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Tudo aquilo que sou...
Fotografia: George Kronberg
Há alturas assim... em que parece que uma tempestade desceu sobre a minha vida, que me quebrou os alicerces frágeis (ou serei eu?), que me rebentou por dentro e me deixou meia perdida, no meio de nada, no vazio. E não sei por onde começar a reconstruir a minha vida. Outra vez.
Nessas horas, como esta em que escrevo, em que as lágrimas me caem dos olhos sem as poder controlar, uma após outra, revoltadas e em fúria num rosto já tão cansado...que me aliviam o peito e a alma enquanto sufoco o rosto na almofada para abafar os soluços...nessas horas que me fazem levantar da cama tão imensa onde me mexo e remexo sem encontrar paz, por precisar escrever e deixar sair de mim o que sinto. Nessas horas que me fazem sentir a agonizar devagar. Em que me sinto frágil, pequenina... e só.
Nessas horas, como esta, em que me rendo. Me deixo levar para longe para esquecer e não sentir o peito a rebentar-se por dentro com o coração apertadinho que me quer galgar a boca e todos os sentidos.
Olho para trás e vejo o que nos ultimos anos perdi. Perdi tudo. Quase tudo.
Perdi um homem. O homem pai...
Depois disso, perdi amigos, amores, trabalho, paixões. Mais que isso: perdi-me. Já não me encontro por mais que me procure por dentro de mim. Todos os meus recantos estão vazios. Onde fiquei eu? Onde me escondi que agora não sei de mim?
Até onde permiti que a vida me escolhesse os caminhos?
E sinto-me assim, caída. De asas feridas. E pela primeira vez...sem vontade de ganhar coragem para seguir.
Pela primeira vez a deixar-me sugar devagar por todas as mágoas, por todas as dores. Pela primeira vez a deixar-me invadir por todas as sombras...
Pela primeira vez a jurar-me que não mais irei acreditar em palavras, que não mais irei confiar em alguem.
Pela primeira vez com vontade de simplesmente baixar os braços e desistir desta batalha que tenho contra a vida, ou contra a morte. Já nem sei...
Não quero ouvir...
Deixem-me ficar deitada, quieta...
Saiam e fechem a porta devagar para não perturbar o meu silêncio.
Sinto-me frágil.
Não quero saber que o céu está cinzento e que o sol não brilha. Não quero saber que o mundo inteiro está à beira do abismo. Não quero saber se as pessoas que amo irão embora tambem. Não quero saber se ao adormecer me cheguem os pesadelos que me esperam deixar dormir para me abalarem os dias, para me recordarem dos medos. Não quero saber dos livros que ficam por ler, não quero saber se não mais acordar. Não quero saber...
Cansei-me de esperar. Cansei-me de perder. Cansei-me de cair e ter que seguir em frente. Cansei-me de pensar que tudo vai correr bem, que algumas histórias acabam bem mesmo na vida real. Cansei de repetir as palavras. Cansei de viver sempre pensando no melhor caminho para não ferir ninguem. Cansei-me de olhar mais para os outros que para mim. Cansei-me... sinto-me cansada. Apenas e só. E frágil.
Não me digam nada...
Nada do que me possam dizer será novidade ou importante para mim. Eu já sei tudo isso.
As palavras que há muito esperava ouvir nunca chegaram...e mesmo que as ouvisse agora já nem sei se fariam alguma diferença em mim.
Hoje não queria um amor. Queria uma companhia que me fizesse sentir que tudo ficará bem, alguem que me fizesse sentir as palavras e acreditar nelas. Queria um regaço, um abraço, uma ternura, uma cumplicidade. Ver-me num olhar e saber cá por dentro, no fundo onde faz eco, que esse olhar nunca me irá trair.
Hoje que me sinto frágil queria sentir a força e a coragem que devo ter algures dentro de mim mas que não sei onde as guardei...
Hoje queria ter a certeza que vai valer a pena levantar-me e seguir como sempre fiz após cada perda que senti.
É o que me rebenta por dentro...sentir-me frágil e sem força. Logo eu que fui programada para resistir, para seguir em frente por mais terrivel que tivesse sido a minha dor, para chorar baixinho sem ninguem ouvir, para não quebrar. Logo eu...
Mas estou aqui... e enquanto aqui estiver seguirei em frente, tropeçando e levantando após cada queda, escorregando e dando encontrões na vida. Ou a vida em mim...
Talvez agora precise de mais tempo para me reconstruir, de cimentar alicerces e pontes. Refazer tudo o que sempre fiz...recomeçando. Mas talvez agora possa ser forte e possa viver duvidando mesmo que só deseje acreditar...
Possivelmente chegarei ao fim e ao olhar para trás irei perceber que vivi toda a minha vida enganada. Que devia ter feito tudo de forma diferente. Poderei chegar ao fim e pensar que me enganei em tudo. Mas com a mesma certeza poderei dizer que nunca enganei ninguem.
Mas daqui a nada é dia outra vez...
E a esta hora em que me sinto frágil, só queria adormecer e ao acordar ter a sensação tranquila de não sentir nada...
"Fui sempre uma lutadora.
Portanto, uma luta mais: a melhor e a ultima...
Odiaria que a morte me vendasse os olhos
e me obrigasse a passar pela vida rastejando..."
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