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Espaços vazios...

Confessado por Mulherde30, em 26.10.07

niko guido.jpg
Fotografia: Niko Guido


Quando chegam estes dias de Outono, devagarinho, sempre me chega uma saudade. Saudade de ti.
É maior, inevitavel.
Porque as folhas já não são verdes. Amarelecem e caem. A natureza deixa-se morrer para voltar a nascer.
Talvez devesse fazer o mesmo.


Recordo uma estação assim, há anos atrás.


E chegas tu, de mansinho aos meus pensamentos. Como o vento que chega sem me aperceber, quase sem me dar conta, que me arrepia, me toca a pele. E não o vejo.
Tambem não te vejo a ti, mas sinto-te.
Como se nunca tivesses ido embora.
Depois de ti, nada mais ficou igual. Aquela ferida marcada na pele que não cicatriza, como tatugem de alma que o tempo não consegue fazer esquecer, desaparecer.
E ainda bem porque não quero perder nada do que carrego de ti, em mim.
Sempre te sinto aqui. O que me dirias, se ficarias ou não feliz por mim. Se acabei apenas por ser algo que não querias.
E ouço ainda a voz, e vejo ainda o sorriso e ainda tenho na memória as mãos.
Tudo tão real, menos tu.
Ou talvez tu sejas o mais real. Tu que existes cá por dentro, que te mantens de perto, me vês, me deixas cair como quando era criança e ficavas pertinho a saber se me conseguia levantar.
E nos dias maus é como se ainda fosse ao teu colo que procuro um embalo. E se as lágrimas caem, não são vãs nem sequer demais.

És grande. Nunca conseguirei encontrar palavras grandes para poder falar de ti, de alguem como tu.
E eu, nunca serei grande assim. Porque não ficaste até ao fim para eu perceber como transformamos um ódio em compaixão. Porque não ficaste perto para veres todos os caminhos por onde segui erradamente. Mas sempre segui o que por dentro o meu coração gritava. E foi sempre isso que me disseste.
E foi por ti que me transformei no que sou. Porque me ensinaste que a vida é sempre maior.

E de uma maneira ou doutra, nesta falta que te sinto, sei que o maior de ti ficou aqui. Porque não esqueci nada. Porque és a minha maior mágoa e a maior revolta, és a minha melhor memória e o sentimento inviolável.

Ficou aquele espaço vazio. Espaços em branco como aqueles que se colocam entre uma palavra e outra e que não se podem preencher. Aquele que se enche de uma saudade que mói devagar, aquele que ninguem pode ocupar. Aquele lugar onde faltas sempre tu. Aquele lugar sempre tão cheio de ti. Sempre tu. Em tudo o que sou.

Talvez todos me tenham mentido. Porque te sinto tão presente, sempre. Talvez todos me tenham mentido quando há muitos anos me disseram que já não estavas cá. Talvez tenhas apenas abandonado o corpo algures e agora sejas apenas alma. E a tua morte seja apenas uma forma de ficares invisivel aos olhos do mundo.
Mas posso dizer-te, de olhos rasos de água, que te sinto a falta pai.

“Se chover na madrugada em que eu procuro o meu caminho

será vaga a nostalgia que outro charco faz viver
a canção lânguida e lenta de quem vai devagarinho
em cada charco uma mágoa que não se pode esquecer”
Mafalda Veiga

publicado às 20:33


Confessionário

De estrela_do_mar a 27.10.2007 às 00:37

Apesar da dor n

De Tet a 27.10.2007 às 03:26

Que lindo!!!! Adorei o texto e a foto está tão de acordo...

Parabéns! e, por favor, continua a escrever, sim?.Sempre me é desfrutável passear pelo teu blogue.

De Anita a 28.10.2007 às 01:53

A dor de perder uma das metades que nos criou é indescrítivel. Também já perdi uma dessas metades, que me faz mais falta a cada dia que passa. Não me parece que o tempo ajude, porque já lá vão 15 anos e a cada dia lhe sinto mais a falta. Também eu sou o que ela me fez e isso sei que a orgulharia eme orgulha. Jinhos *

De Paula a 29.10.2007 às 09:46

Igual a muitos, diferente de todos!

Para alguns, apenas mais um. Para mim, um verdadeiro "volte face".

Não deixes de espreitar. Fica, se estiveres disposto(a) a colaborar.

http://verdades-ou-consequencias.blogspot.com (http://verdades-ou-consequencias.blogspot.com)

Até breve

Paula (Broken)


De Paula a 29.10.2007 às 09:46

Igual a muitos, diferente de todos!

Para alguns, apenas mais um. Para mim, um verdadeiro "volte face".

Não deixes de espreitar. Fica, se estiveres disposto(a) a colaborar.

http://verdades-ou-consequencias.blogspot.com (http://verdades-ou-consequencias.blogspot.com)

Até breve

Paula (Broken)


De nene a 29.10.2007 às 13:40

Acredito em tudo e não quero acreditar em nada, mas uma coisa tenho esperança... tenho esperança de um dia poder abraçar-te como noutros tempos o fazia e tu davas uma volta comigo no ar como como se eu fosse um aviãozinho num carrossel... Um dia quero voltar a sentir o teu cheiro, sentir a tua pele, sentir a tua voz... UM GRANDE BEIJO PAI. Adorei, Raquel. Beijos.

De Mariazinha a 29.10.2007 às 13:59

Raquel, Raquel, Raquel...
venho aqui à tanto tempo, ler-te, muitas vezes é como olhar para dentro de mim mesma...
Na maior parte das vezes, não digo nada, as palavras não saem, fica um nó na garganta, e a inibição é total ...
Hoje, e na minha opnião, o texto, resume-se apenas a uma palavra, SAUDADE.
Beijos meus
Maria

De carla a 29.10.2007 às 18:14

olá rakel, descobri-te só hoje e passei toda a tarde na tua companhia. E gostei, muito mesmo! É bom saber que moras na mesma terra que eu, dá-me uma certa esperança humana...
Fica em paz e que as saudades te dêem muita força!

De ana a 29.10.2007 às 18:42

Minha querida todos temos alguém que partiu. Tal como tu tenho um anjo com quem posso falar sem ouvir recriminações, mas doi tanto a sua ausencia. Tu partiu o pai eu um irmão a dor é mto semelhante, mas acima de tudo sabemos que temos alguém que zela por nós acima de tudo e com todos os erros que temos.Beijo

De http://shakermaker.blogs.sapo.pt a 29.10.2007 às 23:09

Ora viva!

Hoje resolvi comentar apenas para dizer que continuo a ler. Ah, e também continuo a gostar. Excepto esta última parte da Mafalda Veiga, apre!

Um abraço...
shakermaker

Diz lá


Pág. 1/3



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