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As duas faces da vida...

Confessado por Mulherde30, em 19.01.10

PC160044.JPG
Fotografia: Raquel


Não sei se te acontece o mesmo... alturas em que de tudo estar tão bem, que não tens a certeza que é real. Ou nas outras em que te sentes tão errada na vida que te parece, tambem, irreal.
Horas de duvida. Numa fantasia- realidade de linha ténue. O que é, o que não é... ou o que não querias que fosse.

Ou talvez não...
Se calhar a vida é apenas aquilo que lhe vemos e não tem mais nada. E são sonhos reais e realidades imaginárias.
O desejares, lá no fundo onde faz eco, que todos sentissem a paz que trazes contigo numa certa altura da vida. Como a que sinto, nesta fase tranquila em que me sinto feliz.
Mas em qualquer etapa, seja a boa ou a outra, a vida tem sempre duas faces.
A nossa e a outra.


Ontem, estava a ver televisão. Vê tu. Euzinha, dentro de uma vida normal. Mas é realidade. Tal como as imagens que via de corpos estendidos no chão, sem ninguem que os reclame. Sozinhos na morte. Até na morte sozinhos.
Os olhos de quem sofre e nem sequer chora.
Os paises que de tão miseráveis que são, ainda têm um destino cruel por cumprir.
Não devia ser assim, pois não?
E vês o desespero. O olhar perdido de quem nada pode fazer. O grito da revolta.
E eu sentada num sofá, confortável. A ver imagens num ecrã. A sair para ir ao cinema. A preparar um jantar. A sobrar comida e outra a estragar-se no frigorifico. Comprada porque sim e depois, não consumida na validade. O lixo.
A fome no mundo.

Eu a pensar que quero regressar com o boy aos Estados Unidos. A esfroçar-me para juntar aqui e ali uns troquinhos para o conseguir.
E pessoas nos escombros, ainda resistentes, à espera. Braços que cansados levantam pedras. Não há máquinas. Dizem.

Eu a dizer que precisamos comprar cortinados. Que ainda precisamos de uma lista infindável de objectos neste lugar que é o nosso lar.
E as pessoas a dormirem na rua. A pilharem para sobreviver.
Crianças pequenas em braços estranhos que os seguram. E os nossos sobrinhos que fazem birra porque não lhe compraram um brinquedo.
A dor do mundo. E nós, que fazemos parte desse mundo, a olharmos de soslaio. Num medo que um dia, quem sabe, possamos estar assim. Mas não mudamos. Continuamos a nossa vida real a imaginar outros voos. A deixar cá fora os reflexos do que somos por dentro.
Quando olhamos, será que vemos? Nem sempre...

Não sei se te acontece o mesmo. Teres horas em que à tua volta vês tanta tragédia e mesmo assim, dás-te ao luxo de pensares em coisas que queres. Coisas banais. Sem nenhuma urgência nem valor.

E depois, mais tarde, dás-te conta e sentes-te assim... pequenina.

publicado às 14:14


Confessionário

De rafael schiavoni a 09.03.2010 às 23:51

Eis que depois de mais alguns tropeços me deparo novamente com as letras de uma boa companheira de letras...

Pequenina, suponho que não lembra te de mim...

seja como for, passou mais de ano para que eu voltasse aqui...

Diz lá



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