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Tudo aquilo que sou...
Fotografia: Philippe Halsman
Nós sabemos. Mas não pensamos nisso. Talvez numa tentativa de enganar a vida. Ou a morte.
Ou não pensamos para não termos a certeza de como somos pequeninos.
Ou até, quem sabe, nos iludimos numa eternidade que nem temos.
É por isso que tudo é adiado. Porque amanhã eu vou, eu faço, eu digo...
Esquecendo por segundos que amanhã, ou um qualquer amanhã, não estarei aqui.
Numa coisa ou noutra, importante ou não, grande para uns e sem significado para outros, todos nós, adiamos algures a vida. Adiamos alguma coisa...
Por isto ou por aquilo fica para depois.
E na pressa dos planos, esquecemos o mais importante. Não paramos para ver, para sentir, para conversar.
Hoje as pessoas já não dialogam. Mandam mensagens a trocar o "q" pelo "k" e outras mais que fica dificil perceber. Pelo menos para mim, que sou mulher rude do campo.
Já não há tempo. Nunca há tempo.
Não lembramos, ou esquecemos que um dia, teremos todo o tempo. E teremos tempo quando já nada houver o que fazer com ele.
Andamos assim, distraídos nos problemas que pensamos ter porque não podemos entrar nos outros e conhecer com exactidão a dimensão dos deles.
Vivemos em circulos. Andamos às voltas sem nunca sair do lugar.
E passamos perto de coisas belas sem as admirar porque nos parecem coisas sem conteudo. Na pressa. Na falta de tempo...
... e só depois, muito mais tarde, naquela altura em que um aperto nos mói cá dentro por saber que não podemos voltar atrás, nos damos conta.
E só depois percebemos das coisas que estavam ao nosso lado e nós não percebemos.
Distraídos que andamos a planear a vida, enquanto essa mesma vida nos passa ao lado no mesmo instante em que passamos ao lado dela.
E só depois percebemos... só mais tarde nos damos conta...
Que não vimos.
Que não sentimos.
Que não vivemos.
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