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Tudo aquilo que sou...
Fotografia: Andriete
Vem ter comigo, escreveste-me tu.
Eu não pensei muito, talvez porque de quando em vez é preciso libertar vontades, cansar o corpo para se dar algum descanso à alma.
Vem ter comigo, escreveste-me tu. Por vezes o corpo pede-nos um carinho que não temos para dar...e fui.
" Hoy quiero hablar de ti,
de lo que yo te amé.
Me dueles tanto, tanto,
que sólo soy viento.
Viento llegó. Viento pasó y cómo me acuerdo..."
Desliguei a musica, saí do carro. Dei alguns passos até te ver através das vidraças, lá ao fundo do bar.
________________________« »________________________
Vem ter comigo, disseste-me tu.
E eu, no meio de uma paixão que sentia nascer, fui. Fui sem pensar muito porque quando nos sentimos embriagados pelos sentidos, a nossa razão nunca tem lugar.
Olhei-me ao espelho antes de sair.
Sentia-me nervosa.
Como hoje.
Sentia-me ansiosa.
Como hoje.
Queria que aos teus olhos fosse bonita.
Sentei-me ao fundo do bar. Esperei por ti. Com o coração a mil. Sem saber o que fazer às mãos, a respirar profundamente para me acalmar. E imaginava o que me dirias quando chegasses. Imaginava até onde tudo isto nos poderia levar.
Esperei uma hora depois da outra. Deixando de lado a primeira ideia de atraso para outras. Que tinhas desistido e não tiveste sequer coragem para mo dizeres, preferindo fugir. Que não tinhas por mim um pingo de respeito ou de consideração.
(Os homens são assim...)
Senti-me a pessoa mais pequena, mais insignificante, mais frágil, mais desprotegida.
E o rapaz do bar, talvez por me ver desorientada, lá vinha de quando em vez perguntar se estava tudo bem, se queria alguma coisa (quero sim... quero acordar).
Esperei por ti, com a mesma força que lutei por nós. Nós que ainda não éramos nós. Nunca seríamos.
Esperei até sentir que caía por terra qualquer hipótese de continuar numa luta por algo que nunca tinhamos sido. E que cá por dentro queria tanto que fôssemos...
Como era possivel, depois de tudo? Onde ficavam as palavras? Os abraços? As mãos dadas? Os sorrisos? Os beijos?
Nada cabia num espaço tão imenso como o vazio que tinha no peito.E tudo o que sentia antes se transformou em desilusão, em decepção.
Porque é que quando mais precisamos das palavras sinceras, das respostas, elas nunca nos chegam?
Fiquei sozinha no bar...
Se te ligasse podia ouvir uma desculpa daquelas que só fingimos acreditar. Ou pior, podia nem ouvir nada...
Levantei-me, vim embora. E quando cheguei a casa, as lágrimas em torrente. Por me sentir tão estupida por ter acreditado.
(Afinal, foi sempre assim...)
___________________________» »_____________________
Voltei para trás. Entrei no carro. Continuei a ouvir a musica do ponto onde tinha terminado. Podesse a vida ser assim, continuar do momento onde se ficou.
"Dónde andarás? Lejos de mí?
Quién te dará, lo que te di?
Quien dormirá abrazado a tí, como yo...
Cómo me acuerdo, amor.
Como si fuera ayer.
Viento llegó, viento pasó y tú no estás aquí..."
Não esperes por mim que eu não vou... escrevi-te eu.
Talvez não o devesse ter feito. Inevitavelmente este meu coração nunca dá numa medida igual à que recebe. Melhor assim.
Vi-te a saires do bar, falando ao telefone, a rires e olhando o relógio. Seremos assim tão facilmente substituidos? Ou não... talvez sejamos apenas crentes.
Sabes o que custa? É sentir isto. Sentir que qualquer atitude minha, qualquer palavra sincera, é demais por pessoas como tu. Por saber que não há pessoas certas e acabar por ver todas como erradas. Que ao longo da vida me obrigaram a sentir a desilusão sempre que procuro lutar pelos nós que nunca seremos.
É só porque é custoso baixar os braços e viver sem acreditar. Que é cruel sentir que tudo o que se fez foi em vão. Saberás que o fardo é pesado quando sentimos que será melhor ficar por aqui? Que se perde a vontade de lutar porque já nada nos parece ser sincero nem verdadeiro?
Perde-se um pouco do sentido da vida. Quando olho para trás e vejo todas as histórias repetidas. E é triste...
É triste o que sinto quando entre uma desilusão e outra, penso:
Não vale a pena...
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