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Tudo aquilo que sou...
Maria:
Ao ler as tuas palavras, chorei.
Percebi a confusão, a tristeza, o desalento nelas contidas...
Posso dizer-te muita coisa, provavelmente tudo o que já sabes. Quem está de fora vê com outros olhos, isso porque não sentimos. Tu, ao contrário de mim, sentes tudo o que se está a passar nesse emaranhado de sentimentos no qual te encontras.
Por vezes seguimos por caminhos que não queremos mas a verdade é que arriscamos e muitas vezes perdemos.
Assim, do nada, confessares-me uma traição, fez com que me pesasse o peito. Nós sabemos de algumas traições dos amigos e das nossas, mas uma desconhecida dirigir-se a mim e confessar-me tal atitude fez com que eu visse o teu desespero... "jamais pensei que isto pudesse acontecer" -escreves.
Não, não te condeno. Não condeno porque não posso e digo-te que tu, mais do que qualquer outro ser, sabes o porquê. Eu tambem sei. Eu tambem já traí, já fui trída, já ajudei a trair.
Todos traimos. O importante é saber quem trais: o teu esposo, ou a ti própria? Se o amas, não destruas o que tens como certo. Se não amas, vai.
O tempo vai passando e de repente damos por nós a viver uma vida que não queriamos e que mesmo assim pouco fizemos para a mudar.
E eu, que estou aqui tão longe, vou dizer-te o que penso.
A rotina destrói-nos, massacra-nos...atira-nos para uma condição.
Hoje és mãe, és esposa.
Quando os dias parecem tão iguais, do nada vem alguem diferente, com rosto diferente com um jeito diferente, com palavras diferentes... e damos por nós consumidas pela paixão. Por mais cruel que te possa parecer tudo isto, eu consigo entender as traições. Uma vez, duas, três... mas todo esse novo prazer causa adrenalina e o pior é que essa mesma adrenalina vicia e chega um momento em que já não conseguimos parar ou voltar atrás, sabemos que nada será igual. "o pior é que não sinto vontade de parar"
Por tudo isso, sentes que alguem te quer, te deseja, te presta atenção... enquanto que no outro lado da ponte está a tua paz familiar.
Diz-me: há dez anos atrás, como era a tua relação? Exactamente. O que te levou a casar com esse homem, teu esposo, pai da tua filha linda?
Não te iludas, inevitavelmente, daqui por dez anos, se optares por esse outro amor, estarás precisamente na mesma situação... e tu sabes disso. No começo, tudo é muito divertido.
O que penso é que por mais que te sintas dividida, pára. Pára e pensa. Quando tomares uma decisão, levanta-te e segue-a. Tudo o que tens é garantido, sabes com o que podes contar, se decidires ariscar numa nova vida, fá-lo.
O que não é justo é que se construa uma felicidade em cima da infelicidade de alguem. Se já não amas quem partilha a vida contigo, parte. Mas faz como deve ser feito. Tu sabes que se ele descobrir, por mais palavras que pronuncies, já nada terá efeito.
Eu sei que parece fácil. E sei tambem que não o é... por vezes, palavras que nos demonstram atenção, podem fazer-nos vacilar... mas um vacilo constante e repetido, sabes que é dificil de perdoar.
Olha ao teu redor.
Até que ponto te dispões a deixar tudo para trás? Até que ponto esse outro homem quer dividir uma vida contigo? Tu sabes, melhor que eu, que em dez anos de casamento não existe só sexo, só palavras bonitas. Tu sabes que é preciso bem mais.
Não tenhas medo. Decide e nunca olhes para trás, não fiques a pensar como poderia ter sido. Nunca o saberás. Que não te precipites, não escolhas mal. Quando temos o coração balançado, custa decidir. E as novidades chamam mais a atenção, despertam os sentidos, fazem-nos querer conhecer. O desconhecido provoca vontades em nós...
A balança tem dois pratos... que não te falte alento para continuares.
Verás que, ao decidires, o teu coração ficará mais leve. Não são as verdades crueis que nos martirizam, o que nos mata são as indecisões, não saber qual dos caminhos seguir.
A vida é feita de escolhas. Chegou o momento de fazeres as tuas... e eu aqui, do coração, só espero que escolhas o melhor... e que vivas da melhor maneira que puderes e souberes.
Acalma-te. Algumas histórias acabam bem, mesmo na vida real.
Um beijo de coragem
Raquel
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