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Nesta janela sobre o mar...

Confessado por Mulherde30, em 23.07.06

stefan beutler.jpg
Fotografia: Stefan Beutler

Aqui sentada, na orla da praia, onde a água onda após onda, me beija os pés, deixo-me ir…
Sinto o sol a queimar a pele… e eu espero.

Espero porque sei que sim, entendes-me?
Vejo-me rainha num castelo de cristal, num castelo de areia, observo a imensidão de um mar que sempre te traz até mim. Cá por dentro.
Deixo que o dia se despeça devagar, que traga todas as tonalidades de laranja ao céu azul, numa mistura de cores que se mistura na confusão dos sentidos. Sentidos que te carregam comigo onde quer que eu vá.
É uma espécie de amor encantado, não é? Aquele amor tranquilo, pela metade, meio cheio e meio vazio. Um amor meio tudo e um amor meio nada. Apenas uma espécie de amor. Que não é mas podia ser. Um amor que a vida deixou, que o desejo não pôde esperar… mas não sei se nós quisemos o suficiente.
Um daqueles amores que não chegou a nascer e que por isso não pode morrer. Que se constrói os alicerces quando sabemos que neste castelo nunca vão existir paredes nem janelas de onde se possa ver o mar.
E por não o poder sentir no corpo, esse amor, se sente apenas na alma. Na imaginação, no fundo de nós, onde faz eco… torna-se um amor encantado.
Mas sabes?, hoje parece-me que não quero adiar um dia que seja, não quero ficar longe. Quero ver, sentir. Olhar-te para saber. Saber se o encanto deste amor só é visto pelos meus olhos.

E com os pés enterrados nesta areia molhada da praia, eu sei.
Eu sei…
Ou talvez não e tudo isto seja apenas o desejo de um coração de mulher a gritar.

Sei que quando for mais logo, à noitinha, me vou sentar contigo na varanda do teu quarto e o mar estará ainda aqui, mesmo sem o ver.
Vou ver o teu rosto iluminado pela chama de uma vela ou pelo calor que trago no peito, não sei.
Quando a brisa da noite chegar, vou sentir frio e vou cruzar os meus braços, descalçar as sandálias de prata e pousar os pés sobre a cadeira que está entre nós dois.

Apenas uma cadeira vaga, vazia. Estarão assim as nossas almas nesta procura do momento de desatar os nós, de deixar aquilo que amarra e que, bastando querer, não nos prende? Os nós… nós cegos e nós sós. Ou estamos longe e mais perto do que algum dia possamos estar? Ou estaremos juntos separados?

E tu, devagar, vais tocar na pele macia, por baixo do tecido do vestido colorido que me contorna o corpo, subindo-me pela perna, tocar-me o interior das coxas, descobrindo.
Os olhos procuram-se para saber…. E sabemos que o frio cá fora não diminui o calor que se começa a sentir cá dentro. Dás-me a mão, levantas-me e envolves os teus braços na minha cintura para nos embalarmos numa música que nos chega de perto, tendo como tecto um céu negro coberto de estrelas que nos espiam no segredo.


Sei que me levas para dentro do quarto, para as sombras chinesas, apertas as minhas mãos com as tuas, mãos vazias que tanto se querem, entrelaçam-se os dedos… encostas-me à parede e na mistura de sabores, procuras-me os lábios com a tua boca. E o beijo acontece. E o vestido desaparece…e toda a extensão da minha pele a descoberto aos teus olhos. E eu a adivinhar-te saboroso…
E ali encostados, vou desapertar-te os botões da camisa preta, enquanto te olho pelas sombras do quarto. E tu de dedos compridos a procurares-me por baixo do rendilhado das cuecas, a musica a tocar baixinho…
Chego-me mais perto, beijo-te, provo-te, provoco-te, cheiro-te… e os sentidos numa languidez, num torpor que inebria. Encosto as mãos ao teu peito para te sentir o bater descompassado do coração. E o coração disparado a galopar por todos os recantos, como o meu. Pelo desejo há tanto adiado, pelo prazer que só se quer libertar e que me parece hoje que deixámos sempre, erradamente, para depois….


Quando for mais logo, à noitinha. Eu sei…
Vou subir devagar, a tactear-te, a comprovar-te, a marcar-te a pele, a memorizar os contornos do teu peito, a cravar-te as unhas, subir pelo teu pescoço e enterrar as mãos no teu cabelo. E tu com as mãos cheias de mim. Nas costas, num deslize que arrepia, na curva dos rins, devagar. As tuas mãos cheias dos meus seios arrepiados, das minhas nádegas que apertas, que puxas para ti para te sentir o pulsar do desejo. Os teus dedos irrequietos e aventureiros por dentro de mim, numa procura que provoca o gemer baixinho, o fechar os olhos para me deixar levar.
Entrelaço as pernas firmes na tua cintura, apoio os braços nos teus ombros, para não te deixar partir.

E rodamos numa dança desligada, apressada, até cair no mar branco dos lençóis. Num mar onde te vou provar, esgotar e gostar. Morder e trincar. Onde vou tocar-te num toque de pólen, procurar-te com a língua deserta de ti. Sussurrar-te baixinho ao ouvido:
- Quero-te tanto…
Beijar-te a boca, beijos de língua e saliva, os cabelos em cascata sobre ti, procurar-te a língua com a minha língua, descer pelo teu pescoço, pelo teu peito enquanto te procuro as mãos para as prender por baixo das minhas. Para que não toques, apenas sintas a língua molhada espalmada no teu corpo, a viajar para sul, a lamber cada milímetro de ti, saboreando sem pressa, conhecer-te o gosto do mel, ficar-te com o sabor, deixar que a pele se arrepie….para que sintas o deslizar do meu corpo no teu, o encosto da pele suada, o desejo do amor urgente…
Quero que sintas. Apenas…
Quero que sintas tudo em câmara lenta, como se fôssemos personagens de um filme que há tanto tempo escrevemos o argumento e só hoje realizamos. Hoje, na urgência do desejo…e que já só quero saciar a vontade de tudo o que provocas em mim.


E o corpo que já só espera. O olhar que adivinha o êxtase, as tuas mãos irrequietas que me tocam ao de leve por entre a humidade, para que me abra, para comprovarem que estou pronta, que te quero dentro de mim… num começar lento, de conhecimento, de encontro ansiado. Ser o verso e reverso de ti.
O meu corpo a serpentear sobre o teu, as minhas pernas entrelaçadas nas tuas, os braços em abraços apertados, os corpos unidos e contorcidos…
O amor que se quer fazer... (ou construir?)
E sei que vou sentir o pulsar do teu corpo, a fúria de querer libertar os orgasmos, os gemidos, numa dança lenta ou desenfreada de corpos que se rasgam, que se querem…. Os corpos que se querem agarrar, que nos fogem das mãos, que nos escapam, escorregadios. O teu corpo estendido, duro, apetecível… a visão de ti que vou querer guardar. O teu corpo onde quero depositar todos os beijos que guardei.
E chegando-me mais perto, vou ajoelhar-me com as pernas sobre ti, a roçar nas tuas, tocar-te a carne entumecida, baixar-me para o teu regaço, sentar-me no teu sexo, sentir-te em mim. Roçar o corpo num vaivém delicioso, vagaroso, lento ou vigoroso.
Ser contigo e em ti a luxúria, o instinto selvagem, os desejos profanos,as gotas de mel, o paraíso, o delírio a loucura e a doçura.


A noite que se adianta lá fora no meio dos gritos dos bichos, cá dentro uma aurora misturada com gemidos, sabores, cheiros e odores de corpos misturados. Em gritos soltos ou mudos, em silêncios de olhares que dizem tudo Quando não se sabe onde começa um ou termina outro. No encaixe perfeito.
Um amanhecer perfeito.
O parar e recomeçar. Outra vez.
Aquecer por dentro, derreter-me por fora…


E no quarto o silêncio dos corpos que repousam, esgotados.
Deixar neste mar de lençóis brancos amarrotados, todos os prazeres carnais, desejos satânicos, os instintos sexuais, o fogo, as peles rasgadas, o suor que mantém a alma prisioneira…
Deixar os restos de nós que não queremos carregar, deixar esperma, tentação, tesão e suor …
Deixar aqui nestes lençóis feitos de mar os caminhos sinuosos por onde tenho andado. Deixar na berma desta cama a vergonha e o pudor. E deixar o sangue correr-me nas veias livremente, sem medo, sem receio, só porque sim.
Recordar o caminho que cruzei e onde esperei por ti.
E levar o cheiro do teu sexo impregnado nas mãos, para não esquecer…

Aos poucos o sol vai rasgar o céu de luz…e eu, com um sorriso de menina de cabelos em desalinho, dentro da camisa de cetim vermelho, vou procurar o abrigo dos teus braços e do teu peito para repousar o meu corpo feliz no teu corpo cansado.
E as nossas almas, que talvez se encontrem no mundo dos sonhos, estarão naquela paz tranquila que tanto ansiamos no mundo das coisas palpáveis para nos sentirmos livres e podermos voar.

Eu sei que será assim. Ou sou só eu?
Serei só eu que tenho medo de acordar e que tu já não estejas cá? Só eu sinto que posso provar-te e gostar-te? Só eu sinto que posso acordar com o amargo travo a pecado na boca? Só eu sinto que quando amanhecer e eu acordar, com o raiar da aurora, o meu palácio frágil de cristal se tenha desfeito em mil pedaços? Só eu sinto que posso acordar e que a água salgada do mar tenha desfeito o meu castelo de areia?

“O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar
O amor é grande e cabe no breve espaço do beijar…”

Para todas as gaivotas que mesmo tendo asas, não conseguem voar.
Mas eu ainda acredito…porque basta querer.
E um dia, quem sabe?, quando a vontade de voar aflorar a pele, se rasgue o azul do céu a cada bater de asas, que mesmo frágeis, nos podem deixar partir e sentir liberdade…
E em voos rasantes sobrevoar todos os castelos de areia e de cristal...
Quem sabe um dia?


publicado às 02:43


Confessionário

De lua cheia a 23.07.2006 às 13:40

"Pedras no caminho, guardo-as todas. Um dia vou construir um castelo." Que estas palavras de Fernando Pessoa te alentem a esperança.
Xi para ti

De ernesto a 24.07.2006 às 13:48

De karina oliveira a 24.07.2006 às 17:50

Mais uma vez vou pedir que me emprestes parte destas tuas palavras....
Eu não escreveria de um modo tão perfeito.
Estás no auge.
Senti cada letra destas tuas palavras, é incrível como tu escreves aquilo que eu sinto e eu sinto perfeitamente o modo como expressas o que sentes.
"Eu sei que será assim. Ou sou só eu?
Serei só eu que tenho medo de acordar e que tu já não estejas cá? Só eu sinto que posso provar-te e gostar-te? Só eu sinto que posso acordar com o amargo travo a pecado na boca? Só eu sinto que quando amanhecer e eu acordar, com o raiar da aurora, o meu palácio frágil de cristal se tenha desfeito em mil pedaços? Só eu sinto que posso acordar e que a água salgada do mar tenha desfeito o meu castelo de areia?"

Perfeito e é exactamente o que sinto hoje!
Grande beijo e até breve!


De artur a 25.07.2006 às 00:09

s

De easy a 25.07.2006 às 10:22

bonito...muito bem escrito! Sentido. Espero que seja ficção. Desejo que seja ficção. vou voltar para ler-te mais.
1 beijo
easy

De Rui a 25.07.2006 às 15:46

Numa só palavra... Sublime!

De mulherde30 a 25.07.2006 às 17:04

P/ LUA CHEIA: sempre me acompanharam... é que tambem eu guardo todas as pedras que a vida (ou os outros) me colocam no caminho. E sei que um dia, tambem eu vou construir um castelo. Mas não um castelo frágil de cristal, nem de areias que se movem do lugar. Obrigada pelo teu carinho. gosto de ti, sabes?...b'jinhos

De EUNAODESISTO a 25.07.2006 às 17:19

ESTÃO A ABANDALHAR A BANDEIRA DE PORTUGAL NUM PSEUDO BLOG DE ESQUERDA DENUNCIEM ESTA ATROCDADE. NA BANDEIRANÃO SE TOCA PORTUGAL SEMPRE VIVAM OS SIMBOLOS NACIONAIS.
FORA COM O BLOG http://dizeresmeus.blogs.sapo.pt (http://dizeresmeus.blogs.sapo.pt)
VIVA PORTUGAL




De mulherde30 a 26.07.2006 às 13:30

P/ ERNESTO: sabes vizinho?essa história do principe é que não me agrada muito.... é que a cada beijo sabes no que é que eles se transformam, não sabes?... mas quem me dera que nesta cama, umas mãos que anseio, me fizessem renascer! ...b'jinhos

De mulherde30 a 26.07.2006 às 13:34

P/ KARINA: empresto sim... mas claro que ao ler, nem parece que foi algo escrito por mim. Tenho que me habituar, quando for famosa, não sei não! hehehehehehhe... nem sempre há outra forma de se dizer que se gosta de alguem, especialmente quando é um gostar cheio de barreiras e medos que sozinhas, não conseguimos vencer, ou que nem sequer está nas nossas mãos. Nós nem somos muito diferentes... mio mundo sente como nós, só que não diz. E aqui entre nós, quem me dera estar no auge!...B'jinhos

Diz lá


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