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Tudo aquilo que sou...
"Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
e que nele posso navegar sem rumo,
não respondas
às urgentes perguntas
que te fiz.
Deixa-me ser feliz
assim,
já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer enquanto
o nosso amor
durou.
Mas o tempo passou,
há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
matar a sede com água salgada..."
Miguel Torga
Hoje as palavras abandonaram-me. Não encontro nenhuma que possa exlicar ou dar sentido ao que sinto... ficou tudo tão vago, tão vazio. Logo eu que vejo as palavras como puzzles que juntas dizem tudo quando sozinhas nada valem. E hoje, num dia assim, nenhuma me diz nada.
Logo hoje que precisava delas...que os pensamentos teimam em voar para dias e noites já tão distantes e tão ontem...
Aproveito o sol e sento-me na beira do rio...e vejo que ele parece correr para um lado, quando afinal o seu percurso é para o outro, para o mar. Talvez eu seja assim tambem, teimo em contrariar as correntes que me querem levar, resisto lutando, não quero ir...deixem-me aqui a esperar.
Mesmo que saiba que a espera não tem razão nem sentido. Quero apenas ficar aqui. Porque acredito. Ainda.
Embrenho-me num livro, em histórias que não são minhas, entro em personagens para que por instantes possa viver outra vida qualquer.
E a noite chega, anunciada pela brisa que arrepia, que despenteia... e eu assim, sentada a dizer até amanhã ao sol, esperando a noite, a madrugada e a aurora...para ver outra vez o dia começar. Sem ninguem. Sem o corpo que habita o outro lado da cama, que partilha o toque, o gosto do beijo, o mundo. Apenas mais um dia. Só. Toda eu.
Talvez à noitinha, o peito se encha de estrelas e de astros, quem sabe brilhe por um momento que seja... por uma voz.
Hoje não quero as amigas nem as conversas que entram pela noite, mansas...hoje não tenho as palavras que sempre esperam ouvir de mim.
Hoje quero o silêncio...e suplicar uma e outra vez ao peito que te arranque daqui. Já não te quero cá dentro, quero tirar os teus restos ...o teu cheiro que ficou na pele, o teu riso, a voz que teimas em sussurrar ao meu ouvido.
E mesmo assim, nos meus recantos, tenho medo que tudo isso desapareça e fique nada...porque as coisas que aqui deixaste ainda são as mais bonitas de uma história que nunca chegou a começar.
Queria apenas que as imagens deixassem de estar aqui a vaguear, que não irrompessem pelos sonhos, que torturassem as madrugadas quando o sono não vem. Queria que chegassem sem magoar, devagarinho ...agora que sei que não quero reviver nenhum passado...nem sequer remexer em sentimentos já tão remexidos e revirados.
A vontade que tenho de esquecer é quase tão grande como a que tenho de nos lembrar... é que se esquecer, já somos dois. E depois quem contará os retalhos dos momentos em que o coração batia mais forte e dava aquele aperto no peito? Ninguem...
Como confissão: quero deitar nos lençóis sem cores, ouvir a musica que toca baixinho, ver a luz que entra pelos estores trazida pela lua, não me deixar embalar em pensamentos que nestes dias não me abandonam e nos quais não quero pensar, não assim...
Quero adormecer...e pensar que os toque do cetim são os teus dedos que deslizam na minha pele, devagar...
Ainda me dóis...custas-me tanto!
Porque desgasta tanto arrancar do peito a ausência, a falta e a saudade?
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