Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Tudo aquilo que sou...
Quero apenas que o dia hoje termine rápido. Que as horas galguem os minutos.
Quero sair daqui, entrar no carro e partir. Hoje não vou ligar o rádio nem fumar um cigarro. Irei pelas ruas sentindo a noite que vem chegando, devagar...
Quando chegar a casa vou para o meu quarto. Já não vou precisar conter lágrimas nem forçar sorrisos.
Hoje não quero bacalhau com natas, nem profiteroles. E mesmo que veja pêra rocha ou uvas red globe não vou comer.
Vou pôr a água a correr...talvez até com espuma. Quem sabe as imagens que trago acabem por se perder por lá, quem sabe até faça de conta que a espuma é uma nuvem ou as asas de um anjo.
Vou pôr o cd "lesiem" para que os pensamentos não tenham voz.
Vou descalçar-me. Tornar os meus passos mais leves.
E ao despir-me, deixarei a roupa espalhada pelo chão. Como se ao despir-me espalhásse tambem a dor e mágoa contidas em mim...
De cabelo mal amarrado, vou mergulhar na banheira de água quente, para que não saiba se no meu rosto deslizam gotas de água ou lágrimas, na esperança de que limpe a alma... e assim, deitada, vou fumar um cigarro.
A água irá arrefecer. Nessa altura, envolverei o corpo com a toalha branca que odeio.
Vou escovar os dentes dos sorrisos amarelos que hoje ofereci.
Não quero ligar a tv, não quero ler. Hoje não vou ler. Hoje vou mimar-me. Vou passar o creme que dizem ser anti rugas. Dizem...
E vou pegar no hidratante corporal que tem cheiro a época feliz.
Poderia até dormir sem roupa, mas vou ter frio. Melhor vestir o pijama. O azul.
Vou desligar o cd que nesta altura irá na musica favorita... não quero. Dói ouvi-la.
Hoje não quero ouvir a voz de quem me pode dizer que tudo passa,... que um dia, quando menos esperar,...que vou ver,...que preciso de um novo amor...blá, blá, blá. Não quero ouvir tudo aquilo que já sei.Hoje não quero ouvir palavras que me possam fazer chorar. E por isso, o telefone pode tocar, hoje não vou atender.
Vou deixar que os lençóis me abracem, que a almofada seja o colo que não tenho.
Vou ligar o pequeno rádio de cabeceira para tocar em 59 minutos que espero não ouvir.
Vou fechar os olhos e adormecer. Sem pensar, sem lembrar, sem sofrer. Vou adormecer esperando apenas que amanhã chegue depressa.
Faz hoje precisamente um ano, que estava sentada a assistir de camarote a uma das maiores mudanças dos ultimos tempos. Sentada à espera de ver...
Há um ano era apenas a mera espectadora da minha própria vida... e pelo menos hoje, só hoje, não quero lembrar.
Só hoje...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.