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Relato oficial...

Confessado por Mulherde30, em 07.06.07

Lasvegas.JPG
Fotografia: Raquel (euzinha)

Agora que já organizei as respostas das cartinhas acumuladas na caixa de correio, que já vos respondi aos comentários...
Agora que já matei as saudades da familia, dos amigos...
Agora que já namorei muito (mesmo sabendo a pouco)...
É hora.

Quero partilhar. Dizer que se ao partir senti medo, parece-me agora um mal necessário.
Adorei sentir na pele uma forma estranha de liberdade. Sentir-me estranha. Ver-me por dentro e ver toda a minha vida de longe.
Era isso que pretendia. Foi isso que consegui.

Claro que eu, mulher rude do campo, sem nunca ter saído deste meu país à beira mar plantado (Espanha não conta), vi tudo de uma forma talvez muito maior do que realmente é. Mas na verdade, devo ter parecido uma burra a olhar para um palácio. Deslumbrada ao mesmo tempo que tudo me parecia esquisito.

Por fora não sofri nenhuma alteração. Nem podia. No máximo, emagreci pela fome que passei. Entre comidas diferentes mas sempre com o mesmo sabor, comida chinesa ou mexicana, eu fiquei-me pelas batatas fritas, bolachas e maçãs.
Pronto, OK, venho com uma corzinha. E aproveito para dizer que é um bocado chato uma gaja sair de 40º para chegar aqui e voltar a usar lãs e botas. Fica aqui a reclamação.

Se calçava os ténis em cor de laranja, onde quer que fosse, sempre havia alguem que me dizia que gostava dos meus sapatos.
E agradecia enquanto pensava para mim que não são sapatos, são ténis. Só para começar. E alem disso, são apenas uns ténis cor de laranja! (E eu é que pareço parôla???)

Claro que, nos supermercados, quando se dirigiam a mim com aquela simpatia que lhes rasga um sorriso profissional, aproveitei para responder em português e observar a reacção de quem ouve e não faz ideia do que lhe dizem. Mai nada, para não se armarem em senhores-muito-importantes-donos-do-mundo.


Parei nos Estados de Nova York e Pennsylvania.
Viajei pelos Estados de California, Nevada, Arizona, Novo México, Colorado, Wyoming, Nebraska, Oklaoma e Texas.
E podem calcular as vezes que precisei mostrar a identificação aos oficiais da Imigração...
Talvez consigam calcular os km que percorri e a variedade de coisas que vi.
Bom... não vi nenhum Tornado. Coisa, que, sinceramnete, não me deixa triste.
Mas passei por paisagens incriveis e pelas 4 estações do ano.
E posso dizer, sem hesitar, que gostei de visitar Beverly Hills e ver as mansões de gente pobre. Gostei de visitar Malibu e banhar os pés no Oceano Pacifico (fiquei receosa dos tubarões!), Los Angeles, Phoenix... que achei giro ver o Tom Cruise ao meu lado no seu Ferrari vermelho e ir ao Zoo de San Diego (e que bom era que por semana os nossos tivessem as visitas que aquele tem por dia!). Gostei das reservas dos Índios, do deserto de White sands, de ver o Rio Colorado em paisagens tão diferentes... entre tantas coisas mais.
Mas no topo fica Las Vegas (no grupo de paisagem urbana) e o Grand Canyon (no grupo de paisagem natural).
Cidade é cidade. O homem imagina e cria. Em Las Vegas perdi a cabeça e aventurei-me nas loucuras do Stratosphere. Não, não me atrevo a mostrar fotos a quem quer que seja que pareço uma anormal. Mas consegui ir apesar de só pedir que Deus fosse Português, ou que pelo menos entendesse o meu pedido de ajuda! eheheheheh
Fica apenas uma foto que tirei do observatório. E vão com sorte.

A natureza tem sempre em mim um impacto diferente. E por mais que quisesse, não vos conseguia descrever o que senti no Grand Canyon. É preciso ir. Ver. Sentir.
Porque é simplesmente fascinante de tão soberbo que é.


Era tudo tão XXL que a roupa, só mesmo de criança.
Tudo estranho para uma beirã.
E eu ali, de olhos arregalados a achar um bocado esquisito as portas das casas de banho publicas não serem completamente fechadas, do papel higiénico ser mais largo, das sanitas parecerem entupidas. De não ter nada em tamanho pequeno, de pedir um copo de água e pouco falta para me apresentarem um garrafão. E os teclados, enfim, claro que dá nos nervos não ter acentos para escrever correctamente (ou o melhor possivel).
Às rectas imensas das estradas e a não ter que pagar portagem. A ver as pessoas com 3 vezes o meu peso. A comprar tabaco aos mais variados preços e recorrer aos Índios para o comprar mais barato.
Era eu a viajar de camião, a dormir no camião, a comer no camião. 4 dias sem tomar banho (não, não me orgulho nadinha). A fazer pausas em paragens de camiões para ir fazer xixi e ouvir as mulheres a peidarem-se sem me conter no riso fácil. Ou brincar com outros motoristas via rádio.
Eram os olhos fixos em mim que afinal, nem me incomodaram nadinha.
Era o vizinho a pedir-me um beijo na boca.
Era eu a ouvir o meu nome distorcido.
Eu na piscina para aproveitar o calor que se fazia sentir em Lake Havasu City.
Era eu de mecânica nos ultimos dias para conseguir chegar a horas ao aeroporto.
Era eu de bagagem a rebentar pelas costuras a chegar ao aeroporto em cima da hora, com as lágrimas nos beirais, com um medo a consumir-me por sentir que podia não ser capaz. Mas fui...
Era eu que só me apetecia soluçar quando comecei a ouvir falar Português, em Philadelphia.


E eu, mais tarde, depois de 40 horas sem dormir a chegar a uma Lisboa de nuvens em forma de algodão doce a romper um azul de céu... onde me esperava um homem de olhos humidos que me fez rebentar as lágrimas há tanto tempo presas pela saudade. Sem flores, sem palavras. Um abraço apertadinho e uma multidão de olhos fixos em nós.

E agora estou aqui. De regresso à minha casa, à minha cama, à minha banheira, à minha musica, ao meu carro, ao meu blog.
A procurar um trabalho.
A viver um inicio de uma história de amor.
Com esta sensação em mim... a de que sonhei, ou que ainda não parti.

Como confissão: a todos vós, vos repito, de coração, o meu obrigada. Pela ajuda que me deram, pela coragem e pela presença. Amigos sem voz nem rosto, amigos de sombra, que estiveram aí. E isso, vale o que vale. Afinal, não é preciso muito mais... e acredito que saibam o carinho que vos tenho.
Se tenho horas em que me sinto útil quando depois do blog me chegam à caixa de correio com cartinhas que expressam ou disfarçam pedidos de ajuda, ou as outras em que se procura apenas alguem para conversar, tambem voces têm na minha vida, um papel muito importante. É por isso que não me canso de vos dizer que vos agradeço...muito.

publicado às 21:22


Confessionário

De Rui Rocha a 07.06.2007 às 22:34

Olá Raquel, antes demais parabéns e muito boa sorte para vós. Quero que saibas que fiquei muito contente ao saber que tudo ficou bem, e que o que fizeste valeu a pena. Já diz o poema "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena..." Demonstraste grande coragem e uma audácia invulgar, por vezes reciei que algo correce mal, mas acreditei que saberias vencer. Ao longe tudo ganha uma beleza maior, e nem lá te esqueceste de nós, e isso foi lindo. Cá esperamos por ti, de volta à tua felicidade. Gostava de ter estado no aeroporto e ter visto essa cena cinematográfica, só de imaginar comove. É muito bom saber que agora terão uma nova vida, uma nova oportunidade, uma nova esperança, uma nova felicidade conjunta, lutem juntos por ela, todos os dias, todas as horas, todos os minutos... Nunca se esqueçam de lutar não deixem que a rotina diária corroa a vossa felicidade. Façam o maior projecto de vida, amem-se diáriamente como no primeiro momento (o do aeroporto por ex.) Parabéns, mereces muito. Obrigado por tudo...

De lili a 07.06.2007 às 22:37

Minha linda q viagem hein?muita bagagem, muita história pra contar.É sempre bom expandir os horizontes,ver q o mundo é maior do q o nosso mundinho,espero q essa experiência tenha te deixado mais forte(como parece ter deixado)e tenha te trazido pra casa com um novo olhar diante da sua vida.
Bjocas de quem torce muito pela tua felicidade e teu sucesso!!

De Anita a 07.06.2007 às 22:54

Eu é que tenho de agradecer o facto de me levares a esses sítios e me fazeres sentir a liberdade que tiveste durante esses dias. PArabéns pela coragem! Quem dera poder fazer o mesmo. Bem vinda de volta a nós! Jinhos para ti

De Serena Loucura a 07.06.2007 às 23:06

Finalmente tenho que dizer algo...Raquel, tanto me revi em muitas muitas coisas que foi escrevendo mas que eu li de uma assentada só porque só há pouco descobri este seu cantinho, as mesmas duvida, mágoas, angustias, também ansiando por me encontrar, e tenatando tomar coragem para dar o salto...já me despedi... mas... será que preciso de ir aos states p me encontrar e quiça encontrar o amor e tudo e tudo...? Tou completamente roidinha de inveja mas na esperança que eu também consiga... Muitas felicidades para si!!

De lua cheia a 08.06.2007 às 01:27

Li este teu texto de um trago só, como uma criança que ouve uma história de olhos arregalados e diz incessantemente "E depois? E depois?":) Sabe tão bem ter-te de volta enquanto alguém mais enriquecido. És sem dúvida uma mulher-viagem e não uma mulher-fuga como temi no dia em que nos revelaste que partias.Sê bem vinda à tua casa e àqueles que te querem tão bem. Um dia destes ainda te faço um bolo de boas-vindas:), não por teres regressado, mas pela vida nova que agora começas e que, concreteza, te trará muitas das dádivas e desafios que mereces e de que urges para prosseguir:)
Xi gande para ti Raquel:)

De Belinha a 08.06.2007 às 11:01

Há coisas que não se agradecem..., mas obrigada Raquel por partilhares esses teus momentos fantásticos e únicos de forma tão sublime e sentida que parece mesmo que tb nós estamos lá...!
Bem... e a cena "hollywoodesca" no aeroporto...! No mínimo comovente (muito!)! (Confesso que sempre sonhei com um momento assim tb...!)Aproveita e disfruta tudinho com muita alegria e muita paz que finalmente parece teres encontrado! Já era tempo...! Fica muito bem! Beijinhos :-)

De bruno a 08.06.2007 às 11:06

Sei que voltaste mais forte, convicta, e esta viagem tornou-se uma experiência pivot, como uma árvore que brotou pela primeira vez frutos, só espero que continue a crescer a grandeza, a virtude, a beleza de ter-te junto a tanta gente, por vezes desconhecida, mas tão proxima e por mim falo...fazias muita falta...ah e o teu boy que se cuide, e te trate bem senão...acaba por dormir no chão!!! beijocas

De nene a 08.06.2007 às 12:18

BoaZona, parab

De euzinha a 08.06.2007 às 13:33

Que viagem fantástica essa que nos descreveste! Ainda bem que ja recarregaste as energias...e fico contente por estar quem tu querias à tua espera quando chegaste!Desejo-te boa sorte na procura de um novo trabalho,o que nao será dificil para alguém com o teu talento!Um dia quando for grande também vou partir numa aventura desse género...eheheh B'jinho e fica bem:)

De Passo a 08.06.2007 às 13:45

altamente essa tua estadia nas terras do tio sam :) ... isso éq foi pos gajos na pensarem q portugal é uma peninsula hispanica :P heheheh bem regressada a casa, embora casa seja onde nós estamos :) ... bjokas docitas

Diz lá


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