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Tudo aquilo que sou...
Fotografia: eu mesma, num recanto secreto que me ensinaram algures ali no norte, muito norte
Os três dias foram....
Já foram.
E foram tanto que os queria de volta outra vez.
O melhor foram os pequenos momentos. Como sempre, não concordas? Aquele encosto suave, a água quente em banhos nocturnos. O riso fácil dos dias despreocupados. A familia junta em turismo rural.O regresso com o escaldão nos pés. O rabo dorido.
E mesmo assim, queria voltar.
Não posso dizer que só vi coisas novas, mas posso dizer que vi coisas novas e que voltei a lugares onde um dia não pensei regressar. E regressei acompanhada de um amor.
Na verdade, nestes ultimos dias, dou por mim muitas vezes a pensar nisso.
Quando chego a casa, depois do trabalho, já a noite vai alta. E arrasto no corpo o cansaço dos dias longos demais. E sempre a dizer-me:
- Vê lá se é hoje, Raquel. Devias escrever lá no teu cantinho. E as cartas? Já viste? Tantas para responder... se as pessoas escrevem é porque, de alguma forma, esperam resposta. E quem te procura no teu cantinho (os ainda e sempre resistentes) e já nada encontram de novo. Escreves quanto agora? Uma coisinha por mês? Porquê Raquel? Vê lá se é hoje... já é tempo. E se telefonasses de volta às chamadas perdidas? Vê lá se é hoje.
E não é. Porque nem sequer ligo o computador. Porque me sinto cansada. Porque parece que quero e preciso muito mais ler, do que escrever. Porque tenho muito a dizer e se calhar nem quero dizer nada.
Vejo uma amiga de partida. Vai embora. E vejo-lhe nos olhos a tristeza de quem não tem outra saída. E cá por dentro... só a querer ter muito pertinho de mim todos aqueles a quem quero bem, para que nunca me possa refugiar na falta de tempo que me faz sentir a viver num país distante sem pouco saber do que se passa perto de mim.
Já não me sinto eu, a maior parte do tempo. Por não ter tempo para quem gosto. Por não ir para as moitas, não sair à noite, não dançar, não ler, não escrever.
A fazer nada e a sentir que falta fazer tudo, que tudo está ainda por fazer.
E depois penso em mim, cá por dentro.
Vejo-me assim neste gostar doce e tranquilo. A pensar que o amor nos apazigua a alma, nos dá a tranquilidade que a loucura das noites não nos deixa saborear.
E se calhar é por isso. Porque a paz não precisa de palavras.
Porque a dor me obriga a escrever para me libertar de fantasmas que aprisionam a alma. E o amor liberta essa alma desses fantasmas.
Tenho dias em que me apetece desalmadamente escrever. E não posso. Depois posso e não me apetece.
Se calhar devia responder a todos vós que ainda resistem. E adio... se calhar egoista. Porque leio e tardiamente respondo. Pensas tu que é porque ignoro? Não é...
E um dia, dedicadamente respondo com o carinho grande que te tenho. Mas preciso daquela paciência. De horas tranquilas para escrever as coisas como devem ser escritas. E nem sempre me encontro nessa calma. Se calhar é-te confuso demais. Talvez penses que é uma forma de me desculpar. Não é. Para me desculpar, digo-te apenas: perdoa-me.
E sabendo que é dificil entender, não me leves a mal os silêncios. Tambem preciso deles para não sofrer tanto por ti. Porque só te conheço as palavras e não sei o teu rosto. E depois, nesses desabafos que tens , que te fogem por entre os dedos, acabo tambem por sofrer. Se calhar acontece-te o mesmo quando estou triste e me sento aqui e tu, desse lado, lês com o coração a apertar-se por dentro de ti.
É estranho, estas cumplicidades que se criam entre seres que não se conhecem.
Posso dizer-te que um dia o farei. Sempre. Sempre te responderei. Talvez um dia quando já nem esperes, vais ver. Um dia destes sento-me aqui a ouvir uma musica que gosto e respondo-te a todas as cartinhas em atraso.
Quero escrever apenas porque sim. Escrever. Apenas. Quando quero. E não sentir isto, esta coisa por dentro a dizer-me que devo escrever, como se me pressionasse. Porque assim não vale, não tem sabor.
E é como se, de repente, já não fizesse sentido....
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