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Mãe... o teu amor.

Confessado por Mulherde30, em 07.06.05

Cheguei-me perto de ti com os olhos ainda vermelhos de chorar. Estavas sentada no sofá. Uma mulher pequena, a maior que conheço.
Foi sempre em ti que busquei coragem para tantas coisas.... como agora. Porque hoje quero guardar em gavetas coisas que quero esquecer. Porque hoje quero deixar de esperar. E custa-me muito fechar essa gaveta, que cá dentro, mesmo assim, teimo em não querer fechar, mesmo sabendo que talvez seja o melhor.

Deito a minha cabeça no teu regaço porque hoje preciso do teu colinho. E tu, quase instintivamente passas-me as mãos já um pouco enrugadas pelo meu cabelo.
Estavas a ver televisão quando cheguei. Ou fingias. Possivelmente pensavas o que vais fazer amanhã para o almoço, pensavas que precisas regar o castanheiro pela manhã porque os dias de calor estão aí. E ele não pode morrer.... e sim, está a ficar grande e tão bonito. Ficará uma bela árvore.
Poderás até pensar no tempo em que vias televisão ao lado do pai...e eu vos encontrava aqui a rir e a recusarem dizer porquê. Eu sei que sentes falta dele.

Vê tu mãe.... quando tiver a tua idade não terei uma filha com 30 anos a querer o meu colinho. Ainda não conheço esse amor. O amor que ensina, que responde, que fala, que não pede, que perdoa.... o amor incondicional. Aquele que no silêncio se sabe que se gosta. Que mesmo assim se diz.
Não conheço esse amor que me ia espreitar em pés de lã para ver o que estava a fazer, para me tapar de noite, para chorar por me ver sofrer.... esse amor que me levava bombocas escondidas mesmo quando estava de castigo. O amor que é cumplice, que tem segredos ao resto do mundo. Não o conheço. Nem sei se irei a tempo de conhecer.
Foi sempre um amor adiado....naquele tempo não era tempo e agora esgota-se o tempo. É quase tarde.

Tu na tua paciencia continuas a afagar-me os cabelos. Hoje precisava disto. Deste amor que não condena. Do teu. Só o teu amor é assim.
E vê tu mãe, como precisava sentir-me assim nos teus braços, criança outra vez. Sentir que me proteges do mundo, que nos teus braços posso adormecer tranquila, sem medo. Como queria que as noites não fossem tão longas, que quando me deito o sono chegasse para não me deixar pensar.

Vê tu mãe.... que agora nem as apalavras amargas que te disse ao longo da vida te fazem recusar um carinho.
- Põe o teu coração ao largo.

Tu sabes.... mesmo sem nunca to ter dito. Sabes que sofro. É por isso que não usas muitas palavras. Porque sabes que as palavras nem sempre apaziguam a nossa dor, que muitas vezes só nos fazem chorar. E tu sabes que não gosto que me vejam chorar. E sabes que não quero. Como sabes que tenho os olhos vermelhos porque chorei. Chorei porque precisava. Precisei tanto. E quando parei precisei sentir amor.

Sempre me disseste isso. Ouvi tantas vezes dizeres-me para pôr o meu coração ao largo que muitas vezes dou por mim a dizê-lo aos outros. Talvez porque sabes que é assim que se encontram os caminhos, que se o coração está pesado é muito mais dificil escolher e avaliar o melhor. Que com o coração ao largo, damos lugar a que entrem novas coisas na nossa vida, que tudo fica muito mais fácil. Escolher ou esquecer. Tu sabes que o caminho é esse, por isso mo dizes.

Mas sabes mãe, custa-me enterrar palavras e momentos que julguei serem verdadeiros. Vê tu que a tua filha continua sempre com aquela esperança que haja verdade nas palavras que me dizem. Vê tu mãe....vê lá tu que ainda acredito. E que por acreditar me custa esquecer, porque não quero aceitar que pensava que tudo era uma grande verdade quando afinal foi a maior das mentiras. Não quero acreditar, mãe.... não quero.

Já está tarde.... queria deitar-me e que me fosses apagar a luz, e dar-me um beijo de boa noite.
Sinto falta de dar o ultimo boa noite. Aquela cumplicidade que se cria entre as almas, que sabe bem dar um ultimo telefonema ou simplesmente um beijo e saber que o sono vai ser mais tranquilo porque não estamos sós.
Tenho aquele nó na garganta que me faz querer chorar. Porque lembro. Volto a reviver cada momento na memória e não chego a lugar nenhum. Refaço todas as horas. Continuo apenas à espera e não quero. À espera mãe, vê tu, à espera de palavras. De uma razão. Das palavras que tanto me custam acreditar e que acreditei.... das palavras que me trouxeram esperança ao peito. À espera de palavras mãe. Para entender. Das palavras que são nada, que podem ser pouco, mas ainda assim é a unica coisa que se tem.
Vê lá tu, mãe.... as palavras não existem. Pouco ou nada significam.

Vazio, não diz tudo

Solidão, faltam-lhe letras, tantas!

Desilusão, é pequena demais

Tristeza, não explica

Saudade, o que quer dizer?

Abandono,
Abandono só diz metade.

Preciso chorar. Mas não quero que vejas, mesmo que saibas que o vou fazer mal entre de novo no meu quarto. É por dor, sabes mãe.
Uma dor que existe porque alguem a colocou aqui. Talvez com esse propósito. E tudo podia ser tão fácil...

Custa-me falar. Se falar choro. E estou cansada de chorar. Será que sabes o que te digo assim, enquanto estou no teu colinho em silencio? Será que ouves? Ouves mãe?


- Quem me dera que fosses outra vez pequenina, Raquel. Quem me dera ver-te ainda naquele tempo em que não sabias que um dia irias sentir a palavra amo-te e sofrer por amor.

Tambem eu mãe....tambem eu.

publicado às 11:02


Confessionário

De Carlos Afonso a 07.06.2005 às 18:23

Cada um de nós deve achar e muito bem que a nossa Mãe é a melhor do Mundo!!! A minha é o meu suporte, jamais teria forma de lhe retribuir o que tem feito por mim! Preserva a tua, Rakel, porque MÃE, HÁ SÓ MESMO UMA!...Beijos...Carlos.
P.S.: Não conheces a do tecto??? LOL! Posição nº 52! LOL!

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