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Tudo aquilo que sou...
Fotografia: Rogério Felicio
Esta noite, fiz amor contigo.
Podia até dizer que construímos amor. É que sempre sinto que o sexo se faz, não o amor. O amor conquista-se e constrói-se.
Tu estavas em frente à lareira, à meia-luz, quando me cheguei perto, depois de um banho quente de banheira de águas perfumadas.
Tocava uma música que embala a alma. E eu, entre rendas e cetim, cheguei-me a ti, devagar. Os cabelos caídos pelos ombros, a roçarem as costas, ao de leve, em desalinho, ainda húmidos.
Sorri-te. Puxaste-me para ti, abraçaste-me
e começamos numa dança tranquila do corpo, numa contradança doce da alma.
A tua mão na minha cintura, a outra segurando a minha. Encostei a cabeça no teu peito. A sentir-me protegida, a saber que nada mais é preciso alem disto para sentir a plenitude de qualquer coisa boa que pode haver por dentro de nós. A sentir medo de perder o pé ao mergulhar neste mar revolto dentro de mim.
Disseste-me ao ouvido:
- Quero-te tanto!
Apertaste o meu corpo contra o teu, naqueles abraços que nos fazem acreditar que tudo é possível. Desapertaste o laço de cetim da camisa sem desprenderes os teus olhos de dentro dos meus.
A musica. O calor da lareira, as sombras chinesas nas paredes. Eu e tu.
Tu a dizeres que me querias, eu a sentir isso no corpo e no teu olhar. E eu no silencio a dizer-te que também eu.
Procurei-te a boca para pousar a minha, desvendei com a minha língua a tua. Trocas de sabores, de saliva. O coração a galgar as margens do ser, acelerado. Tu num sorriso a tocares-me ao de leve, eu a tirar-te a roupa.
A respiração que se torna ofegante, desenfreada, a humidade a tomar conta dos poros. A sentir por trás dos panos o teu sexo entumecido, e debaixo do rendilhado, o meu a pulsar por ti. A desejar que entrasses em mim. Num amor urgente, emergente, que não pode esperar.
E fomos parede, sofá e chão. Fomos água, espuma e cama. Sem limites, na plenitude, fomos um corpo noutro corpo. Sem ter um inicio nem fim. Fomos continuação sem deixar de sermos nós. Sem deixar de nos olhar, de nos tocar, de nos amar.
Sentindo-te num vai vem dentro de mim, num toque de pólen, num amor feito à flor da pele, num arrepio. Tesão, suor, sexo duro, pele, amor, gemido, sofreguidão, saliva, almas.
Acordei ainda a sentir-te em mim. Fiquei quieta a olhar o tecto, a saber que lá fora já brilha o sol e que tu
tu estarás algures, mas não aqui. Numa cama que não esta imensa e fria.
E arrastei-te todo o dia comigo. O teu sabor na minha boca. O teu cheiro no meu corpo. E um sorriso meio tonto, por ter sentido tudo de forma tão real, mesmo sabendo, cá por dentro, que há sonhos que nunca passam à realidade, apesar da vontade...
"Eu sei"... apenas porque hoje me sinto assim, vou pedindo baixinho aos céus que te tragam de volta para mim.
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