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Tudo aquilo que sou...
Fotografia: Raquel
E porque hoje é domingo, porque não partilhar? Porque não dar de presente a quem por aqui passa um pouco mais de mim?
A noite foi longa. Cansei o corpo, dei descanso à alma. Esqueci das outras coisas, das que penso no escuro, quando fecho os olhos para ver mais além... sem conseguir.
Enquanto ri, enquanto dancei, adiei o que pesa no peito, o que arrasto cá dentro. Sempre sem saber muito bem o que é. Sem saber o que resta de mim em mim. Ou apenas sentir saudades de mim. O que está aqui e não consigo que se liberte.
Perco-me na noite e acabo em manhãs em que não me encontro.
E parece-me que só queria voar...
Acordei tarde sem ninguém. Toda eu do avesso.
Sentir o abandono quando já só me resta o silêncio.
_____________»silêncio«________________
E sinto a falta das manhãs de domingo. Em que se acorda e se espera que as horas se prolonguem em conversas que fazem sorrir, em carinhos, em meiguices, em toques de pele. A falta do pequeno almoço dividido nos lençóis, os corpos entrelaçados a ouvir a chuva ou a sentir o sol, escutando musicas que sempre falam de amor. Ficar assim, quietos, estendidos noutro corpo que nos roça os segredos, a falar de coisas sem destino...numa melancolia que não dói, espreguiçando as almas em almofadas com cheiro a momento feliz. Gastar o tempo, amarrotados. Deixar que os minutos levem para longe os passados magoados. Dividir, para que tudo o que é bom se multiplique. Um dedo por entre cada um de outros dedos...
E esta foto...
Um dia de outono, uma tarde de sol...a praia da Barra e eu.
E eu que hoje queria apenas escrever.
É o que faço...rabisco-me aqui e ali, sem nunca gostar do final das histórias. Com os dedos escrevo quando queria, isso sim, curar de vez as cicatrizes mal curadas.
Refazer as histórias, refazer-me. Transformar-me. Ser capaz. Não ter aqui a mágoa que já não me deixa acreditar...deixá-la num sitio qualquer.
E por dentro, onde estou apenas eu, rasgo palavras. Rasgo os pedaços deixados por entre os pedaços de mim. Escrever tanto e deixar sempre tudo por dizer...
Mas quando me procuro, dôo-me por dentro, cá no fundo onde até o silêncio ensurdece.
Queria apenas ter alguem a quem dizer qualquer coisa, ou ter qualquer coisa para dizer a alguem. Não estar sozinha, quando nem sequer estou só.
Apetece-me olhar os caminhos por onde a vida me leva. Quero ver as areias quase movediças onde me movo, devagar. Numa melancolia de vida que de tão completa se torna vazia.
Tenho dias assim...fico nesta praia, vejo o mar, as ervas que insistem nascer nas dunas contra todas as tempestades e que permanecem, ano após ano.
E o que sinto, aqui, é que tudo perde o sentido quando perdemos o sentido de nós.
De que vale tudo, se não há outros olhos para verem o mesmo que nós...
Como confissão: a vida, sem um amor, terá sentido? Afinal, de que ando eu à procura, sem nunca sair do lugar? Mas parece-me que a vida sem ternura não é grande coisa. Eu, deste jeito meio triste, apenas sou feliz entre espaços, entre pontos finais...
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