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Tudo aquilo que sou...
Sim. Vamos falar de política.
Sempre que digo a alguem que não voto nem nunca votei e que pelo andar da carruagem dificilmente chegará esse dia, ficam sempre muito admirados e vêm com a conversa que ah e tal... é um dever e um direito.
Pois.
Os deveres que tenho, cumpro-os porque vejo resultados. E os direitos.... isso é que se for mesmo para rir.
É que eu vivo num país em que as pessoas precisam esperar três meses por uma consulta no médico de familia (quando o têm). E se precisam de um advogado, pois... direito a eles temos, mas há que provar primeiro que não podemos pagar um do nosso bolso. Que na melhor das hipóteses somos primeiro condenados e só depois temos um advogado.
Vivo num país em que as crianças vêm a sua escola a ser fechada e para prosseguirem os estudos caminham 10 km até à escola mais próxima, escola essa que no Inverno nem conseguem escrever com o frio que têm. E professores no desemprego. E se forem de autocarro, convem que se levantem da cama às 5 horas da madrugada....
No meu país há crianças que nunca viram o mar nem sabem o que é um baloiço...ou a sensação de andar num.
Aqui, os meninos querem aprender a ler e a escrever e o seu sonho é apenas trabalhar na agricultura, como o pai. Ou talvez serem mecânicos, bombeiros...
No meu país, as crianças depois da escola ajudam os pais, outros deambulam pela cidade a pedir esmola, viram caixotes do lixo à procura de comer, e brincam com um carrinho que alguem jogou fora. As roupas, antes de serem deles eram dos irmãos mais velhos e antes de serem destes eram de um menino de outro país qualquer.
No meu país as pessoas pagam impostos quando nem sequer têm estradas decentes por onde andar. E se andam a pé, nem passeios têm.
No meu país, onde ajudo a pagar os salários dos funcionários publicos, sou sempre mal recebida. Como se eles me estivessem a fazer um grande favor, levantam-se 45m depois de eu ter chegado (no entretanto estavam ao telefone) para dizerem com voz enfezada: digaaaaaa. E como se não bastasse todo o tempo de espera, depois de já estar com um nervoso miudinho pelo corpo ainda têm a lata de dizer que tem que ser na outra fila.
Porque estes que nos atendem, são doutro país...o país das reformas maravilha depois de uma vida a coçar a micose. No meu país, os que trabalham de sol a sol e os mais mal pagos, reformam-se para receber 100.
No meu país, já não há continuos...já não há escola primária.
No meu país, os adultos tentam viver (sobreviver) com 375 por mês.
No meu país há quem ajude os mais carenciados, esquecendo-se que quem é pobre, tem vergonha. Por isso se vêm as sras a irem lá, acabadas de sairem da cabeleireira com cabelo à caniche, buscar umas saquinhas de alimentos para depois as vermos a tomar o pequeno almoço na pastelaria e a entrar no táxi para irem para a sua mansão.
Não é triste ser-se pobre...triste é não se ter as mesmas oportunidades.
E quando me dizem que todos os cidadãos são iguais perante a lei, esqueceram-se de acrescentar: desde que tenham nome e dinheiro.
E quem se atreve a dizer-me que eu devo votar? Parece que não percebem que para mim, pouca diferença faz o nome ou o partido...queria sim era não sentir o que sinto quando olho para o meu país. E mais que isso: o vejo.
Porque no país dos outros, todos têm dinheiro para fazer consultas e operações em clinicas privadas.
Nesse país de estádios de futebol, de auto estradas com portagens a preços absurdos.
No país dos outros os meninos "bem" têm quem os leve e busque do colégio tão climatizado para depois os levarem ao Mac comer um big para deitar fora o carrinho que lhes saiu. Porque afinal não era aquilo que o menino queria. E já nem sequer come, ficou com birra, joga fora o hamburguer, as batatas e a bebida.
E já que o menino teve boas notas, porque não faz um cu quando sai da escola a não ser a play stacion e outras merdas, que tal levá-lo à disney? Porque neste país, o sonho destas crianças é tirar um curso qualquer para depois passar umas horas por dia na empresa do pai e passear com um carro de impacto pela cidade, à noite.
E como o menino come papinhas que a empregada lhe prepara cresceu, as roupas que já não servem, que tal dá-las ao menino do outro país? Mas convem que pessoal nas ruas dos dois paises vejam quem lhe deu a esmola...
Nesse país, paga imposto quem quer e quanto quer.
Nem ninguem sabe o que são estradas, já não há. O que existem são auto estradas....o salário permite. E estacionam o carro onde dá mais jeito.
Nesse país, não há filas. Há sempre quem os conheça onde quer que vão, alguem que os ajuda no que quer que precisem.
No país dos auxiliares de educação e da escola básica todos são funcionários publicos. Sejam jardineiros os directores....se alguem lhes pergunta a profissão, a resposta é sempre a mesma: funcionário publico.
No meu país isso quer dizer que não faz um ca****o... e que 375 deve ser quanto lhes custa um par de sapatos.
Mas nos dois mundos há algo terrivel ... Nada se previne...primeiro acontece.
Que importa que a criança tenha desaparecido? Há que esperar. Esperar que seja raptada violada e morta. E se com sorte se apanha o assassino fica meia duzia de anos na prisão. Enquanto que os outros, cá fora, lhes pagam a estadia.
Nenhum dos países tem sinalização sonora nos semáforos para os invisuais. E estes deparam-se com tudo pelo caminho, desde carros estacionados nos passeios, como crateras sem serem sinalizadas. E os deficientes motores nem um acesso têm onde quer que seja, adaptado a si. A diferença é que num dos paises as cadeiras são motorizadas.
Não tenho nada pessoal contra esses da politica que se lambuzam em hotéis de 5 estrelas ou numa esplanada qualquer a comer camarão enquanto o património (o deles) vai aumentando. Nada de pessoal contra, mas ainda enerva, ver um mundo de gente a defender este ou aquele quando todos sabem perfeitamente que tempo de antena é só mesmo antes de lá estar...depois, eles querem saber mesmo é deles.
É que a gente do meu país, não tem importancia nenhuma, mas em tempo de eleições são visitados por todos com as promessa de sempre, para fingir que tomam atenção às queixas de sempre. Em tempo de eleição o meu país existe, todos se lembram que ele é real...é que nós podemos ser insignificantes, mas o nosso voto é importantíssimo.
Mas mesmo não tendo nada contra, sem ofensa claro, quero mais é que se fodam....
Como confissão: ficam a saber porque raio odeio esta gentinha da politica. E tenho a minha opinião. Talvez mal fundamentada aos olhos de muitos...ah que tal mas nem que votes em branco!
Não, isso era dar importancia demais a quem não tem.
É obvio que ao comparar o mundo das crianças não lhes atribuo qualquer culpa, cada uma adapta-se ao meio em que cresce.
Quero lá saber de politca ou de politicos quando olho ao redor e vejo um país podre!
E assim ficam todos a saber o porquê de nem sequer gostar de tocar na palavra politica...mas hoje apeteceu-me confessar.
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