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O outro lado...

Confessado por Mulherde30, em 27.01.09

Cemiterio_Consolacao13.jpg
Fotografia:?


Hoje fui a um funeral.
Não que tivesse uma relação chegada com a pessoa. Mas conhecia e admirava. E achei que devia ir. E fui.
Não levei flores. Se durante uma vida nunca lhe ofereci nada, não seria na morte...
No fundo é tudo tão fugaz...

Serve um pouco de consolo saber que morreu a fazer algo que adorava. Poucos podem ter o mesmo fim.

Mas não é de morte que quero falar. Até porque morte é fim. Dizem uns. E inicio dizem outros. Os crentes.

Quero falar, isso sim, de tudo o que envolve uma morte.

A presão que "os outros" exercem sobre os mais chegados. É tudo avaliado ao pormenor. Como se esses "outros" tivessem a obrigação de colocar caras com ar desfeito e fincar pé em casa da viúva. Só para ter a certeza que ela não dorme, não come. Convém que chore e grite muito e vista o preto. Se fizer algo que não seja isto é porque não gostava assim tanto dele.
Ficam ali, como abutres para ter a certeza que a dor se expressa desta forma e não doutra. Como se fossem espiões da moral e dos bons costumes. Fracos. Que no nada que são, buscam as forças no sofrimento de quem os rodeia para terem um pouco de alegria quando amanhã, ou mais tarde, de dedicarem aos comentários.


_________________# silêncio #______________________

Estava ali no cemitério, debaixo de chuva, a pensar nisso. A pensar naquilo que "os outros" fazem para piorar a situação. Se assim não for, é isso que ficrá na lembrança. Na memória de gente pequenina, pequenina, pequenina...

Estava ali, a ver os rostos. Os que se expressam nas lágrimas e os que se remetem ao silêncio. A dor, tal como o amor, tem muitas formas.
E eu ainda. A pensar. A pensar quem estaria por ali, com ar desoldado e que tanto mal lhe desejou em vida.

A pensar que num insante tudo acaba para quem vai. E muito se perde para quem fica.

Ali, a divagar... ainda eu.

Os funerais tambem servem para outras coisas... sorrir, pr exemplo. Ao lembrar de uma ou outra situação. Mas sem que "os outros" vejam para não dizerem depois que ainda nos estamos a rir da situação.
Os funerais servem para libertar lágrimas contidas. Para se chorar os gritos encolhidos no peito.
Chorar por quem vai. Chorar por nós, que ficamos.
Chorar pelos outos que já deixámos partir. Chorar de saudade, pelos que amámos e amamos e não vemos mais.


E chorar ainda mais por medo.
Medo que nos possamos distrair e num segundo, tambem a vida acabe para aqueles que ainda se mantêm pertinho de nós...

publicado às 22:48


Confessionário

De Blue Sea a 02.02.2009 às 15:30

Olá,é a primeira vez q venho aqui e encontrei este tema que para mim é muito interessante. Acabei de postar um texto sobre a Morte que escrevi quando o meu Pai partiu. Para mim este tema é muito interessante por ser inevitável. Por tudo à nossa volta nos mostrar o ciclo de vida e morte e nós insistirmos em não olhar para ela.
Concordo que o tempo não cura. Só nós podemos curar-nos.
Sobre o riso no cemitério, identifiquei-me bastante. No final do funeral do meu Pai, disse aos meus ex-colegas de trabalho (que foram todos) com um sorriso "Obrigada por terem vindo. Se o meu Pai aqui estivesse ofereciasse para vos pagar um copo, mas como não bebo, dou beijinhos." Olharam-me chocados... Eu a fazer uma piada minutos depois de enterrar o corpo do meu Pai. Sorri de volta: "O meu Pai estava sempre a dizer piadas e gostava de ver as pessoas bem-dispostas. Alegria e boa disposição é o que ele gostava que eu tivesse na minha vida".
Depois disso eu e os meus irmãos, cunhados e uns amigos fomos beber águas para uma esplanada e à noite fomos jantar todos e estivemos até ás 3 da manhã a contar histórias do meu Pai.
Passou um ano e meio e nos meus dias dificeis a saudade do seu abraço aperta, mas estou em paz porque ainda estou a viver o meu luto.
Obrigada pela tua partilha e por poder partilhar.

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