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Tudo aquilo que sou...
Fotografia:?
Hoje fui a um funeral.
Não que tivesse uma relação chegada com a pessoa. Mas conhecia e admirava. E achei que devia ir. E fui.
Não levei flores. Se durante uma vida nunca lhe ofereci nada, não seria na morte...
No fundo é tudo tão fugaz...
Serve um pouco de consolo saber que morreu a fazer algo que adorava. Poucos podem ter o mesmo fim.
Mas não é de morte que quero falar. Até porque morte é fim. Dizem uns. E inicio dizem outros. Os crentes.
Quero falar, isso sim, de tudo o que envolve uma morte.
A presão que "os outros" exercem sobre os mais chegados. É tudo avaliado ao pormenor. Como se esses "outros" tivessem a obrigação de colocar caras com ar desfeito e fincar pé em casa da viúva. Só para ter a certeza que ela não dorme, não come. Convém que chore e grite muito e vista o preto. Se fizer algo que não seja isto é porque não gostava assim tanto dele.
Ficam ali, como abutres para ter a certeza que a dor se expressa desta forma e não doutra. Como se fossem espiões da moral e dos bons costumes. Fracos. Que no nada que são, buscam as forças no sofrimento de quem os rodeia para terem um pouco de alegria quando amanhã, ou mais tarde, de dedicarem aos comentários.
_________________# silêncio #______________________
Estava ali no cemitério, debaixo de chuva, a pensar nisso. A pensar naquilo que "os outros" fazem para piorar a situação. Se assim não for, é isso que ficrá na lembrança. Na memória de gente pequenina, pequenina, pequenina...
Estava ali, a ver os rostos. Os que se expressam nas lágrimas e os que se remetem ao silêncio. A dor, tal como o amor, tem muitas formas.
E eu ainda. A pensar. A pensar quem estaria por ali, com ar desoldado e que tanto mal lhe desejou em vida.
A pensar que num insante tudo acaba para quem vai. E muito se perde para quem fica.
Ali, a divagar... ainda eu.
Os funerais tambem servem para outras coisas... sorrir, pr exemplo. Ao lembrar de uma ou outra situação. Mas sem que "os outros" vejam para não dizerem depois que ainda nos estamos a rir da situação.
Os funerais servem para libertar lágrimas contidas. Para se chorar os gritos encolhidos no peito.
Chorar por quem vai. Chorar por nós, que ficamos.
Chorar pelos outos que já deixámos partir. Chorar de saudade, pelos que amámos e amamos e não vemos mais.
E chorar ainda mais por medo.
Medo que nos possamos distrair e num segundo, tambem a vida acabe para aqueles que ainda se mantêm pertinho de nós...
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