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Tudo aquilo que sou...
Às vezes queria ter uma varinha mágica. Vá, e tenho.
Recomeçar.
Às vezes queria ter uma varinha de condão. Eu, tipo fada, quando nem acredito em contos de fadas. Só para poder, por magia, fazer-me desaparecer a meio de certas conversas.
As pessoas são, mesmo todas, extraordinárias. Algumas, pelos piores motivos.
Mas eu gosto de gente. De gente que me acrescenta. Não de pessoas vazias, fúteis, sem nada mais alem daquilo que se vê.
E na verdade, vejo muitas mulheres perfeitas. São os cabelos esticadinhos que nem um vendaval faz sair do lugar, os saltos agulha que nunca acertam nos espaços dos paralelos, o corpo de horas infindáveis de ginásio, as refeições compostas por uma folha de alface e num dia de loucura juntam uma rodela de tomate.
Mulheres de unhas de gel, de corpos aperfeiçoados, de pestanas falsas. Mas perfeitas. Se bem que, se eu fosse homem, pediria mais cedo ou mais tarde, o livro de reclamações. Ou devolvia-a. (Eles não sabem que as mulheres assim são de manutenção cara.)
Também há homens assim! Que passam mais horas no cabeleireiro que eu. Que fazem manicura e tiram os pelos do corpo. Que acham que quanto mais os abdominais estiverem definidos, mais interessantes podem ser.
Claro está que me surge uma espécie de pena paralelamente à admiração. Admiro pela dedicação e esforço. Por saírem de casa se estiverem, no mínimo, impecáveis.
E pena por elas só assim, é que saem de casa.
- Estes óculos são do Valentino, esta mala é da Gucci, este vestido é da Dolce & Gabanna…
Eu fico sem saber o que pensar. Já percebi que tem muitos amigos estrangeiros.
- E não tens vergonha de andar vestida da cabeça aos pés com roupa que não é tua? Desde estes óculos com um parafuso desapertado até estes ténis esfarrapados, passando pela camisola de borbotos e calças roçadas, é tudo roupa minha.
Mulheres que vão em bando e que compram as peças que as amigas cobiçam. Para irem no dia seguinte, devolver. Mas sozinhas!
Ou levam para os provadores o tamanho 36. E no dia seguinte, vão trocar pelo 40.
É que realmente, tendo em conta a importância que certas pessoas dão às marcas das coisas que usam, admira-me que não andem com a etiqueta de preço pendurada. E nada pode falhar. Todas as corzinhas a combinar. E nomes de cores que eu nem sabia existirem!
Quando conhecem alguém, é mais importante saber o que fazem que o próprio nome. E tenho a certeza que não pedem logo o extrato bancário porque é apenas o primeiro contacto. Mas vão logo sabendo em que zona moram e que carro têm. Isto se a roupa lhes saltar à vista.
Vazias. Tão finas tão finas, e cagam como as outras. Aliás, nem sei como é que fazem tal acto.
Por isso acho que mulheres assim, não cagam. Nem se peidam nem arrotam.
Faz-me confusão, sim. Pessoas extraordinárias que não falam de outra coisa além da roupa de marca, da última aquisição de qualquer coisa, da nova dieta, da viagem de sonho. E analisam os outros por aquilo que têm, que fazem, que sítios frequentam, quem conhecem…
Se nos pratos da balança se colocar de um lado os quilos de maquilhagem e base, e no outro o que têm por dentro… não vale adivinhar à primeira!
Esgotam-me pessoas assim. Como disse, gosto de gente. Gente que mostra por fora o que é por dentro. Mostram-se a quem querem, claro. E só vê quem estiver atento.
Mas já se sabe… 70% da sociedade vive de e para as aparências. Os outros 20%, esforça-se por isso, mas serão sempre os mal-vestidos, os que ficam aquém, os que provocam o desdém dos outros, os colocados de lado, os que os outros 70% fingem não conhecer.
E os outros 10%?, perguntam vocês.
Ora, esses são os felizes.
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