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Até um dia...

Confessado por Mulherde30, em 20.01.07

miguel afonso.jpg
Fotografia: Miguel Afonso


Chega-te a mim… vou dizer-te porque me dói. Talvez depois percebas porque me dói cá por dentro, sabes?
O coração, o peito, a alma. Os olhos irrequietos e tristes que não encontram onde poisar.
Houve um tempo em que sentia a tranquilidade sempre que os teus olhos olhavam para mim.
Pensei que o amor podia ser a cura. Mas afinal foi o mal.
Pensei que as palavras eram verdade. Mas afinal eram mentira. Tudo foi mentira. Talvez até o amor.
Pensei que aquele homem que me mostravas ser, eras tu. Mas errei.

É sempre assim, não é?
Quando um dia acordamos e percebemos que passámos metade do tempo à espera. Quando sabemos que nada virá. Quando cá por dentro já sabíamos que não havia o que esperar. Quando já nem me sentia com idade para esperar pelo que quer que fosse.
E esperei mesmo assim.
Talvez sejam as coisas tontas que dizemos e fazemos por amor. Que queremos seguir e andamos às voltas, sem nunca sair do lugar. Sempre com uma esperança renascida de que talvez… mas nunca é.
Depois é tempo de aceitar.
E passamos outro tempo a tentar não lembrar. Não lembrar aquilo que o nosso coração teima em não esquecer.
As esperas são sofrimento, sabias? Rebentamo-nos por dentro nas noites que seguem os dias em que não há uma voz, um estar perto. Nada. Há apenas nada. Vamos ao limite. Chegamos à linha em que ou saltamos e caímos, ou decidimos caminhar, voltar atrás. O que não sabemos é que o caminho de volta, muitas vezes, é o mais doloroso.
Um dia dizemos basta. Um dia dizemos que nunca mais.
E depois um dia, mais tarde, voltamos a repetir tudo outra vez. Outra vez pensamos que sim, afinal é não.
Tudo se repete quando se ama com o lado errado do peito. Até as coisas erradas. Porque gostamos. Porque sabemos o que é gostar e queremos sempre ter de novo o coração assim, aconchegado noutro coração.
.

Pouco importa. Um dia já não sentiremos o peito apertado. Já não teremos os olhos rasos de água. Já é um doer devagar, que mói mas não magoa tanto. Já não sentimos o coração a soluçar baixinho.


É por isso que me dói…
Precisei acreditar em ti. E acreditei. Que podias gostar de mim, de verdade. Sentia-te como um anjo que me caiu no prato da sopa. Precisei depois acreditar que afinal, eu não era assim tão importante.
E precisei sorrir ao mundo como se fosse a mulher mais feliz, quando me sentia a mais vazia, incompleta e só.
Quanto mais te queria esquecer, mais te lembrava. Eras tu em tudo. Nas musicas, nos lugares, nas palavras, nos sorrisos. Sempre tu. Porque estavas cá. Mas eu já não te sentia, ou já não queria que estivesses aqui, não sei.
Mas foste e serás sempre alguém que lembrarei com carinho. Porque não esqueço do bater do teu peito. Não esqueço os teus abraços nem o teu riso. Não esqueço que me fizeste sentir alguém mesmo muito especial, na parte do tempo em que me lembravas que pensavas em mim. Não esqueço que me fizeste sentir o sangue correr nas veias e fazer loucuras. Não sei se por ti, se por mim. E cá por dentro, os dias felizes, mesmo assim, se tornam maiores que os meses tristes.
Não esqueço que me provaste que eu era capaz. Outra vez. Depois da desilusão, voltar a voar.
Fui capaz e serei sempre. Porque cometerei todos os erros repetidamente. Quem sabe só assim a vida faz sentido? Quando por amor nos esquecemos de todas as lágrimas que alguém nos causou?
E aprendi também que quanto mais transparente for, mais invisível me torno. Não posso ter este coração na boca nem os pensamentos na ponta da língua. Preciso aprender o jogo. E o jogo é ganho por quem mais esconde.

É por isso que me dói… Não sei se entendes o que te quero dizer. Nem sequer sei se vale a pena dizer-te o que quer que seja. Porque quando se fala do que se sente, quase nunca o outro sabe realmente do que estamos a falar.
Mas dói-me mesmo assim…
Porque só agora, lutando contra o tempo, és capaz de me olhar nos olhos e explicares o porquê das ausências. Só agora, quando agora já tudo passou, me dizes o que tanto quis ouvir numa época em que só precisava saber isso. Só agora me abraças e me dizes a chorar que sempre gostaste de mim. (gostaste? Como podemos gostar quando só fazemos sofrer?) Como se isso mudasse o rumo à história. Como se só por falares, tudo se transforme cá por dentro. Como se ao dizeres que eu te vou acompanhar onde quer que vás, toda a memória dos dias maus se apague em mim.
Mas agora, tu sabes, é tarde demais.
Guardaste as palavras escondidas no peito, por medo. E deixas que voem em liberdade quando já não podem trazer um sentido de liberdade a ninguém. Sofri tudo o que tinha para sofrer. E não vou deixar que entres outra vez para me abalar a paz, a vida.

Ficou tanto por dizer… mas agora, já pouco importa, sabes? Podia repetir todas as palavras, voltar a dizer o que vai cá por dentro. Mas sempre o disse. Tu já sabes.
E há horas em que as palavras não dizem tudo, horas em que não conseguimos que os outros entrem em nós só para saber.

Quero mesmo é que sejas feliz, que consigas amar… mas com o lado certo do peito. E que o medo nunca te faça deixar de tentar. Que o medo nunca te faça deixar de dizer as coisas boas, enquanto é tempo. Enquanto vale a pena. Nas despedidas já não temos nada a perder, não é? E vê tu que foi preciso dizer “até um dia” para que fosses capaz.
Vive assim… dizendo as coisas boas que tens aí por dentro, sentindo que já nada tens a perder. Sabes?, é que gostar também é dizer que gostamos. Porque gostar também é aliviar a dor daqueles que nos querem bem.
Que se olhares para trás lembres da mulher que fui enquanto te amei. Porque afinal, as minhas histórias ficam sempre por viver.

É por isso que me dói o peito. Porque depois de tudo não consegui dizer-te que houve uma altura em que, cansada, rendi-me. E deixei de te procurar. Obriguei-me a isso, entendes? Não porque já não gostasse, mas porque precisava. O que não podia era sentir que rastejava por amor, que mendigava por um resto de qualquer coisa. Porque não sou assim. Porque quero e mereço mais.

Fiquei no meu canto esperando que tudo passasse. Porque sempre passa, não é?
E depois, mais tarde, esqueci-te, desisti e abandonei-te… por sentir que era precisamente isso que tinhas feito comigo…


E eu!?
Eu vou viver. Vou carregar o coração nas mãos e colar todos os pedaços. Vou viver da melhor forma que sei, porque é tudo o que posso fazer. Vou olhar toda a imensidão do céu e toda a vastidão do mar para sentir paz, ou outras vezes pequena. Vou sorrir uns dias e nos outros lutar por isso.

E Eu!?
Ora, eu vou ser feliz…

"Talvez por não saber falar de cor, imaginei.
Talvez por não saber o que será melhor, aproximei.
"O meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós".
Sei lá eu que queres dizer...
Despedir-me de ti, adeus um dia voltarei a ser feliz...
Talvez por não saber falar de cor, aproximei...
Triste é o virar de costas o último adeus, sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim, escutar quem sou...
E se ao menos tudo fosse igual a ti.
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor, já não sei se sei o que é sentir.
Se por falar falei, pensei que se falasse era mais fácil de entender...
É o amor que chega ao fim, um final assim
assim é mais fácil de entender...

publicado às 13:40


Confessionário

De Anita a 20.01.2007 às 13:55

... do princípio ao fim achei que este texto poderia ter sido escrito por mim, se tivesse jeito para escrever. quando cheguei ao fim "alegrei-me" por saber que não sou a única, nem nunca serei, a fazer as maiores asneiras por amor. Vou guardar uma frase que disseste "(...) Porque quando se fala do que se sente, quase nunca o outro sabe realmente do que estamos a falar.(...)" verdade verdadinha, e no fim ainda me sinto mais estúpida do que no início... vou passar mais vezes por aqui, para ver se mais vezes encontro os meus sentimentos tão bem expressos. Um bom fds :)

De FELICIDADE a 20.01.2007 às 17:22

Descobri-te por acaso na semana passada e desde então tenho lido ao acaso as tuas confissões. Fazes-me lembrar de mim e,com aquilo que tenho lido nos comentários de muitas mulheres, delas também. Quer isto dizer que afinal todas nós nos parecemos mais do que queremos ou dizemos?! Se calhar sim. Se olhares para trás tens dias melhores e piores como todas nós e o bom de tudo o que tens feito é que se quizeres podes voltar atrás e ler tudo o que sentiste e quem sabe voltar a sentir.
Tenho 41 anos e depois de pensar que não via luz no fim do tunel, a minha luz apareceu e, atenção, estava mais perto que pensava.
Quem sabe se tu não estás a procurar longe e está tudo mais perto do que pensas?
Uma beijoca e até sempre

De Mari a 20.01.2007 às 18:31

É tudo tão confuso. Muito complicada a essência que é o querer, estar ou não com alguém, o que é ou não amor. Vivemos num mundo em que muitas vezes não sabemos nem mesmo o que queremos. O importante é viver a cada momento, como se fosse o último, com amor, paixão, apetência, enfim...

De A Dm a 20.01.2007 às 18:55

Maravilhoso texto que só pode ser escrito por quem tenha vivido um grande amor, o que não é problema.
O problema é quando nós queremos analisar a Paixão com a Inteligência. Não dá , não pode ser.
PS: ele não te merece

De Carina a 20.01.2007 às 20:45

Vejo-me neste teu texto. Escrito lindamente...
Adorei ler e re-ler.
So quem passou um grande amor sente o que sentes. O amar e uma maravilha, o problema encontra-se quando esse amor nao e correspondido.

Beijo


De Sue a 20.01.2007 às 20:53

E como muito já foi dito em cima, a verdade é que me também eu me revejo nele... parece sina.

A música também escolhida a dedo porque foi a que ouvi a semana toda e ainda que custe "despedir-me", será certamente o melhor caminho.

Obrigada e beijinhos

De mi a 20.01.2007 às 22:12

Pois é Rakel, quem falou em paixão ? Mas também não é preciso invocar o nome do nosso Demónio. Porque doi. E a dôr é o reverso da medalha, não é ? Tens razão. Ninguém falou em paixão...

De Rui a 20.01.2007 às 23:18

Errar é um privilégio de quem toma decisões. Penso que todos nós erramos, embora alguns de nós tenham dificuldades em reconhecê-lo o importante é que cada um tire as suas conclusões e que aprenda com os erros cometidos, para que não se repitam no futuro. Para mim não faz sentido repetir os erros do passado em nome do amor. Concordo em absoluto contigo e mesmo conhecendo de quem se trata acho que tomaste a atitude correcta, admiro a tua coragem. Faço minhas as palavras de quem diz” ..ele não te merece…” Beijinhos.

De Gabriela a 21.01.2007 às 02:42

Recentemente, li algures que o amor começava com um sorriso, prolongava-se com um beijo e terminava com uma lágrima……
Na minha experiência, o que se tornou realmente difícil de ler, foi saber quando esta lágrima é a última, ou se ela vai voltar mais uma vez, ou outra vez….!
Um grande amor nunca é esquecido, mesmo que surja outro, este será sempre diferente, mas igualmente inebriante e caloroso.
Todas as experiências que vivemos são únicas e inconfundíveis, pelo que querer repeti-las numa nova tentativa, é uma tarefa infrutífera e desgastante porque nunca mais será igual, em virtude das vivências serem subjectivas e genuinamente variáveis no tempo e no espaço, por isso “quando se fala do que se sente, quase nunca o outro sabe realmente do que estamos a falar “.
Sabemos que não vale a pena chorar sobre leite derramado e que a fixação no passado nos incapacita de viver o presente, impossibilitando-nos de encontrar beleza nos novos momentos que nos visitam. Todavia, o reencontro emerge se ambas as partes amadurecerem no sentido de deixarem cair o ego amachucado e ferido, dando lugar ao que de mais intimo se encontra na alma, a verdade. Contudo, persiste uma dúvida, se a voz que ouvimos é a do ego magoado ou da alma reconstruída, aí reside a nossa confusão de sentimentos. Então é necessário saber distinguir entre uma e outra, deixando-nos conduzir pela intuição e pela bússola do coração em plena tranquilidade emocional.Beijinhos............

De Just Be Fair a 21.01.2007 às 03:10

Grande parte do que aqui está podia ser dito por mim. Há quem nada reconheça. A ingratidão é uma caracteristica das pessoas, da maioria das pessoas. Acabei de deixar partir as 4 pessoas que comigo faziam a minha familia: a mulher que amei (e ainda amo, porque o amor, o verdadeiro amor, não acaba de um dia para o outro) e os meus 3 filhos. O vazio, a frustração e a mentira preenchem agora grande parte dos meus dias. Sei que a vida continua mas não tem sido fácil. Também ela não me merece. E também eu sublinho as tuas sábias palavras: "(...) Porque quando se fala do que se sente, quase nunca o outro sabe realmente do que estamos a falar.(...)". Porque terá de ser assim?

Diz lá


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