Numa fantasia- realidade de linha ténue. O que é, o que não é... ou o que não querias que fosse.
Ou talvez não...
Se calhar a vida é apenas aquilo que lhe vemos e não tem mais nada. E são sonhos reais e realidades imaginárias.
O desejares, lá no fundo onde faz eco, que todos sentissem a paz que trazes contigo numa certa altura da vida. Como a que sinto, nesta fase tranquila em que me sinto feliz.
Mas em qualquer etapa, seja a boa ou a outra, a vida tem sempre duas faces.
A nossa e a outra.
Ontem, estava a ver televisão. Vê tu. Euzinha, dentro de uma vida normal. Mas é realidade. Tal como as imagens que via de corpos estendidos no chão, sem ninguem que os reclame. Sozinhos na morte. Até na morte sozinhos.
Os olhos de quem sofre e nem sequer chora.
Os paises que de tão miseráveis que são, ainda têm um destino cruel por cumprir.
Não devia ser assim, pois não?
E vês o desespero. O olhar perdido de quem nada pode fazer. O grito da revolta.
E eu sentada num sofá, confortável. A ver imagens num ecrã. A sair para ir ao cinema. A preparar um jantar. A sobrar comida e outra a estragar-se no frigorifico. Comprada porque sim e depois, não consumida na validade. O lixo.
A fome no mundo.
Eu a pensar que quero regressar com o boy aos Estados Unidos. A esfroçar-me para juntar aqui e ali uns troquinhos para o conseguir.
E pessoas nos escombros, ainda resistentes, à espera. Braços que cansados levantam pedras. Não há máquinas. Dizem.
Eu a dizer que precisamos comprar cortinados. Que ainda precisamos de uma lista infindável de objectos neste lugar que é o nosso lar.
E as pessoas a dormirem na rua. A pilharem para sobreviver.
Crianças pequenas em braços estranhos que os seguram. E os nossos sobrinhos que fazem birra porque não lhe compraram um brinquedo.
A dor do mundo. E nós, que fazemos parte desse mundo, a olharmos de soslaio. Num medo que um dia, quem sabe, possamos estar assim. Mas não mudamos. Continuamos a nossa vida real a imaginar outros voos. A deixar cá fora os reflexos do que somos por dentro.
Quando olhamos, será que vemos? Nem sempre...
Não sei se te acontece o mesmo. Teres horas em que à tua volta vês tanta tragédia e mesmo assim, dás-te ao luxo de pensares em coisas que queres. Coisas banais. Sem nenhuma urgência nem valor.
E depois, mais tarde, dás-te conta e sentes-te assim... pequenina.
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